Também conhecido como Padrão D. João I, o Padrão de São Lázaro, em Guimarães, apareceu destruído no dia 30 de julho, pelas 22h, tendo havido logo quem começasse a publicar teorias sobre os responsáveis. Diversos utilizadores do Facebook partilharam que os moradores de freguesia de Creixomil teriam “fortes indícios” de que teriam sido “imigrantes muçulmanos” a cometer tal ato, abrindo a possibilidade de se tratar de um crime com motivação religiosa e “racista”.

“Cruz de Cristo do Padrão de São Lázaro foi vandalizado e totalmente destruído. A população local, tem fortes indícios que o ato criminoso, de ódio e racismo, foi realizado por imigrantes muçulmanos”, refere uma das publicações, acompanhada por imagens verídicas dos fragmentos do monumento.

É preciso começar por explicar que antes de esta tese começar a circular já tinham sido partilhadas informações a dar conta de que os responsáveis seriam um “grupo de indivíduos indostânicos” — ou seja, provenientes de países como Índia e Paquistão —, o que já tinha sido verificado pelo Observador.

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Fact Check. Padrão de S. Lázaro, em Guimarães, foi destruído por um grupo de indostânicos?

Neste caso, faz-se apenas uma referência à religião dos alegados responsáveis e ao detalhe de serem imigrantes em Portugal. Será esta mais recente alegação verdadeira?

Ao Observador, a PSP garantiu que quando chegou ao local encontrou o Padrão de São Lázaro destruído e que não tem qualquer indício ou suspeita de que se tratou de um ataque levado a cabo por um determinado grupo de pessoas. Os agentes também não recolheram qualquer testemunho de moradores que aponte para a presença de imigrantes no local. O presidente da Junta de Freguesia de Creixomil, António Gonçalves (PSD), explicou igualmente ao Observador que não fazem sentido as teorias que estão a circular nas redes sociais: “Isso não tem qualquer fundamento, nem muito nem pouco. Tudo o que se possa dizer é especulativo. Estive lá no local ouvi os testemunhos reais. Aquando da queda, quem ouviu o som veio cá fora e não viu coisa nenhuma.”

“Deduz-se que eventualmente possa haver, não um vandalismo premeditado, mas que estivessem lá miúdos. E, como há lá um bar à beira, poderiam eventualmente ter bebido uns copos e ter-se encostado. Mas agora as peritagens estão a ser feitas pelos técnicos competentes e depois vai obter-se alguma informação. Não faz qualquer sentido o que se anda para aí dizer”, acrescentou o presidente da junta de Creixomil.

Depois de ter partilhado na sua página de Facebook que o “património cultural de Guimarães na freguesia de Creixomil ficou mais pobre”, a Junta de Freguesia de Creixomil reagiu a alguns comentários com alegações falsas, alertando a população para que não se precipitasse nos julgamentos: “Caros cidadãos, vamos ter calma e deixar as autoridades fazer o seu trabalho. Depois disso tiramos a devidas conclusões. Não devemos fazer justiça sem conhecer os verdadeiros factos.”

A investigação passou agora para a alçada da Polícia Judiciária. Da parte do Governo, o Ministério da Cultura já lamentou o que aconteceu em Guimarães, dizendo em comunicado que, “face à gravidade da situação, o Património Cultural/Instituto Público operacionalizou a deslocação de uma equipa técnica a Guimarães, no sentido de avaliar, não apenas os danos materiais causados ao cruzeiro derrubado e fragmentado, mas também para diligenciar sobre as condições da sua recuperação e ponderar estratégias futuras de salvaguarda”.

Conclusão

No final do último mês o Padrão D. João I, também conhecido como Padrão de São Lázaro, foi encontrado destruído. Várias publicações têm sugerido ter sido um grupo de “imigrantes muçulmanos” a levar a cabo um ataque contra aquele património. Mas, até ao momento, as autoridades não têm qualquer evidência que aponte nesse sentido, nem sequer recolheram testemunhos de moradores a dar conta da presença de estrangeiros no local no momento em que tudo aconteceu. Além disso, a Junta de Freguesia não descarta a hipótese de um acidente. “Deduz-se que eventualmente possa haver, não um vandalismo premeditado, mas que estivessem lá miúdos. E, como há lá um bar à beira, poderiam eventualmente ter bebido uns copos e ter-se encostado”, explica o presidente da junta ao Observador, sublinhando que, neste momento, “tudo o que se possa dizer é especulativo”. Esta não é a primeira alegação falsa a circular nas redes sociais sobre este caso. Anteriormente, outros utilizadores tinham partilhado que os responsáveis seriam indostânicos.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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