Os solteiros à procura do amor e a cadeia de supermercados Mercadona tornaram-se o par mais improvável e viral das redes sociais nos últimos dias. Uma nova tendência, que nasceu no TikTok, incentiva aqueles que estão descomprometidos e à procura de uma relação (ou de algo mais casual) a irem a uma loja do Mercadona entre as 19h00 e as 20h00. A janela temporal é apelidada de “hora do flirt” e está a ser apresentada como o momento ideal para encontrar uma ligação romântica, mediante um sistema de código que inclui um ananás de pernas para o ar no carrinho de compras.

No Facebook, há mesmo quem dê conta de que o fenómeno já se faz sentir em Portugal, partilhando a fotografia de uma enchente de pessoas numa das lojas da cadeia espanhola em Portugal, supostamente na “hora do flirt”: “19h17”. Na imagem veem-se dezenas de pessoas à porta de um supermercado, identificado como Mercadona de Canidelo, em Vila Nova de Gaia. Mas será verdade?

A imagem é real, mas não é atual e está a ser partilhada de forma descontextualizada com a intenção de sugerir que a multidão junto da superfície comercial pretende participar num dos desafios mais recentes no mundo do ‘dating’.

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Na verdade, a fotografia foi captada há cinco anos, em julho de 2019, enquanto várias dezenas de pessoas esperavam pela abertura da primeira loja Mercadona em Portugal, cerca de meia hora antes da inauguração, em Canidelo.

Foi publicada pelo jornal ECO e é da autoria do fotojornalista Hugo Amaral, que, em declarações ao Observador, lamenta a “má utilização” dada à imagem que captou há cinco anos numa reportagem que fez com Mariana de Araújo Barbosa. O profissional considera “grave” que se pegue numa “fotografia que foi tirada num determinado contexto” para disseminar informação falsa, mesmo que numa primeira intenção tenha havido “propósitos humorísticos”. “Existem pessoas infoexcluídas que não têm capacidade de apreender o contexto da partilha”, refere, notando a “leviandade” com que as fotografias publicadas em meio digital são replicadas sem estarem acompanhadas dos devidos créditos, data e contexto.

Há uma nova forma de “engate” em Espanha?

Mas em que consiste este novo fenómeno que tem a Mercadona como palco? Na prática, quando os participantes chegam ao supermercado colocam um ananás de cabeça para baixo no carrinho de compras para demonstrar que estão a participar na “trend”. De seguida, e sempre que for avistada uma pessoa atraente com a fruta posicionada da mesma forma, devem bater com os carrinhos um no outro com a intenção de fazer “match” — o mesmo resultado que seria obtido através de uma dating app, como o Tinder ou o Bumble, mas cara a cara e entre mercearias. Existem códigos adicionais que ditam as intenções de cada um: chocolates podem ser sinal da procura de algo mais casual enquanto legumes no carrinho indicam a pretensão de um compromisso sério.

A moda começou em Espanha, mas depressa alastrou a Portugal, ainda que para já com mais entusiasmo nas redes sociais do que propriamente nos corredores do supermercado. A responsável pelo fenómeno viral é a atriz e comediante espanhola Vivy Lin, que publicou um vídeo no TikTok quando passeava com a amiga no Mercadona durante a hora dos referidos encontros. Uma semana depois o vídeo viralizou e tornou-se num fenómeno além fronteiras.

Desde 2019, já foram abertas 50 lojas Mercadona em território nacional. A empresa conta já com mais de 5.000 colaboradores e as novas lojas continuam a revelar a aposta feita pela cadeia espanhola em Portugal.

Conclusão

É falso que uma imagem que mostra uma multidão à porta da Mercadona de Canidelo esteja relacionada com moda viral que incentiva solteiros a procurarem uma relação pelos corredores do supermercado. A fotografia foi captada e publicada pelo jornal ECO em 2019, quando a primeira loja da cadeia espanhola em Portugal foi inaugurada, com toda a pompa e circunstância, em Canidelo, Vila Nova de Gaia.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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