“É impressionante essa última fotografia do Assange. Esse tratamento desumano é a justiça do chamado mundo democrático.” É assim que o autor de uma publicação de Facebook, partilhada no dia 1 de abril deste ano, descreve a alegada trágica situação de saúde em que se encontra Julian Assange, fundador da WikiLeaks. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.
Para começar, há um dado que está certo no contexto que a publicação deixa transparecer: Assange está detido na prisão de Belmarsh, em Londres, depois de ter estado vários anos exilado na embaixada do Equador na mesma cidade. O australiano foi acusado de vários crimes, entre os quais espionagem e divulgação de documentos secretos do governo norte-americano sobre registos militares confidenciais. Julian Assange está, neste momento, à espera de uma decisão à contestação que a sua defesa apresentou relativamente à decisão do Governo britânico de concretizar a sua extradição para os Estados Unidos.
Após uma pesquisa por notícias ou informações oficiais, a verdade é que não é possível encontrar nenhum resultado que corrobore o que a publicação divulga. Depois, analisando a fotografia em causa, é possível identificar sinais que permitem chegar à origem do conteúdo e que constatar que se trata, na verdade, de uma imagem gerada através de Inteligência Artificial. Nomeadamemte, a marca de água que atravessa a fotografia e em que se lê a descrição “Fotografia propriedade de ‘E’.”
Essa referência remete para uma conta no Twitter onde a imagem em análise pode ser encontrada (a agência AFP fez essa mesma análise). A imagem foi publicada nesta rede social a 30 de março, numa conta que habitualmente partilha conteúdo gerado por Inteligência Artificial. O autor confirmou ser o autor desta fotografia à AFP. Foi usado um programa chamado MidJourney. O autor também confirmou, através da plataforma Telegram, ter sido ele a gerar esta imagem, depois de ter sido contactado por vários jornalistas de jornais internacionais.
Nesta plataforma, o autor diz ter “a caixa de mensagens cheia de jornalistas a fazer perguntas sobre a foto de Assenge” e questionando o utilizador sobre se é ele o autor da imagem. “A resposta é sim”, diz taxativamente. “Procurei tornar o sofrimento dele real, e tive sucesso. A imagem pretende evocar uma resposta visceral nos destinatários que os coloque perante uma perplexidade moral”, diz ainda o autor da fotografia.
Conclusão
A imagem que mostra Julian Assange supostamente fragilizado na prisão foi criada por Inteligência Artificial. A publicação já foi desmentida por outros fact-checkers internacionais. Numa análise mais detalhada, descobre-se que o autor desta fotografia tem conta no Twitter e é conhecido por já ter gerado outras imagens semelhantes. O próprio assume ter criado a imagem do fundador da WikiLeaks que se tornou viral.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.