Nicolás Maduro é com frequência alvo de desinformação nas redes sociais. Nos últimos dias, tornou-se viral um vídeo que mostra, alegadamente, o presidente venezuelano a ser atacado por uma multidão de pessoas durante um desfile. No vídeo vemos, inicialmente, uma fotografia — que, subentende-se, terá sido tirada depois do incidente —, que mostra o Chefe de Estado ferido, com um hematoma no olho e uma faixa branca ensanguentada na cabeça. Segue-se um noticiário televisivo, onde a pivô refere que a população “lançou objetos” a Maduro durante um evento”, depois da “brutal repressão” levada a cabo pelo Governo contra alguns manifestantes. Na peça jornalística é ainda revelado que o desfile terminou de forma “tensa”, com confrontos entre a população e as forças de segurança.
Nas muitas publicações que partilham estas imagens, nas redes sociais, vários utilizadores escrevem que o “povo venezuelano começou a atacar o demónio”, falam do “fim da esquerda na Venezuela” e deixam elogios à população. Alguns autores instam também o povo brasileiro a agir de forma semelhante, “antes que seja tarde demais”, numa referência à situação política que se vive no Brasil.
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Através de uma simples pesquisa no Google percebemos que as imagens são antigas e foram tiradas de contexto, de forma a parecerem atuais. O episódio é verdadeiro. Aconteceu a 11 de abril de 2017, após um desfile militar na comunidade de San Félix, no estado de Bolívar, ter sido interrompido quando a população começou a lançar ovos e pedras contra o carro que transportava Nicolás Maduro. A equipa de segurança rapidamente cercou o Chefe de Estado, para o proteger de um possível ataque. Meia dezena de manifestantes foram detidos. O vídeo chegou a ser partilhado nas redes sociais por vários opositores de Maduro, incluindo o então presidente do Parlamento venezuelano, Julio Borges.
El pueblo en San Félix como en toda Venezuela rechaza a Maduro y repudia su DICTADURA. Respeto a la Constitución y al voto ya! #11Ab pic.twitter.com/jiiQ6KTYE4
— Julio Borges (@JulioBorges) April 12, 2017
Na altura deste episódio, mais de dois terços dos venezuelanos pediam uma remodelação do Governo e avaliavam de forma negativa a presidência de Maduro. Depois da morte do ex-Chefe de Estado Hugo Chávez, a taxa de criminalidade no país disparou e a população queixava-se com regularidade da falta de alimentação e medicamentos. O cenário de preocupação desencadeou uma onda de protestos violentos nas ruas venezuelanas, com Maduro a falar num “golpe de Estado em curso” e os manifestantes a justificarem-se com o argumento de que estava em curso a “desobediência a uma loucura”. Terá sido neste ambiente que decorreu o ataque em San Félix.
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O caso foi amplamente noticiado em vários órgãos de comunicação internacionais (aqui, aqui e aqui) e as imagens do ataque partilhadas pelas agências de notícias EFE e France Presse. Mas, ao contrário do que agora se alega, não existem registos de que Maduro tenha ficado ferido, tal como mostra a imagem no início do vídeo partilhado no post. A baixa qualidade da fotografia sugere, igualmente, que se trata de uma montagem, criada para dar a entender o contrário. De resto, o vídeo que circula agora nas redes sociais já está disponível na plataforma Youtube pelo menos desde de 13 de abril de 2017, ou seja, um dia depois do ataque ao Presidente venezuelano.
Conclusão
O vídeo está descontextualizado. O ataque a Nicolás Maduro aconteceu durante um desfile militar em 2017, não este ano, como sugere a publicação. Apesar de ter sido apedrejado pela população, o Presidente venezuelano não ficou ferido. A imagem que o mostra com sangue na cabeça e um hematoma foi objeto de montagem. Este vídeo já anda, igualmente, a circular nas redes sociais há cerca de seis anos.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.