Nas redes sociais têm circulado vários vídeos que dão conta de que o governo venezuelano chefiado por Nicolás Maduro tem entregado latas de atum à população feitas não com peixe, mas sim com cartão moído. “Estão a matar-nos, estão a envenenar-nos”, diz o autor do vídeo, que — para supostamente provar o que afirma — lava, recorrendo a uma peneira, o conteúdo do lata.

Este tipo de vídeos tem sido partilhados nos últimos tempos no Brasil, mas não se sabe nem quando nem onde terão sido gravados. Aliás, não há qualquer prova que ligue o vídeo à Venezuela — apenas se sabe que a pessoa que gravou e narrou o vídeo falava espanhol. No entanto, estas publicações tornaram-se virais um pouco por toda a América Latina há cerca de quatro anos.

Estas publicações ressurgem agora, desta feita com uma suposta ligação entre Nicolás Maduro e Lula da Silva. O objetivo passa por desmerecer as políticas sociais do líder brasileiro, comparando-as com as do seu homólogo venezuelano: “Maduro, o amigo de Lula [que] está dando papelão moído para o povo comer dizendo que é atum. Enquanto isso, no Brasil, o Lula está a prometer abóbora no lugar da picanha prometida em campanha eleitoral”.

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Vários organismos e observatório da América Latina já desmentiram que o atum tenha cartão, ou que o principal ingrediente na lata seja papelão. Por exemplo, o Instituto Nacional de Vigilância de Medicamentos e Alimentos da Colômbia desmentiu esta tese, depois de ter realizado análises a várias latas de atum à venda no país: “Os produtos não revelam ingredientes alheios à sua composição e tão-pouco causam danos à saúde dos consumidores.”

No caso da Venezuela, que foi o exposto no vídeo (ainda que não haja qualquer garantia de que o vídeo tenha sido gravado naquele país), o Observatório Venezuelano de Fake News também apurou que os vídeos não correspondem à realidade. Numa publicação na rede social do Twitter que data de 20 de março deste ano, o observatório assinala que os vídeos somente mostram a “perda de propriedades proteicas e as vitaminas do alimento após ser lavado”.

Em 2020, estas publicações levaram um dirigente político venezuelano a reagir. O autarca da cidade de Malambo, Rumenigge Monsalve, gravou o vídeo em que também lavava o atum com água e mostrou que não havia cartão na lata — e que o produto não continha nenhum ingrediente do género.

Conclusão

As alegações que as latas de atum distribuídas na Venezuela contêm cartão — e não peixe — não correspondem à realidade. Para além de não ser claro onde e quando os vídeos foram gravados, a cor do atum e o composto que fica após ser lavado em água deve-se essencialmente à perda de propriedades proteicas.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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