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Em que situações é que o vídeo-árbitro pode intervir?

A partir da próxima época todos os jogos da Liga NOS vão contar com a presença do vídeo-árbitro nos estádios. A final da Taça de Portugal, entre Benfica e V. Guimarães, a disputar este domingo no Jamor, será o primeiro jogo oficial em Portugal em que se recorrerá, caso necessário, ao mesmo.

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Mas afinal, em que situações é que o vídeo-árbitro poderá intervir num jogo?

O vídeo-árbitro encontrar-se-á numa régie (caso o estádio não reúna as condições para acolher uma, o vídeo-árbitro intervirá a partir de um veículo estacionado no exterior) onde consegue ver, em tempo real, todas as câmaras — e respetivas repetições — da transmissão televisiva do jogo.

Sendo certo que a decisão final quanto à jogada é sempre do árbitro principal, o vídeo-árbitro poderá ser utilizado em três situações:

  1. Na validação (ou invalidação) de golos – quando estes são antecedidos de falta ou fora-de-jogo;
  2. Na mostragem de cartões vermelhos por agressões ou faltas duras que escaparam à visão (e admoestação) do árbitro principal ou dos assistentes no relvado;
  3. Nas situações em que há troca de identidade de um jogador por parte do árbitro, ou seja, caso o árbitro mostre o cartão a um jogador por confundi-lo com outro, o cartão será retirado e mostrado a quem cometeu, de facto, a infração.

O vídeo-árbitro não pode ser utilizado em situações em que o árbitro principal tem dúvidas quanto à mostragem de um segundo cartão amarelo (e consequente vermelho e expulsão) a um jogador.

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Como é feita a consulta ao vídeo-árbitro pelo árbitro principal?

Ao contrário do que acontece em outras modalidades, coletivas ou individuais, treinadores e jogadores não podem solicitar o recurso ao vídeo-árbitro para avaliar um determinado lance.

O recurso ao vídeo-árbitro funciona da seguinte forma:

  1. Quando o árbitro principal tem dúvidas, pode, através do intercomunicador, interromper o jogo e pedir uma segunda avaliação da jogada ao vídeo-árbitro. Em alguns casos, e quando o jogo não é interrompido pelo árbitro principal, poderá ser o vídeo-árbitro a alertá-lo quanto a uma irregularidade.
  2. Depois de interrompido o jogo – o árbitro fará uma sinalética com as mãos em forma de monitor, dando conta que solicitou ajuda –, o vídeo-árbitro tem acesso às repetições e comunica ao árbitro principal a existência ou não de uma irregularidade.
  3. Caso exista uma irregularidade, o árbitro pode agir no imediato (validando ou anulando um golo, por exemplo) ou recorrer a um monitor colocado junto ao quarto árbitro, revendo ele mesmo a repetição.

Durante um jogo, o árbitro principal poderá recorrer ao vídeo-árbitro quantas vezes entender. Todas as pausas no jogo serão, como habitualmente, compensadas com tempo extra no final de cada parte.

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O vídeo-árbitro já foi testado em Portugal?

Sim, o vídeo-árbitro foi testado ao longo desta época em Portugal, em treinos (Jorge Sousa, Artur Soares Dias, Hugo Miguel, João Pinheiro, Tiago Martins, Fábio Veríssimo, Tiago Antunes, Bruno Paixão e Hélder Malheiro experimentaram o funcionamento do vídeo-árbitro na Cidade do Futebol, no campo ou de fora, como árbitros de suporte do principal) e jogos.

A final da Taça da Liga, entre SC Braga e Moreirense, por exemplo, foi a primeira final de uma prova em Portugal a ter a presença do vídeo-árbitro – ainda que meramente em teste (ou “offline”, como é descrito o teste pela Federação Portuguesa de Futebol) e não podendo o árbitro principal recorrer a este durante o jogo.

Uma curiosidade: a Taça de Portugal, este domingo, será disputada entre Benfica e V. Guimarães. E a presença do vídeo-árbitro não é propriamente uma novidade para os clubes envolvidos. Foram nove os jogos de teste esta temporada, oito tendo lisboetas ou vimaranenses como competidores.

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Quais foram os primeiros jogos oficiais em que o vídeo-árbitro foi utilizado?

8 de abril de 2017. O jogo era a contar para a A-League , a liga australiana de futebol. De um lado os Wellington Phoenix, do outro o Sydney FC. O resultado seguia empatado a zero. Aos 70’, e depois de um canto, os jogadores do Sydney FC pediram vigorosamente penálti, depois de se aperceberem de uma mão na bola dentro da área.

O árbitro Shaun Evans deixou o jogo seguir, os Wellington Phoenix sairiam em contra-ataque no imediato, mas este não resultaria em nada por ter sido assinalado fora-de-jogo. Depois, e quando o jogo parou, Evans foi alertado da irregularidade pelo vídeo-árbitro Jarred Gillett (que dispunha de 12 ângulos diferentes para avaliar o jogo) e solicitou a repetição do lance. Ao fim de alguns minutos, assinalaria penálti por mão na bola de Marco Rossi.

