A publicação na rede social Facebook junta duas informações: a notícia de que “um cigano é cabeça de lista do Chega em Porches”, publicada no jornal Postal, e a frase “Associações ciganas reconhecem que o CHEGA não é racista e que há um problema de subsidiodependência na comunidade”.

Esta publicação foi partilhada pelo próprio líder do Chega, André Ventura, que neste momento enfrenta mesmo processos judiciais por racismo e por “discriminação por assédio em razão da origem étnica” — este, precisamente na sequência de uma publicação que fez sobre a comunidade cigana, onde dizia que 90% daquela comunidade vivia de “outras coisas” que não o trabalho.

Nessa publicação, Ventura destaca, não a candidatura, mas o facto de “as associações ciganas” reconhecerem “que o problema da subsidiodependência é real”.

No entanto, em parte alguma aparece essa informação. Se olharmos para a notícia do jornal Postal do Algarve, de 19 de março, o líder do Chega no Algarve, João Graça, avalia a escolha de Pedro Silva, cigano, para a presidência da freguesia de Porches, concelho de Lagoa, como uma prova “que o Chega não é um partido racista ou xenófobo”. “O que não aceitamos é a existência de pessoas que vivem à custa dos subsídios do Estado sem trabalhar, independentemente da sua origem étnica”, disse. Afirmação esta que não está atribuída a qualquer associação.

Dois dias depois, porém, João Graça acabou por informar que Pedro Silva tinha declinado o convite. “Pedro Silva, que tinha aceitado o convite feito pela concelhia de Lagoa, alegou razões familiares e anunciou a desistência na tarde deste sábado”, disse João Graça.

Várias associações de ciganos repudiaram de imediato esta publicação. No perfil de Facebook da Associação Cigana de Coimbra, um dia após Ventura publicar a tal informação, um comunicado conjunto de várias associações (Letras Nómadas Aidc, Ribaltambição, Sílaba Dinâmica, Costume Colossal, Sendas e Pontes, Raizes Tolerantes) classificava-a mesmo como uma “calúnia”.

“Jamais uma associação cigana iria reconhecer tais afirmações, são mentirosas! A estratégia passa por inflamar e promover na sociedade o ódio contra os portugueses ciganos, mas esse tipo de mentiras já vêm sendo hábito, pois na última campanha ás eleições presidenciais “arranjou” ciganos fake às pressas para justificar que não são um partido contra ciganos”, acusam.

Conclusão:

Não é verdade que as associações ciganas tenham reconhecido que o Chega não é racista, muito menos que tenham feito qualquer afirmação em concordância com o partido de que há um problema de subsidiodependência na comunidade.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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