No dia 18 de junho, um carro em que seguia o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, atropelou mortalmente um homem que fazia trabalhos de manutenção da A6. O ministério emitiu uma nota a dar conta do sucedido logo no dia do acidente e, no dia seguinte, acrescentou detalhes, mas nunca revelou a velocidade a que seguia o carro de Cabrita. O caso está a ser investigado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Évora e também pelo INEM (sobre a suposta demora da chegada do socorro ao local) e ainda não há conclusões. Não existiam câmaras de vigilância naquele troço da estrada e, ao Observador, a BMW detalha que não é certo que o carro tenha o registo da velocidade a que o veículo seguia na altura do embate — de resto, estão em causa dados a que só a BMW Group conseguirá ter acesso, caso existam. Mas isso não impediu que várias versões (não confirmadas) sobre o acidente começassem a circular.

A velocidade a que seguia o carro é uma informação que a oposição já aponta como central neste caso e esse ponto tem sido alvo de especulação nos últimos dias, tanto que também no Facebook surgiram publicações como a que aqui é analisada. Uma publicação em que se avança, sem apontar qualquer fonte, que o carro oficial do ministro Eduardo Cabrita, um BMW série 7, com matrícula de 2011, “ia a uma velocidade de 230 km por hora” quando atingiu o funcionário da Arquijardim. Este mesmo carro pode atingir, em estrada, até 245 km/h, segundo informações da marca.

A publicação aproveita uma imagem televisiva da CMTV, onde surge um destaque sobre o acidente que envolveu o carro em que seguia o ministro, mas a informação que é partilhada pelo utilizador não tem qualquer referência quanto à sua origem. O Observador questionou o Ministério da Administração Interna (MAI) sobre se este dado concreto se confirma e a resposta foi a de que, “estando a decorrer um inquérito pelo Ministério Público, o Ministério da Administração Interna não tem nada a acrescentar aos esclarecimentos públicos já prestados”.

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O Observador adiantou, entretanto, que no local onde ocorreu o acidente não existem câmaras de vigilância, pelo que o apuramento das circunstâncias exatas do acidente é uma tarefa ainda mais complexa. Questionada sobre este ponto concreto, a BMW Portugal respondeu que “não tem forma de apurar a velocidade a que o veículo circulava na altura do embate” e que, “eventualmente, a BMW AG (que dispõe de outras ferramentas) poderá aceder a essa informação, que só poderá ser disponibilizada às autoridades a pedido das mesmas” — não adiantando se isso já aconteceu neste caso concreto.

Se a informação sobre a velocidade do carro tiver ficado registada na eletrónica do veículo, adianta ainda a empresa ao Observador, o acesso à mesma “será do exclusivo domínio do BMW Group, pelo que não estará acessível a terceiros”. Os dados não são públicos ou acessíveis diretamente pelas autoridades, que têm sempre de recorrer à marca para acederem a esse registo. Em alguns modelos da marca automóvel, essa informação fica registada apenas quando há uma incidência concreta no veículo (como, por exemplo, a ativação de um airbag), mas não se sabe, até ao momento, se aquele carro específico tem esta particularidade, por falta de informação quando ao ano de fabrico do mesmo.

Acidente na A6. Sem câmaras no local, Brisa já terá concluído que trabalhos estavam sinalizados, o que contraria Cabrita

O acidente está a ser investigado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora, segundo confirmou a Procuradoria-Geral da República logo três dias depois, esclarecendo que a abertura do inquérito procura apurar as circunstâncias em que o homem de 43 anos morreu, um procedimento habitual nestes casos. Desde então, não houve qualquer informação adicional sobre os contornos do acidente.

As dúvidas ainda são muitas e as primeiras notícias sobre o acaso já suscitaram controvérsia, uma vez que no dia seguinte ao acidente, num dos detalhes avançados pelo MAI, esclarecia-se que “não havia qualquer sinalização que alertasse os condutores para a existência de trabalhos de limpeza em curso” no local onde ocorreu o atropelamento mortal. Mas a nota foi contrariada por fonte da Brisa à SIC — numa informação entretanto confirmada pelo Observador –, que dava conta da existência de sinalização na via.

Também já houve reações políticas ao caso, com o CDS a pedir a demissão do ministro Cabrita caso se confirme que o carro que o transportava, a partir de uma deslocação oficial a Portalegre, seguia em excesso de velocidade. O presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, afirmou que, se se comprovar que o carro ia acima da velocidade permitida por lei no local, Eduardo Cabrita não tem condições políticas “para se manter nem mais um segundo em funções”.

No PSD, Rui Rio não foi tão longe, embora admita que a velocidade a que circulava o automóvel no momento do acidente seja “um elemento vital para apurar responsabilidade“. “Se o automóvel ia a uma velocidade normal na autoestrada, então, é uma coisa; se vai a uma velocidade muito acima daquilo que é o normal, então, a responsabilidade poderá ser outra”, afirmou o líder social-democrata.

O Código da Estrada define que a velocidade máxima em autoestrada, para um veículo ligeiro de passageiros ou misto, é de 120 km/h. No entanto, a lei também especifica que, “sem prejuízo dos limites máximos de velocidade fixados, o condutor deve moderar especialmente a velocidade” em casos concretos, como quando estejam “assinalados sinais de perigo”. No troço da A6 onde aconteceu o acidente do carro em que seguia o ministro, estavam a ser feitas obras de manutenção ao longo da via, pelo que os trabalhadores afirmaram ao Observador que eram protegidos à retaguarda por uma carrinha com um sinal luminoso.

Conclusão

Neste momento, não existem informações oficiais que permitam afirmar com verdade que o carro em que seguia o ministro da Administração Interna e que atropelou mortalmente um trabalhador que fazia a manutenção da A6 seguia a 230 km/hora. Esse dado concreto, já apontando como de especial relevância pelos partidos da oposição, pode ser registado pelo próprio carro, mas em condições concretas que a BMW Portugal não confirma que se tenham verificado naquele caso.

No entanto, a marca adianta que o acesso a essa informação é exclusivo da BMW Group e que mesmo as autoridades, caso pretendam aceder a essa informação, terão de solicitá-la à empresa. Também não existem dados conhecidos sobre se o carro estava a circular em excesso de velocidade no momento do acidente.

Sabe-se já que, no quilómetro em que ocorreu o atropelamento, não existem câmaras de vigilância, mas existiam trabalhos em curso e os trabalhadores garantem que existia sinalização disso mesmo. A sinalização de perigo obriga à moderação da velocidade, segundo o Código da Estrada, o que também não é possível dizer se aconteceu.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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