É o caso típico de declarações que, quando tiradas de contexto, deturpam o seu significado. José Pacheco Pereira disse, de facto, a frase “Isto já não é um Governo, é um amontoado de gente tratando da sua vidinha”, mas não em relação ao atual governo, como uma publicação feita esta semana no Facebook faz crer. A publicação, datada de 22 de fevereiro, não dá qualquer contexto, consistindo apenas na fotografia do comentador e ex-dirigente social-democrata acompanhada da referida frase. Sendo assim, a publicação é enganadora, porque sugere que a frase é aplicada ao atual governo.
Ao Observador, Pacheco Pereira confirma que é “falso”, na medida em que é “descontextualizado”. Não negando a autoria daquela expressão — mesmo que não a tenha dito “rigorosamente assim” –, mas sem querer precisar exatamente o ano, o comentador e historiador garantiu que, assim como está, é “totalmente falso”. Isso não impediu a imagem, segundo dados cedidos pelo Facebook, de ter sido partilhada quase mil vezes desde 22 de fevereiro e ter tido mais de 25,7 mil visualizações.
Na verdade, a frase atribuída a Pacheco Pereira já aparece em sites e fóruns da internet desde abril de 2013, o que evidencia que foi proferida no conturbado período da troika, durante a governação do PSD/CDS — governação essa da qual o comentador social-democrata sempre foi muito crítico.
Nessa altura, de resto, há vários registos noticiosos que dão conta de declarações polémicas de Pacheco Pereira face ao governo da altura, liderado por Passos Coelho. As declarações eram proferidas no programa Quadratura do Círculo que, na altura, partilhava com o atual primeiro-ministro António Costa e com António Lobo Xavier. Uma delas mostra Pacheco Pereira a defender a demissão do governo da altura ou a dissolução da Assembleia da República, que no seu entender se tinha tornado “vingativo” em relação àqueles que lhe criavam obstáculos, nomeadamente o Tribunal Constitucional. “O desastre da política económica deste Governo já existia antes da decisão do Tribunal Constitucional”, dizia em abril de 2013, onde afirmava que o governo se estava a “tornar vingativo”.
Em abril de 2014, a mesma frase atribuída a Pacheco Pereira aparece noutro sites, nomeadamente num blog relacionado com Oeiras: “Pacheco Pereira: Pensaram sempre em atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias, serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais, contratos leoninos, interesses da banca, abusos a cartéis das grandes empresas. Pode-se dizer que fizeram uma escolha entre duas opções, mas a verdade é que nunca houve opção: vieram para fazer o que fizeram, vieram para fazer o que estão a fazer. Isto já não é um Governo, é um amontoado de gente tratando da sua vidinha”, lê-se na publicação da altura.
Pacheco Pereira foi uma das vozes, à direita, mais crítica da governação de Passos/Portas no tempo da troika, tendo participado na célebre conferência da Aula Magna organizada por Mário Soares, no final de 2013, e tendo subido a esse palco para criticar duramente as políticas seguidas pelo primeiro-ministro de então.
Conclusão
Embora não haja registos de que a frase tenha sido dita exatamente nesses termos por José Pacheco Pereira — o próprio afirma que não disse “rigorosamente assim”, mas não se lembra dos termos exatos — o que é facto é que a frase não se aplica ao atual Governo, como evidencia a publicação feita esta semana por um utilizador do Facebook. Pacheco Pereira não nega, ao Observador, a autoria da frase (ou semelhante) mas afirma que, ao ser publicada sem contexto e tanto tempo depois de a ter proferido, é usada indevidamente. É verdade que o ex-dirigente social-democrata foi um forte crítico das políticas de governação de Passos Coelho/Paulo Portas durante o período da execução do memorando de entendimento da troika.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador este conteúdo é:
De acordo com o sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta;
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.