Nos quartos de final do Mundial do Qatar, a seleção do Brasil foi eliminada pela Croácia nas grandes penalidades, após um empate 1-1 no final do prolongamento. Depois deste afastamento da canarinha da competição, foi partilhado por um utilizador do Facebook um texto onde a Confederação Brasileira de Futebol é acusada de ter “vendido” a vaga nas meias-finais. Em troca, o Brasil teria um caminho mais facilitado para ser campeão do mundo pela sexta vez no próximo Mundial, em 2026, nos EUA, Canadá e México.

Texto falso na integra sobre o Brasil no Mundial 2022

Apesar de ter sido partilhado após este jogo entre o Brasil e a Croácia, no Qatar, este texto tem mais de 20 anos. Foi inicialmente escrito após a derrota da seleção brasileira frente à França no Mundial de 1998. Naquela altura foi partilhado por e-mail, e daí acabou por surgir uma brincadeira nas redes sociais. Quase sempre que o Brasil se despede de uma grande competição, o texto é partilhado novamente, ainda que com algumas alterações.

Nesta versão que agora analisamos, é atribuída ao jogador Richarlison, que fez parte da mais recente convocatória do Brasil, a seguinte citação: “Se as pessoas soubessem o que aconteceu na Copa do Catar, ficariam enojadas.” Esta mesma citação está presente desde 1998, tendo sido sempre atribuída a um jogador diferente, em função dos atletas que participaram na campanha brasileira desse ano. No texto original, foi atribuída ao jogador Leonardo. Após o desaire por 7-1 frente à Alemanha, em 2014, Paulinho foi apontado como o autor da frase. E, em 2018, depois da eliminação no Mundial da Rússia, Fernandinho foi o novo nome apontado.

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Também no final do texto está um ponto em constante atualização: termina sempre com a garantia de que o caminho da seleção brasileira no próximo Mundial estará mais facilitado, como pode ver nas imagens abaixo.

Texto Falso sobre a seleção do Brasil em 1998

Texto Falso sobre a seleção do Brasil em 2014

Texto Falso sobre a seleção do Brasil em 2022

A brincadeira cresceu ao ponto de não ser utilizada apenas no âmbito desportivo. Com uma breve pesquisa, podemos encontrar o mesmo texto adaptado às mais recentes eleições que tiveram lugar no Brasil, e que opuseram Jair Bolsonaro a Lula da Silva, ou até mesmo a peripécias ocorridas em programas da televisão brasileira.

Uma curiosidade sobre esta “acusação”. Frequentemente o texto é partilhado com a assinatura de um suposto jornalista chamado Gunther Schweitzer. Não se trata de um jornalista: trata-se um funcionário do setor privado que, em 2014 — quando foi entrevistado pela ESPN Brasil a propósito da sua alegada “denúncia” —, disse ser personal trainer e colaborar com uma ONG que desenvolvia atividades na área do desporto com jovens brasileiros.

Na mesma entrevista, Gunther Schweitzer garantiu não ser sequer autor do texto. Schweitzer refere que recebeu a mensagem original por e-mail, em 1998, e decidiu partilhá-la com os amigos. No entanto, num lapso no momento da partilha deixou a sua própria assinatura no texto, o que gerou esta espécie de efeito bola de neve. Nesta mesma entrevista, Gunther Schweitzer revela que nem sequer é particularmente apreciador de futebol.

Conclusão:

Não é verdade que o Brasil tenha vendido a vaga nas meias-finais do Mundial do Qatar. O texto que contém a acusação é já partilhado nas redes sociais desde 1998, e é uma brincadeira recorrente sempre que a seleção brasileira diz adeus a uma grande competição de futebol.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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