“Chefe de uma grande quadrilha”, “autor de roubalheira” e “traidor da pátria” vs. “mentiroso descarado”, “cara de pau” e “insano”. No debate final entre os principais candidatos às eleições brasileiras transmitido esta quinta-feira na TV Globo, Jair Bolsonaro e Lula da Silva trocaram duras acusações. Entre direitos de respostas que se multiplicavam e insultos, o Presidente da República brasileira e o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) trouxeram para cima da mesa temas como a corrupção, a gestão da pandemia e até a ideologia de género — mas sempre ao ataque.

O debate começou com Ciro Gomes, que está em terceiro das sondagens, a criticar Lula da Silva, lembrando o desemprego e o endividamento das famílias nos governos do PT.  Em resposta, o candidato salienta que o próprio Ciro Gomes foi parte do governo petista e desmentiu os números. “Estou a achá-lo nervoso. Os meus governos foram momentos de conquistas sociais. As pessoas compraram televisão, frigorífico, carro e até comiam picanha com churrasco”, argumentou Lula, que disse que o Brasil era, na altura, visto com “orgulho” pelos Estados Unidos, a China e a Argentina.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre as eleições brasileiras.

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Após uma pergunta do candidato Padre Kelmon — que voltou, tal como fez no segundo debate, a apoiar Bolsonaro —, o Presidente afirmou que o Brasil não podia voltar a ser uma “cleptocracia em que a roubalheira imperava”. “Lula era o chefe de uma grande quadrilha. Não podemos continuar a ser o país da roubalheira”, criticou o chefe de Estado, que sublinhou que o candidato do PT está a tentar ainda “destruir a família”, fazendo as “crianças interessarem-se por sexo”.

“Tenha o mínimo de honestidade”, ripostou Lula da Silva num direito de resposta: “Montei quadrilha? Bolsonaro está a olhar-se ao espelho”. O candidato do PT recordou o alegado escândalo de corrupção relacionado com a compra de vacinas. “Tenha descaramento. Mentir é feio para um Presidente, isto não é possível.”

Novamente ao ataque, Bolsonaro chamou “ex-presidiário” ao adversário, elevando o tom: “É um mentiroso, traidor da pátria”. Recusando qualquer acusação de corrupção, o Presidente disse que quem “roubou milhões de empresas” foi Lula da Silva: “Tome vergonha na cara”.

“É uma insanidade ter um Presidente da República com esta desfaçatez”, lamentou Lula da Silva, que garantiu que — no dia 2 de outubro — “o povo decerto que vai mandar Bolsonaro para casa“. “Cara de pau“, acusou o candidato do PT.

Felipe D’Ávila também criticou, em várias intervenções, o que diz ser a “corrupção” dos governos de Lula, que pediu mais “dados confiáveis”. Soraya Thronicke seguiu a mesma estratégia de Felipe D’Ávila e que questão de realçar que “se levantou” para acabar com os problemas gerados pelos governos do PT. Uma das tiradas do debate aconteceu quando a candidata não conseguiu acertar no nome de Padre Kelmon — “Padre Kelson. Kelvin. Candidato Padre” —, sendo que depois acusou-o de ser um “padre da festa junina” e questionou-lhe se “não tinha medo de ir para o inferno”.

Por sua vez, Simone Tebet denunciou o “discurso de ódio” existente no debate, assim como a “polarização” que “não está a ajudar o Brasil”. Focou ainda as “cirurgias atrasadas” na “saúde pública” decorrentes da pandemia de Covid-19. “Vamos aumentar o dinheiro no serviço nacional de saúde. Vamos equipar os hospitais. E temos de olhar para as Santas Casas.”

Simone Tebet questionou Jair Bolsonaro sobre a a Amazónia, que “foi queimada e devastada” durante o mandato do atual Presidente: “Foi o pior da História do Brasil”. “Ao invés de cuidar das florestas, o seu governo cuidou de exploradores.” O chefe de Estado rejeitou as críticas: “Não é verdade. Periodicamente pega fogo na região. No Brasil, temos dois terços das florestas preservadas da mesma maneira como estavam quando Pedro Álvares Cabral chegou.

“Mente tanto que acredita em tanta mentira”, acusou Simone Tebet, que lembrou a falta de chuva na região da Amazónia. “Então a falta de chuva é responsabilidade minha”, ripostou Jair Bolsonaro, que lembrou que, no início da guerra, encontrou-se com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, para negociar a questão dos fertilizantes. “Os agricultores estão felizes. Levei paz e tranquilidade ao campo.”

Já o Padre Kelmon chamou à atenção para as universidades públicas, que tornam os jovens “militantes de esquerda”. “As universidades viraram um ninho de pessoas que militam por ideologias, que vão conta os valores, o cristianismo. A esquerda fez da universidade uma maneira de ter soldadinhos a defenderem essa ideologia.”