O vídeo tornou-se viral no Facebook nos últimos dias: durante 58 segundos, a imagem mostra um grande navio em alto mar, em cujo convés é possível ver mais de uma dezena de contentores perfeitamente alinhados; em pé, junto aos contentores, pelo menos nove pessoas são vistas a abrir as portas, deixando esvoaçar largas centenas de aves, que rapidamente dispersam e seguem viagem sobre o mar.

Na legenda, lê-se que o vídeo representa “a China soltando milhares de pássaros criados em laboratório” e insinua-se que poderão vir aí novos vírus — depois de o coronavírus responsável pela Covid-19 ter sido registado inicialmente em Wuhan, na China, e provocado uma pandemia global.

A publicação de Facebook consultada pelo Observador foi divulgada no dia 5 de novembro e, cinco dias depois, o vídeo já tinha sido visto cerca de 3.400 vezes. Todavia, a informação é falsa, uma vez que o vídeo usado nesta publicação é, na realidade, bastante antigo — remontando pelo menos a 2017, dois anos antes do surgimento dos primeiros casos de Covid-19 na China — e nem sequer foi filmado na China.

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Com efeito, é possível seguir o rasto a estas imagens na internet e perceber em poucos cliques que elas já levam uma história mais antiga do que a pandemia e retratam uma realidade bem mais prosaica do que uma alegada conspiração chinesa para disseminar doenças contagiosas pelo planeta: corridas de pombos.

Este mesmo vídeo, com maior qualidade e com um enquadramento mais alargado do que o da publicação viral, foi publicado no YouTube em novembro de 2017 por uma conta escrita em chinês. O título desse vídeo apresenta as imagens como retratando um lançamento de pombos ocorrido em 1 de novembro de 2017 a partir da frota naval “Beihai Jinping”.

O mesmo vídeo foi publicado no dia seguinte na página de Facebook de uma ONG de Taiwan dedicada a promover as corridas dos “pombos da paz” e a contribuir para a conservação das aves naquele país. Também naquela página, o vídeo é descrito como retratando um treino de pombos de corrida, e até com mais detalhe: trata-se de um treino de 50 quilómetros em mar que começou pontualmente às 7h30 do dia 1 de novembro de 2017.

As corridas de pombos são uma prática muito comum em Taiwan e na China, mas com implicações ambientais bastante grandes. Apesar de movimentarem uma economia considerável (com pombos campeões a serem vendidos por valores milionários, como este que foi vendido na China por 1,9 milhões de dólares), as corridas causam a morte a milhões de pombos todos os anos e têm estado na mira das autoridades policiais em Taiwan.

Também já não é a primeira vez que este vídeo é usado para disseminação de informações falsas: em 2018, circulou nas redes sociais como se retratasse ativistas da Greenpeace a libertar pombos que iam ser vendidos ilegalmente na Europa. Na altura, também essa história foi desmontada.

Conclusão

Ao contrário do que diz a publicação que se tornou recentemente viral, o vídeo que mostra centenas de aves a serem libertadas em alto mar não retrata “milhares de pássaros criados em laboratório”, mas sim pombos de competição a treinar para um desporto comum em Taiwan e na China. A insinuação de que se trata de uma prova de uma qualquer conspiração promovida pelo governo chinês em época de pandemia é, por isso, desprovida de sentido.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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