A malária é uma doença causada pelo parasita Plasdomium, transmitido aos humanos através da picada do mosquito infetado do género Anopheles, explica a Organização Mundial de Saúde. Apesar de a doença existir há milhares de anos, investigações do final do século XIX foram fundamentais para determinar a sua origem e forma de transmissão.
Mas, de acordo com um post de Facebook, que gerou mais de 1,5 mil partilhas, há pouco mais de um século (em 1900), apenas dois médicos (Walter Reed e George Goethals) acreditavam que a doença era causada por um parasita transmitido aos seres humanos por mosquitos, contrariando o resto da comunidade científica que na época terá, alegadamente, considerado a sujidade a principal causa da doença.
A história da malária e a investigação científica indicam o contrário. Há vários documentos que demonstram que especialistas não só descobriram que a malária era causada por um parasita como foram capazes de relacionar a transmissão da doença com as picadas dos mosquitos antes do século XX. Os mesmos documentos demonstram que em 1900 já existia consenso em relação a esta matéria.
Além disso, Walter Reed e a George Goethals nunca estiveram envolvidos no estudo da malária, mostra o site Britannica. Segundo a enciclopédia inglesa, Reed era um patologista e bacteriologista do exército americano que provou que a febre amarela era transmitida por mosquitos, depois de a tese em torno da transmissão da malária estar já fechada. Já Goethals era um oficial do exército americano, que ajudou a construir o canal do Panamá.
A descoberta do parasita e a relação com os mosquitos
Em 1880, Charles Louis Alphonse Laveran, médico do exército francês, figura fundamental no estudo da malária, suspeitou de que a doença tivesse origem num parasita e não em miasmas (detritos orgânicos em decomposição, que antes se consideravam causadores de doenças). “Laveran sabia, por artigos científicos contemporâneos, que muitas doenças anteriormente atribuídas a miasmas, ou a vapores malignos, eram de facto causadas por micróbios”, pode ler-se no livro “Saving Lives, Buying Time: Economics of Malaria Drugs in Age of Resistance“. Em outubro daquele ano comprovou a sua teoria: descobriu o parasita da malária, enquanto estudava amostras de sangue de pacientes.
“As suas primeiras afirmações sobre os parasitas da malária foram recebidas com muito ceticismo, mas gradualmente foram sendo publicadas investigações por cientistas de todos os países que confirmavam.” Em 1889, a Academia de Ciências distinguia-o pela sua descoberta, que desde então “não foi contestada, sobre os parasitas da malária”, pode ler-se no site do Prémio Nobel, que lhe atribuiu o galardão em 1907.
Ainda que suspeitasse, nunca chegou a estabelecer a ligação entre a doença e os mosquitos. Foi Ronald Ross o médico inglês que, em 1894, começou a reunir provas sobre o ciclo de vida da malária nestes animais, tendo recebido o Prémio Nobel da Medicina por esse motivo, em 1902.
“Em 1894, decidiu fazer uma investigação experimental na Índia sobre a hipótese de Laveran e Manson de que os mosquitos estão ligados à propagação da doença”, lê-se na sua biografia. A descoberta foi realizada dois anos e meio depois de ter iniciado as investigações: “Ross conseguiu demonstrar o ciclo de vida dos parasitas da malária em mosquitos, estabelecendo assim a hipótese de [Charles] Laveran e [Patrick] Manson.”
É um grupo de investigadores italianos (entre os quais, Amico Bignami, Giovanni Battista Grassi ou Giuseppe Bastianelli) que, em 1898, faz a descoberta definitiva, conseguindo comprovar que o parasita era transmitido aos humanos por via deste inseto, diz a revista científica Parasites & Vectors.
Em 1900, Patrick Manson, médico escocês fundamental no estudo dos parasitas e fundador da Medicina Tropical, publicava o artigo científico “Prova Experimental Sobre a Teoria Mosquito-Malária“, provando que por esta altura as descobertas sobre a malária já estavam bem difundidas e eram aceites entre a comunidade científica: “A teoria de que o parasita da malária é transmitido de homem para homem por uma espécie particular de mosquito é agora aceite por todos os biólogos e médicos que deram atenção adequada ao assunto”, pode ler-se.
Conclusão
É falsa a afirmação de que em 1900 só dois especialistas acreditavam que a malária era um parasita transmitido por mosquitos — e que 99% da comunidade científica atribuía à sujidade a causa da doença. Além de Walter Reed e de George Goethals não terem estado ligados à investigação da malária, a investigação científica demonstra que as principais descobertas em relação a esta patologia ocorreram no final do século XIX. Em 1880 descobriu-se que a malária era um parasita, em 1897 estabeleceu-se a ligação da doença com mosquitos e em 1989 um grupo de investigadores italianos mostrou, definitivamente, que a malária era transmitida aos seres humanos por via da picada destes insetos infetados pela doença.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.