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O que são Pessoas Altamente Sensíveis (PAS)?

As pessoas altamente sensíveis têm uma capacidade sensorial muito apurada. Por outras palavras: têm uma recetividade aos estímulos que lhes chegam através dos sentidos muito maior do que a generalidade das pessoas. “Costumam apresentar uma sensibilidade acima da média a ruídos, cheiros, sabores, contacto com a pele e também aos estados emocionais dos outros”, diz o psicólogo clínico Henrique Pereira.

Isso não significa, esclarece o professor catedrático do Departamento de Psicologia e Educação, da Universidade da Beira Interior, que as PAS recebam mais informação do que as outras pessoas, mas antes que esta informação é menos filtrada. Por isso apercebem-se de todos os detalhes. “O sistema nervoso das PAS opera de forma distinta, o que as torna particularmente suscetíveis, tanto ao nível emocional, quanto sensorial.”

A alta sensibilidade (AS) é uma característica que se supõe ser herdada e que é partilhada por cerca de 15% a 20% da população.

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O que as distingue das outras pessoas? 

Há uma grande lista de características que distinguem as pessoas com alta sensibilidade das que não a têm. Algumas das mais importantes são a tendência para sentir ansiedade face a muitos estímulos; uma sensibilidade aumentada a certos tecidos ou materiais, a sons altos, a luzes brilhantes intensas e a certas comidas ou temperos.

São também pessoas com grande facilidade em intuir as emoções e humor dos outros, que pensam muito, têm grande estabilidade emocional, grande imaginação ou criatividade, grande sentido de responsabilidade pessoal e são muito metódicas. Além disso, evitam o conflito e a crítica, têm tendência para ser introvertidas e requerem atividades profundas e significativas, quer no trabalho, quer nas relações.

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Como saber se é uma PAS?

Henrique Pereira refere que uma resposta positiva à maioria das oito perguntas seguintes é indicativa de PAS:

  1. Sente-se facilmente sobrecarregado/a por estímulos intensos, como luzes brilhantes, cheiros fortes, tecidos grosseiros ou sirenes nas proximidades?
  2. Fica agitado/a quando tem muito para fazer em pouco tempo?
  3. Faz questão de evitar filmes e programas de TV violentos?
  4. Durante dias de atividade mais intensa, sente necessidade de se retirar para a cama ou para um quarto escuro ou algum outro lugar onde tenha privacidade e alívio da situação?
  5. É prioritário para si organizar a sua vida de modo a evitar situações que o/a perturbem ou sobrecarreguem?
  6. Dá conta ou aprecia cheiros ou aromas delicados ou finos, gostos, sons ou obras de arte?
  7. Tem uma vida interior rica e complexa?
  8. Quando era criança, os seus pais ou os seus professores viam-no/a como uma criança sensível ou tímida?
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E estes sinais são diferentes nas crianças? 

Sim, podem ser diferentes nas crianças. “Uma criança altamente sensível tem tendência a responder à hiperestimulação com desregulação e ansiedade.” Por causa da grande empatia que sentem, as crianças com alta sensibilidade reagem por vezes com timidez ou inibição ao ambiente à sua volta, o que “pode acontecer devido à necessidade de processarem as suas emoções cautelosamente.”

Como o sistema nervoso central das crianças é mais imaturo do que o dos adultos, as crianças altamente sensíveis, podem reagir intensamente, “por exemplo, com choro intenso ou birras, quando estão frustradas”, tendo ainda “dificuldades em dormir depois de uma atividade intensa, a sensação de serem incompreendidas, ou não ver o mundo como os outros veem”.

Assim, é importante que os pais tentem criar um ambiente que diminua o stress a que estão sujeitas quando têm muitos estímulos ou estímulos muito intensos.

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Que dificuldades podem estar associadas a esta característica? 

Como uma PAS absorve muito mais informação que as outras pessoas, sente-se facilmente sobrecarregada ou “esmagada pela realidade”. Em consequência, explica o psicólogo, costuma ser mais vulnerável ao stress, cansar-se mais depressa, ter mais dificuldades em estabelecer e manter os seus limites, além de ter uma  tolerância menor à dor, entre outras características.

Henrique Pereira refere que a nossa cultura tende a valorizar um tipo de personalidade extrovertido, forte e competitivo, pelo que uma pessoa com alta sensibilidade muitas vezes sente-se isolada ou não valorizada. Há uma pressão social para “não ser tão sensível”, o que pode levar a uma sensação de inadequação ou de inferioridade.

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Ser-se uma PAS está associado a maior risco de doença mental?

Sim. “Está demonstrado que uma PAS tem 25% mais de probabilidade de apresentar perturbações de ansiedade, depressão e burnout emocional do que uma pessoa não-PAS, resultantes da exposição prolongada ou excessiva à hiperestimulação”, esclarece Henrique Pereira.

“A alta sensibilidade é, em si mesma, uma característica neutra, mas o modo como é socialmente interpretada irá influenciar a autoimagem das pessoas altamente sensíveis.” Isso significa, na prática, que uma PAS precisa de aprender a proteger-se do stress desnecessário.

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E como podem as PAS proteger-se deste risco aumentado e de outras consequências negativas?

“Há um conjunto de estratégias para lidar com a hiperestimulação e minimizar o risco de doença mental”, explica o psicólogo clínico. Estas são algumas delas:

  • Abandonar a situação que a está a sobrecarregar;
  • Repetir uma frase ou mantra, para manter a calma;
  • Fechar os olhos para impedir parte da hiperestimulação;
  • Fazer exercícios de respiração e relaxamento;
  • Dormir uma sesta ou encontrar um local privado para descansar/libertar a tensão;
  • Escrever, desenhar, pintar, ou usar outra forma de expressão que ajude a processar o que sente;
  • Fazer psicoterapia.