No Instagram circula um vídeo com um excerto de uma intervenção de Lula da Silva com a conclusão de que o presidente eleito do Brasil confessou, nesse momento, ter “uma quadrilha” a operar sob seu comando — ou, pelo menos, em seu benefício — dentro do Ministério Público do Brasil. A publicação dá a ideia de que Lula está a admitir ter tido uma organização criminosa para o apoiar quando, na verdade, aquilo que o Presidente eleito do Brasil diz é precisamente o contrário. Lula faz uma acusação contra o Ministério Público, não uma confissão de que seria apoiado pelo organismo responsável pela tutela de processos judiciais naquele país.

A frase é cortada e tudo o que se ouve no vídeo é a parte em que Lula afirma: “Eu tive uma quadrilha montada no Ministério Público, que nós conseguimos provar a culpabilidade deles. Fui absolvido em 26…”. Não se ouve mais nada e o utilizador aproveita a frase para colar na imagem uma conclusão: “Lula confessa que tinha uma quadrilha.”

As imagens foram retiradas de um debate realizado durante a campanha das presidenciais brasileiras, promovido pela TV Globo e que aconteceu a 29 de setembro, onde Lula é provocado pelo então candidato Padre Kelmon — que também neste debate apoiou Jair Bolsonaro — com acusações de corrupção, recuperando o Caso Lava Jato.

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Foi na sequência desse momento que Lula disse terem existido “26 denúncias mentirosas” e “de uma pessoa que depois foi ser ministra do atual governo”. E continua: “Eu tive uma quadrilha montada no Ministério Público, que nós conseguimos provar a culpabilidade deles. Eu fui absolvido em 26 processos dentro do Brasil, fui absolvido pela Suprema Corte e fui absolvido em dois processos da ONU. E ainda na quarta-feira, fui absolvido outra vez por um processo, pelo ministro Gilmar, sobre um farsante da secretaria da Receita que foi no Instituto Lula, com que eu não tenho dada [a ver] a não ser o nome.”

“Quando quiser falar de corrupção, olhe para outro e não para mim”, rematou o então candidato nesse mesmo debate, respondendo ao Padre Kelmon. Ou seja, Lula não admite ter uma quadrilha; considera, sim, ter tido uma “quadrilha” a trabalhar contra si dentro do Ministério Público brasileiro.

Bolsonaro acusa Lula de ser “chefe de grande quadrilha”. “Cara de pau”, responde Lula no debate final

Ainda nesse debate, Jair Bolsonaro aproveitou a deixa para dizer que “Lula era o chefe de uma grande quadrilha. Não podemos continuar a ser o país da roubalheira”. E o candidato do PT respondeu-lhe: “Montei quadrilha? Bolsonaro está a olhar-se ao espelho.”

Recorde-se que Lula da Silva foi preso em abril de 2018 — e assim ficou durante 580 dias — no âmbito de um processo de corrupção em que foi acusado de ter tido um apartamento de Luxo, em Guarujá (São Paulo), recebido por ter, alegadamente, favorecido uma construtora em contratos com a Petrobras. O processo foi arquivado no início deste ano e esse arquivamento permitiu que formalizasse uma candidatura à presidência do Brasil, que acabaria por vencer a 30 de outubro.

Conclusão

O que o presidente eleito do Brasil disse, enquanto candidato num debate, é que existia “uma quadrilha” contra si no Ministério Público, na altura da investigação Lava Jato. Não estava a assumir uma organização criminosa criada por si, mas sim por outros e a operar no Ministério Público para o prejudicar. A conclusão tirada nesta publicação é enganadora, uma vez que usa de forma descontextualizada uma frase de Lula, dando-lhe o sentido contrário ao pretendido na intervenção do Presidente eleito do Brasil.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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