Circula nas redes sociais uma publicação que afirma que 98% dos profissionais de saúde do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra recusou tomar a vacina contra a Covid-19. Segundo o autor, que acusa a comunicação social de estar a esconder esta informação, de mais de 6 mil profissionais de saúde, apenas 95 responderam que queriam tomar a vacina, num inquérito que foi feito pelo hospital. Só que estes números estão errados: mais de 65% dos profissionais responderam logo no inquérito que queriam receber a vacina, confirmou o Observador junto de fonte oficial desta unidade de saúde.
O inquérito de que o autor da publicação fala foi na verdade um email com um link enviado a todos os mais de oito mil profissionais de saúde — e não apenas seis mil como afirma a publicação — com o objetivo de perceber quem é que iam começar a vacinar primeiro. Nesse link, deveriam dizer se queriam ou não ser vacinados nesta fase, uma vez que são um dos grupos prioritários no plano de vacinação contra a Covid-19. Fonte oficial do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra disse ao Observador que dos cerca de oito mil que responderam, mais de seis mil responderam logo que queriam tomar a vacina — e não apenas 95, como afirma a publicação do Facebook.
Quer isto dizer que os restantes dois mil profissionais desta unidade de saúde recusaram a vacina? Não. Isto porque, desses dois mil, muitos não responderam ainda ao inquérito, esclareceu a mesma fonte ao Observador. Mais: outros disseram que não queriam tomar a vacina para já uma vez que tinham problemas de saúde e queriam primeiro ser esclarecidos relativamente aos seus efeitos. Houve ainda uma parte desses dois mil que não respondeu logo porque quis dar prioridade a outros colegas que entenderam ter direito a ser vacinados antes deles. Foi o caso da pessoa com que o Observador falou que explicou que quer tomar a vacina, mas ainda não respondeu ao inquérito para não “entupir o sistema” por considerar que há outros colegas que precisam mais rapidamente da vacina.
De qualquer maneira, há que ter em conta que a opção escolhida no inquérito não é definitiva: as pessoas que disseram que não à vacina podem vir a tomá-la se desejaram e vice-versa. Fonte do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra explicou ao Observador que não tem o número exato dos profissionais que disseram que não queriam tomar a vacina precisamente porque muitos deles ainda não responderam ao inquérito. E porque o objetivo desse inquérito não era saber quem não queria tomar a vacina, mas sim quem queria tomar para planear a vacinação e criar grupos prioritários entre os profissionais.
Inquérito à parte, até ao momento, a vacina contra a Covid-19 já foi administrada a mais de 3.700 profissionais de saúde do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Na primeira fase, entre 27 e 29 de dezembro, 2.309 tomaram a vacina. Na segunda fase, de 6 e 7 de janeiro, foram vacinados mais de 1.400.
A mesma publicação afirma ainda que no Hospital de Viseu 140 profissionais recusaram tomar a vacina e coloca até uma fotografia de uma reportagem da TVI onde se lê isso mesmo. De facto, essa informação está correta e a reportagem da TVI é verdadeira, só que essa notícia também dá os dados de quantos profissionais disseram sim à vacina contra a Covid-19 — dados que o autor da publicação oculta. Assim, 140 profissionais de saúde recusaram a vacina, mas de um total de 2.800. Quer isto dizer que cerca de 2.660 aceitaram a vacinação, ou seja, 95%.
Conclusão
Publicação afirma que 98% dos profissionais de saúde do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra recusaram tomar a vacina contra a Covid-19. Segundo a mesma, dos mais de seis mil profissionais de saúde, apenas 95 responderam que queriam tomar a vacina, num inquérito que foi feito pelo hospital. Só que estes números estão errados.
Contactada pelo Observador, fonte oficial do hospital explicou que mais de 65% dos profissionais responderam que não queriam receber a vacina. Dos cerca de oito mil que responderam, mais de seis mil responderam que queriam tomar a vacina — não apenas 95, como afirma a publicação.
Isto também não quer dizer que os restantes dois mil profissionais desta unidade de saúde recusaram a vacina porque muitos deles não responderam ainda ao inquérito. Mais: outros disseram que não queriam tomar a vacina para já uma vez que tinham problemas de saúde e queriam primeiro ser esclarecidos relativamente aos seus efeitos. Houve ainda uma parte desses dois mil que não respondeu logo porque quis dar prioridade a outros colegas que entenderam ter prioridade em relação a eles.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.