Somos constantemente inundados com a ideia de que estamos cheios de toxinas e que as nossas doenças derivam daí. Talvez por isso, qualquer promessa de detox que nos limpe o corpo, a alma, os rins e o fígado parece muito bem vinda. Neste caso específico, a palavra detox até nem é usada, mas a ideia está lá: um plano para um número de dias fixo (cinco dias), ingredientes naturais e a promessa de limpeza do organismo. Aqui, a limpeza prometida é geral: limpa o fígado, os rins e ainda ajuda a emagrecer.
A receita sugerida é muito precisa, nos ingredientes e na forma de preparação: espremer um limão e picar 60 gramas de folhas de salsa num recipiente; pôr 300 mililitros de água por cima, mexer e beber em jejum durante cinco dias; parar durante 10 dias e repetir tudo outra vez. “Mas, se quiser perder ainda mais peso, fique repetindo as etapas descritas até que esteja satisfeito com o seu peso corporal”, escreve o site.
Se o objetivo é limpar o fígado e os rins, fique a saber que estes órgãos são, eles próprios, responsáveis pela limpeza e desintoxicação do nosso organismo. Mas não são como uma esponja que acumula as toxinas e que precisa de ser limpa de vez em quando. O fígado é, na verdade, mais parecido com uma fábrica que transforma as toxinas em substâncias que podem ser eliminadas pela bílis no estômago. E os rins são como um filtro que limpa o sangue e elimina as toxinas e outros produtos rejeitados na urina.
Beber mais água (ou outros líquidos) pode aumentar esta ação dos rins e até do fígado, mas isso não é necessariamente bom, se for em excesso. Os rins podem estar a eliminar sais minerais necessários e o fígado a desperdiçar outros componentes fundamentais ao funcionamento do organismo. Além disso, o peso que pode ser perdido com o aumento do consumo de água não significa necessariamente perda de gordura, mas de músculos (proteína) e hidratos de carbono (açúcares essenciais ao funcionamento do cérebro, por exemplo, que podem ser mais eliminados através da urina). Mas, neste caso, estamos a falar apenas de um copo de água em jejum, logo o impacto não será tão grande como o de uma dieta só à base de líquidos.
Este “remédio caseiro” promete também reduzir o inchaço. Nas dietas à base de líquidos, isto pode de facto acontecer, porque a ingestão de menos sólidos implica que o intestino tenha menos trabalho, logo que produza menos gases. Mas não é um copo de água, acompanhado pela ingestão normal dos alimentos, que terá um impacto assim tão evidente.
Conclusão
“O tratamento, além de simples, não tem contra-indicações”, afirma o site. E com razão. Não parece haver qualquer problema de se beber um copo de água em jejum, ainda que aromatizado (pelo menos com salsa e limão). Aliás, a Direção-Geral de Saúde recomenda mesmo a ingestão de um litro e meio a dois litros de água por dia, de forma regular e em pequenas quantidades.
Mas mesmo sem efeitos adversos, este “tratamento” também não tem, de facto, poder para cumprir aquilo que promete. O fígado e os rins não ficam “limpos”, porque não são algo que se possa limpar, as toxinas não são eliminadas e o que acabamos por mandar fora são nutrientes essenciais ao funcionamento do organismo.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
Errado
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associadas aos reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.