A publicação é feita num grupo público do Facebook e reproduzida nos perfis pessoais de alguns dos seus membros, sem ser mencionado o/a autor/a da imagem. Trata-se de um “Guia de Respostas” sobre os efeitos secundários da vacinação contra a Covid-19 e sobre a infeção das pessoas já inoculadas, escrito de forma sarcástica, com o fim de reproduzir as justificações que vêm sendo dadas pelos especialistas e pelas autoridades de saúde à medida que se vão conhecendo os “Incidentes em Vacinados”, como se escreve.
A publicação vai colocando questões a partir das respostas anteriores, até chegar à conclusão de que “nenhuma vacina protege a 100%”, uma justificação que afinal engloba todas as outras dúvidas relativamente à vacina. Relativamente às primeiras quatro perguntas e respostas, há pouco a dizer — são de facto verdadeiras as associações aqui em causa, mas é preciso lembrar que as reações adversas de carácter grave acontecem — em casos raros — também como consequência da toma de muitos outros medicamentos, não sendo a vacina contra a Covid-19 uma exceção à regra.
É verdade que a primeira dose da vacina (quando é o caso de serem precisas duas) não confere a mesma imunidade que a toma integral do fármaco. Também é verdade que só entre duas semanas e um mês depois da administração da vacina é que o corpo cria anticorpos suficientes e se encontra no nível de proteção máxima conferida pela vacina.
Quanto às infeções de pessoas vacinadas integralmente há mais de um mês, esse cenário também é possível, mas tratar-se-á de uma infeção em que os sinais de doença serão muito mais ligeiros do que seriam no caso de não haver a imunização. O risco de hospitalização nesses casos não é zero, mas é muito baixo. Em Portugal, já são conhecidos alguns resultados do ritmo de vacinação no número de hospitalizações, e o efeito positivo é inegável.
Seguimos para o quinto ponto. Se o autor do post pergunta a certa altura “para que serve/serviu a vacina?”, uma das respostas mais importantes está aqui, na questão da mortalidade (além de ser mais frequente o desenvolvimento de sintomas ligeiros e menos frequentes os sintomas graves). Em janeiro deste ano, nos dias mais críticos, por mais do que uma vez foram registadas 300 mortes num só dia em Portugal, ao mesmo tempo que a média de casos nesse mês ficou nos 10 mil (a média de mortes rondava as 170 por dia). Atualmente, e até 22 de julho, a média de novos casos diários fica-se pelos 3.300 e a média diária de mortes ronda as nove. Ficam, por isso, evidentes, os resultados permitidos pela vacinação no que à mortalidade diz respeito.
Mas o post debruça-se também sobre a questão da morte após a toma da vacina. Na verdade, os dados sobre os efeitos adversos reportados às autoridades de saúde estão disponíveis e vêm sendo atualizados em Portugal pela Autoridade do Medicamento, o Infarmed. A última atualização, até 22 de julho, refere inclusivamente a existência de 68 óbitos reportados como consequência da toma da vacina. Ainda assim, a autoridade diz não poder estabelecer essa ligação: “Os casos de morte ocorreram num grupo de indivíduos com uma mediana de idades de 78 anos e não pressupõem necessariamente a existência de uma relação causal entre cada óbito e a vacina administrada, decorrendo também dentro dos padrões normais de morbilidade e mortalidade da população portuguesa”.
De qualquer modo, o relatório do Infarmed descreve que “os casos graves de reações adversas (incluindo os casos fatais) são avaliados com prioridade, e enviados para o sistema EudraVigilance no prazo máximo de 15 dias”.
Ora, a diretiva da Agência Europeia do Medicamento — que aprova e supervisiona o uso de fármacos na União — também prevê atuações no caso de serem encontrados entraves à segurança dos fármacos em uso. Uma das possíveis recomendações é a suspensão dos fármacos em determinadas populações de maior risco. Foi isso que se fez em Portugal, por exemplo, com a vacina da Janssen (desaconselhado a mulheres com menos de 50 anos), quando se detetaram casos de tromboses fatais nos Estados Unidos da América. O mesmo aconteceu com a vacina da Astrazeneca, só indicada para maiores de 60 anos, ou outras faixas etárias mediante a assinatura de um “consentimento informado”. Neste caso, a decisão surgiu depois de a Agência Europeia de Medicamentos ter investigado os efeitos secundários reportados e ter encontrado uma “possível ligação” entre esta vacina e casos muito raros de formação de coágulos sanguíneos.
É, por isso, errado, dizer que não há qualquer investigação sobre os casos de reações adversas — onde se inclui a morte — quando se fala das vacinas contra a Covid-19. Mas se não bastar essa avaliação das autoridades de saúde, vale lembrar, por exemplo, o caso da funcionária do IPO que morreu após tomar a vacina, o que chegou a merecer a atenção até do Ministério da Justiça português. E há outros casos em que a investigação foi feita. Em Itália, ou nos Estados Unidos, foram desencadeadas investigações nos casos de pessoas saudáveis que morreram após lhes ser administrada a vacina contra a Covid-19.
Conclusão
Não é possível inferir que não existe investigação em torno das mortes que sucedem à vacinação contra a Covid-19, porque há uma norma europeia que até já levou à suspensão de fármacos em determinadas populações quando está em risco a saúde das mesmas.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.