A jurista e comentadora neerlandesa Eva Vlaardingerbroek afirmou recentemente que o número de imigrantes já supera o total de residentes nacionais de algumas cidades europeias. O discurso, durante uma conferência conservadora que decorreu na Hungria, tem corrido as redes sociais e levantado discussões sobre as migrações na Europa.
“Amesterdão é atualmente composta por 56% de migrantes. Haia por 58% de migrantes. Roterdão quase por 60% de migrantes. E claro que a maioria destes imigrantes vem de países não-cristãos, não-ocidentais, africanos e do Médio Oriente. Conclusão: a população holandesa já é a minoria na maioria das nossas cidades”, afirmou a jurista durante a sua intervenção na CPAC Hungary 2024.
Além do país de origem Eva, Vlaardingerbroek ainda falaria sobre a situação de outras cidades europeias. “Londres tem 54% de migrantes. De novo, a conclusão: a população nativa é uma minoria. Bruxelas, isto é chocante, 70% de migrantes. A conclusão: a população em grande desvantagem numérica. E claro que outras cidades europeias vão seguir-se, se é que já não estão nesta situação”, continuou. Em nenhum momento a jurista citou qualquer fonte para estes valores.
Os números foram usados por Eva Vlaardingerbroek para estabelecer uma “ligação entra a migração em massa e a criminalidade”. O discurso foi, entretanto, apagado de algumas plataformas, como do YouTube, que indicou que aquele conteúdo representa uma violação à sua política sobre o discurso de ódio. O vídeo original ainda está a circular nas redes sociais, como no Instagram, onde pode ser visto na íntegra, apesar de os números que referiu serem contrários aos dados disponibilizados pelos institutos de estatísticas europeus.
Vamos aos dados. Começando pelos Países Baixos, em 2023 residiam em Amesterdão 918.117 pessoas. Dessas 577.629 tinham nacionalidade neerlandesa e 340.488 tinham nascido noutros países, segundo dados da agência de estatísticas dos Países Baixos (CBS). No total a população de migrantes nessa cidade chega aos 37,1%, um valor muito diferente dos 56% referidos por Eva Vlaardingerbroek. Quanto a Haia, os migrantes compõem 37,3% da população total e 32,3% da de Roterdão.
Passando agora para a Bélgica. No dia 1 de janeiro de 2024, a população belga chegava aos 11.763.650. Segundo dados da Statbel, a agência de estatísticas oficial belga, o crescimento populacional em 2023 foi “resultado de um saldo migratório internacional positivo”. Isso está em parte relacionado com migrações no contexto da guerra na Ucrânia, uma vez que, diz a agência, 13.702 imigrantes (7,0%) têm nacionalidade ucraniana. Da população belga total, 64,8% é de origem belga.
Olhando concretamente para a capital belga, há registo de 56.166 pessoas que chegaram a Bruxelas e 34.723 que emigraram em 2023. Dos imigrantes e emigrantes, 3.036 e 954 tinham respetivamente a nacionalidade ucraniana. No total, o número de pessoas residentes no país, mas nascidas no estrangeiro, correspondia a 47,9% da população a 1 de janeiro de 2023.
Quanto ao Reino Unido, é útil olhar para os censos de 2021. Dos 59,6 milhões de residentes habituais na Inglaterra e no País de Gales em 2021, 49,6 milhões (83,2%) nasceram no Reino Unido e 10,0 milhões (16,8%) nasceram fora do Reino Unido. Os nascidos na União Europeia (UE) representavam 3,6 milhões (36,4% de todos os residentes habituais nascidos fora do Reino Unido) da população. Os restantes 6,4 milhões (63,6%) nasceram fora da UE.
Olhando concretamente para Londres, Eva Vlaardingerbroek afirmou que o número de migrantes era de 54%. No entanto, segundo os últimos censos do Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, realizados em 2021, mais de 4 em cada 10 residentes em Londres nasceram fora do Reino Unido. Isso corresponde a um total de 40,6%.
Conclusão
Os números apresentados pela jurista e comentadora neerlandesa Eva Vlaardingerbroek são falsos, segundo os dados de institutos de estatísticas europeus. Em Amesterdão a população de migrantes é de 37,1% e em Bruxelas 47,9%, de acordo com dados de 2023. Já em Londres há um total de 40,6% de pessoas nascidas noutros países, segundo os censos de 2021.
ERRADO
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FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.