Há publicações nas redes sociais a afirmar que Janine Small, presidente de mercados internacionais da Pfizer, admitiu no Parlamento Europeu que a vacina contra a Covid-19 nunca foi testada para a capacidade de travar a transmissão do vírus que provoca a doença, o coronavírus SARS-CoV-2 — e que isso comprova que a farmacêutica mentiu sobre os ensaios clínicos da vacina.
Por trás destas publicações está o momento em que o eurodeputado holandês Rob Roos, do partido Fórum pela Democracia, questiona Janine Small: “A vacina da Pfizer contra a Covid-19 foi testada na capacidade de parar a transmissão do vírus antes de entrar no mercado?”
“Se não, por favor, diga-o claramente”, apelou o eurodeputado no vídeo que ele mesmo publicou nas redes sociais: “Se sim, está disposta a partilhar os dados com este comité? E quero realmente uma resposta direta, sim ou não. Anseio por isso. Muito obrigado.”
Janine Small responde depois: “Sobre a pergunta acerca a imunização de travagem [da capacidade de transmissão do vírus] antes de [a vacina] entrar no mercado, não. Sabe, nós tivemos realmente de avançar à velocidade da ciência para realmente compreender o que está a acontecer no mercado.”
Rob Roos, que representa um partido que nega as alterações climáticas, utilizou os esclarecimentos da presidente de mercados internacionais da Pfizer para afirmar que a farmacêutica norte-americana mentiu sobre a vacina ter sido testada para travar a transmissão do coronavírus.
Acontece que o objetivo da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Pfizer e pelas outras farmacêuticas nunca foi evitar a transmissão do SARS-CoV-2, mas sim evitar a doença sintomática e os quadros clínicos mais graves. Foi nisso que se concentraram os ensaios clínicos, assim como na segurança da vacina.
É o que está descrito num artigo publicado em dezembro de 2020 na revista científica The New England Journal of Medicine, onde os cientistas descreveram que “os objetivos finais” dos ensaios clínicos são estudar “a eficácia da vacina contra o Covid-19 confirmado em laboratório e a segurança” da vacina.
O que se descobriu nesses testes é que a vacina “conferiu 95% de proteção contra o Covid-19 em pessoas com 16 anos de idade ou mais” infetadas com a variante do coronavírus que era dominante à época; e que “a segurança ao longo de uma mediana de dois meses foi semelhante à de outras vacinas virais”.
A Agência Europeia do Medicamento deixou claro desde cedo que “serão necessárias avaliações suplementares para averiguar o efeito da vacina na prevenção da infeção assintomática, incluindo dados provenientes de ensaios clínicos e da utilização da vacina após a autorização”.
De qualquer modo, veio a comprovar-se que a vacina tem mesmo um efeito travão na transmissão do coronavírus. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano explica agora que “manter-se atualizado com a vacinação contra a Covid-19 também significa que se tem menos probabilidade de espalhar a doença para outras pessoas”.
É que, embora os ensaios clínicos não tenham estudado a capacidade da vacina em travar a transmissão do vírus, porque essa não era a missão deles, outros cientistas focaram-se no tema. Uma equipa de investigadores israelitas relatou na Nature que, numa pessoa infetada que foi vacinada com o fármaco da Pfizer/BioNTech, a carga viral começa a reduzir mais rapidamente — por isso, também transmite o vírus por menos tempo.
Conclusão
Não é verdade que a Pfizer tenha mentido sobre os ensaios clínicos que desenvolveu com a vacina contra a Covid-19 elaborada em parceria com a BioNTech. A farmacêutica admitiu que não testou a vacina para a capacidade de travar a transmissão do vírus porque os ensaios clínicos desenvolvidos antes da entrada do fármaco no mercado não o exigiam: eles foram efetuados para testar a segurança da vacina e a capacidade de evitar a Covid-19 sintomática e os quadros clínicos mais graves.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.