Dezenas de populares reunidos numa praia observam uma criatura marinha de grandes dimensões. À primeira vista poderia não passar de um cenário comum, com várias fotografias a ilustrar o momento em que curiosos se juntam para ver um “polvo” ou uma “lula gigante” que deu à costa nas praias da ilha de Lombok, na Indonésia.
No Facebook, onde as imagens do animal se multiplicam, inclusive de vários ângulos, há quem apelide o avistamento de “impressionante”. Mas um olhar mais atento à imagem pode denunciar a verdadeira origem do conteúdo que se tornou viral no início de junho.
A imagem não é real. É, sim, gerada por Inteligência Artificial (IA), facto que pode, através de uma análise mais pormenorizada, ser confirmado pelos vários defeitos que os seres humanos criados apresentam. Alguns dos turistas representados têm membros a mais, outros não têm tronco ou cabeça. Este tipo de inconsistências corporais — com destaque para dedos das mãos a mais ou a menos — são a prova dos nove a tirar sempre que uma imagem parece demasiado boa ou até inacreditável para ser verdadeira.
Se mesmo assim a dúvida persistir, existem ferramentas online, como o “AI or Not” que permitem detetar a probabilidade de uma imagem ter sido gerada através de IA. Neste caso, os resultados para os vários ângulos da criatura marinha partilhados nas redes sociais são variáveis, acusando sempre algum tipo de intervenção digital.
Há, no entanto, uma prova direta de que se trata de uma imagem criada digitalmente. A pesquisa inversa da mesma, através do Google, permite chegar à origem da mesma, como fez a plataforma de fact-checking norte-americana Snopes.
A imagem faz parte de uma compilação de criações de polvos e lulas gigantes através de IA. A página de Instagram “best_of_ai_”, que conta com mais de 170 mil seguidores, partilhou este conteúdo no dia 25 de abril e não tardou a que fosse difundido falsamente enquanto conteúdo real. De notar que os autores da página se assumem como “criadores de conteúdos digitais” e de “IA Story Telling”.
De facto, a legenda para a montagem das fotografias intitula-se “O luto dos titãs abissais”. “Os turistas fugiram, os seus chapéus de sol foram abandonados. Os nadadores-salvadores apitavam, mas os seus avisos eram inúteis. O polvo puxou mais cadáveres — gaivotas, caranguejos e madeira à deriva. As praias tornaram-se um cemitério”, descreve-se, remetendo para o conteúdo ficcional já assinalado.
De acordo com a National Geographic, a maior espécie do molusco é o polvo gigante do Pacífico, uma criatura camaleónica que pode mudar a sua aparência para imitar rochas e corais. A criatura pode ter entre 3 a 5 metros e a revista científica faz mesmo uma comparação direta entre o animal e um homem com 1,80 metros de altura, mostrando que não se trata de uma diferença avassaladora em termos de dimensão como aquela que é retratada pela criação digital.
Conclusão
Em suma, as imagens a circular no Facebook que mostram um polvo gigante que teria dado à costa na Indonésia não correspondem a um cenário real, mas sim a uma criação digital gerada através de Inteligência Artificial. O conteúdo original, partilhado no Instagram, está assinalado enquanto fantasioso e artístico.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.