Circula no Facebook uma tabela que procura fazer uma estimativa da receita acumulada pelo PCP pela venda de bilhetes para a Festa do Avante!. De acordo com a publicação (que inclui um print screen da notícia da Agência Lusa publicada no Observador, dando conta das declarações de Jerónimo de Sousa sobre a “esperança” e “confiança” que o evento pretende dar aos portugueses), cada bilhete para o evento custou 35 euros. O que, com a presença de 40 mil visitantes, resultaria num lucro de 1,4 milhões de euros, já que a Festa do Avante!, alegadamente, não está sujeita a impostos. Será mesmo assim?

Este ano, a Entrada Permanente (EP), isto é, o bilhete que dá acesso aos três dias do evento (sexta, sábado e domingo) custava 26 euros. Este valor era válido até 3 de setembro, quinta-feira, véspera do arranque do Avante! na Quinta da Atalaia, no Seixal. A partir daquela sexta-feira, e nos dois dias seguintes, a EP passou a custar 38 euros. Já os bilhetes diários, que só podiam ser adquiridos nas bilheteiras do evento, custaram 28, 33 e 21 euros, para sexta, sábado e domingo, respetivamente. As crianças até aos 14 anos não pagavam EP, desde que fossem acompanhadas por um adulto portador de EP.

Isto significa que o valor apresentado na publicação está errado, não correspondendo a qualquer dos preços da EP (antes e depois do início do festival) ou dos bilhetes diários. E como este valor, que serve de referência para a previsão de lucro na tabela publicada (1,4 milhões de euros) não está certo, o valor final está também, obviamente, incorreto.

A tabela é mostrada por debaixo de um print screen de uma notícia publicada no Observador. Esta publicação, de 18 de agosto, é apenas uma das muitas formas em que estas contas foram apresentadas

Já quanto à informação de que a Festa do Avante! não paga impostos, ela é verdadeira.

A Festa do Avante! é um evento de angariação de fundos de um partido político, o PCP, e, de acordo com o Artigo 10.º da Lei n.º 19/2003, sobre o financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais, os partidos estão isentos de vários tipos de impostos. Entre eles contam-se, por exemplo, a “contribuição autárquica sobre o valor tributável dos imóveis ou de parte de imóveis de sua propriedade e destinados à sua atividade” (alínea d); ou o “imposto sobre o valor acrescentado nas transmissões de bens e serviços em iniciativas especiais de angariação de fundos em seu proveito exclusivo, desde que esta isenção não provoque distorções de concorrência” (alínea h).

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Isto significa que, ao contrário dos bilhetes para outros eventos que incluem espetáculos musicais, os do Avante! não estão sujeitos ao IVA de 6%. Além disso, o evento não paga imposto sobre os lucros, ao contrário de um festival organizado por privados. O PCP não tem também de pagar IMI pela Quinta da Atalaia, já que o espaço, enquanto imóvel destinado à atividade política do partido, está, segundo a Lei n.º 19/2003, isento da “contribuição autárquica sobre o valor tributável dos imóveis”.

Apesar desta exceção, aplicável a todos os partidos em Portugal, todos os materiais ou recursos comprados ou contratados para a Festa do Avante! pagam impostos.

Quanto ao número de bilhetes comprados para a edição deste ano, o PCP ainda não divulgou números, dizendo que iria continuar a vender EPs, apesar dos limites impostos pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

A DGS divulgou, nos primeiros dias de setembro, o parecer que definia as medidas que a organização teria de tomar para que o evento se realizasse com segurança numa situação de pandemia. Estas incluíam salas de isolamento, uma lotação máxima de 16563 pessoas em simultâneo no recinto, lugares sentados e o uso obrigatório de máscara. Foi ainda desaconselhado o consumo de álcool, cuja venda esteve proibida a partir das 20h. Contactado pelo Público, o PCP admitiu a possibilidade de o número de entradas vendidas ter sido superior ao número estabelecido, garantindo, no entanto, que iria respeitar as regras.

Conclusão

Não é verdade que o preço dos bilhetes para a edição de 2020 da Festa do Avante custasse 35 euros, o que significa que as contas apresentadas na tabela não estão corretas. É por isso também falso que a Festa tenha tido um lucro de 1,4 milhões de euros, já que as contas têm por base um preço de bilhete que não corresponde à realidade. É, no entanto, verdade que o Avante!, um evento de angariação de fundos para o PCP, não paga impostos e que o preço das EPs não inclui o IVA de 6%, aplicado aos bilhetes para espetáculos musicais. Essa isenção é prevista por lei e aplica-se a todos os partidos políticos. Misturando informação falsa com informação verdadeira, a informação deste post é, assim, enganadora e parcialmente falsa.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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