Os jogadores (e o próprio infrator, Rossi) dos Wellington Phoenix não protestaram, pois a mão foi evidente e a repetição mostrada no estádio Westpac, em Wellington, perante mais de sei mil espectadores. Bobô converteria o penálti, os Wellington Phoenix empatariam (1-1) o jogo aos 92’.

Este foi um dos primeiros jogos oficiais em que o vídeo-árbitro foi utilizado.

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O vídeo-árbitro é útil? O exemplo do Cambuur (a equipa mais “sortuda” do Mundo)

Esta é a história do SC Cambuur, um modesto clube holandês criado em 1964 que andou meia dúzia de temporadas na Eredivisie, principal escalão do país. Por lá passaram Reza Ghoochannejhad, criativo iraniano conhecido por razões óbvias apenas por Gucci; Jaap Stam ou Michael Mols. E… pouco mais: o Cambuur, hoje na 2.ª Divisão, é mais ou menos isto.

Mas não é que este modesto conjunto da cidade de Leeuwarden conseguiu ser um dos destaques do Football Talks, que decorreu em março na Cidade do Futebol?

A explicação é simples: se existe equipa que beneficiou do vídeo-árbitro experimental na Holanda foi o Cambuur. Num jogo para os quartos-de-final da Taça em Utrecht, o juiz do encontro voltou atrás com a decisão de assinalar uma grande penalidade a favor dos visitados depois de se ter concluído que, aquilo que parecia uma mão de um jogador do Cambuur na área, foi na verdade um pontapé na cabeça de um adversário de um jogador do Utrecht (o encontro acabou com uma vitória dos visitantes no prolongamento).

Depois, na partida da meia-final frente ao AZ, o árbitro reviu o lance que daria o triunfo à formação de Alkmaar por 1-0 no período de compensação, mas a verdade é que o golo foi precedido de uma falta sobre o guarda-redes. Não adiantou de muito ao Cambuur, atentando nos resultados da equipa. Até nesse jogo com o AZ, perderia nas grandes penalidades. Mas mostrou como pode ser importante a introdução deste novo auxílio aos árbitros a bem da verdade desportiva.

David Elleray, atual diretor técnico do International Football Association Board e antigo árbitro internacional da Premier League, marcou presença no Football Talks para detalhar os últimos avanços a propósito da figura do vídeo-árbitro no futebol. Acabou como começou: “O importante é termos a mínima interferência com o máximo benefício”.

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Taça de Portugal. O que pensam Rui Vitória e Pedro Martins do vídeo-árbitro no Jamor?

Rui Vitória teceu um particular reparo, na última quarta-feira, à utilização do vídeo-árbitro na final da Taça de Portugal, agendada para domingo, entre Benfica e V. Guimarães, deixando entender que a Federação Portuguesa de Futebol poderá ter-se precipitado ao oficializar a utilização do meio auxiliar tecnológico dos juízes para uma partida deste cariz.

Argumentando que a introdução do vídeo-árbitro, de forma oficial e definitiva, está marcada para o arranque da próxima temporada, Vitória questiona a utilização do mesmo, em formato “online”, na final do Jamor. “Este não seria, se calhar, o momento adequado, porque é uma final e um jogo importante. De certa forma, corre-se alguns riscos se alguma coisa não correr bem”, admitiu, em declarações à BenficaTV.

Embora se considere um “defensor de tudo o que são inovações para que o jogo possa ser mais justo e mais correto”, o treinador do Benfica deixa um apelo: “É fundamental que toda a gente tenha a noção de que há uma fase de adaptação e que irá haver alguns erros. Todos temos de compreender esta nova fase. Faço um apelo a que, se não houver atenção com a nossa cultura desportiva, tudo isto pode não surtir efeito”.

Quem reagiu prontamente à opinião de Vitória foi o FC Porto. Através da sua newsletter oficial, Dragões Diário, os portistas sugeriram, ironicamente, que se a utilização do vídeo-árbitro tivesse começado antes da final, esta seria disputada entre V. Guimarães… e Estoril — que teria eliminado o Benfica da prova.

“Fizemos algum trabalho de pesquisa e descobrimos o exato momento em que Rui Vitória decidiu que a final da Taça de Portugal não é o momento certo para estrear o vídeo-árbitro, o que pode surpreender os mais desatentos”, começa por ler-se, relembrando depois a Dragões Diário o polémico golo de Mitroglou frente ao Estoril: “Percebemos o treinador do Benfica e em parte até concordamos: as meias-finais teriam sido o patamar mais adequado para começar a aplicar as ajudas tecnológicas e agora o Estoril iria defrontar o Vitória [de Guimarães] no Jamor”.

Quanto ao treinador do V. de Guimarães, em abril Pedro Martins consideraria benéfico o recurso ao vídeo-árbitro na final da Taça de Portugal. “Tudo o que seja para clarificar ainda mais o futebol acho extraordinário, desde que não se perca a essência do jogo e não haja grandes paragens. Tudo o que seja para ajudar os árbitros em momentos que até possam colocar em causa a dignidade do árbitro, é uma ferramenta extraordinária”, afirmou.

O Benfica-Vitória de Guimarães arranca às 17h15 de domingo, com arbitragem do lisboeta Hugo Miguel. Artur Soares Dias e Jorge Sousa serão os vídeo-árbitros.