A 6 de Abril, comemoram-se os 640 anos da vitória portuguesa na Batalha dos Atoleiros.
A Batalha dos Atoleiros insere-se num período da História de Portugal conhecido como Interregno, época de transição entre o final da I Dinastia e o início da II, caracterizado pela crise de sucessão aberta com a morte de D. Fernando, cuja única filha legítima, D. Beatriz, ainda criança, se encontrava casada com D. João de Castela.
Quando D. Fernando morre, a 22 de Outubro de 1383, deixa um tesouro público depauperado, devido aos sucessivos combates em que se envolvera nas Guerras Fernandinas. D. Leonor Teles assume a regência, enviando instruções aos concelhos do país para que se fizesse a aclamação de D. Beatriz como rainha da Portugal de acordo com uma das cláusulas do Tratado de Salvaterra de Magos que tinha sido assinado nesse mesmo ano, entre as coroas portuguesa e castelhana. Durante as cerimónias de aclamação, eclodiram revoltas populares em várias cidades e vilas, que se recusaram a aceitar D. Beatriz como rainha.
A 6 de Dezembro, um grupo de homens armados liderados por D. João Mestre de Avis, filho bastardo do rei D. Pedro, entrou no Paço da rainha em Lisboa e assassinou o Conde João Fernandes Andeiro, principal conselheiro de D. Leonor Teles. A população de Lisboa acorreu ao Paço em apoio do Mestre e posteriormente, no Mosteiro de São Domingos, proclamou-o como “Regedor e Defensor do Reino”.
Nessa altura, um jovem nobre, Nuno Álvares Pereira, foi recebido pelo Mestre de Avis, a quem transmitiu o seu apoio, tornando-se, desde então, o “braço armado” do partido do Mestre. Com pouco mais de vinte anos, foi nomeado Fronteiro do Alentejo “Entre Tejo e Guadiana”, com plenos poderes em termos de recrutamento de tropas e de mobilização de recursos para o seu abastecimento. O futuro Condestável tornava-se, assim, uma espécie de comissário régio.
No princípio de 1384, a situação político-militar começa a desenhar-se claramente: há uma bipolarização muito rápida entre o partido do Mestre de Avis, o partido português, o da independência de Portugal, e o partido de D. João de Castela, o partido castelhano, o da submissão de reino lusitano ao vizinho.
A situação agudiza-se quando o rei de Castela, invade Portugal, chamado por D. Leonor Teles com o pretexto de defender o direito ao trono de sua mulher D. Beatriz, mas com o propósito inconfessado de anexar o reino.
Seguem-se, as batalhas da Guerra da Independência, a primeira das quais foi a dos Atoleiros em 6 de Abril de 1384.
Nuno Álvares Pereira ao aproximar-se de Fronteira (local da Batalha), pouco antes de avistar o inimigo, encontra um terreno favorável de natureza argilosa para o combate, junto a uma linha de água. Chefiando um pequeno exército de 1.400 homens, enfrentará uma força consideravelmente superior de 4.000 homens, entre os quais se encontravam as melhores lanças de Castela. Para um exército inferior em número de homens, o local escolhido para o combate era um elemento essencial. Este foi certamente um dos ensinamentos que Nuno Álvares Pereira recolheu dos ingleses, durante a 3ª Guerra Fernandina com quem conviveu durante vários meses. Ao mesmo tempo, soube motivar os seus combatentes, organizando a vanguarda de forma coesa, distribuindo da melhor forma os seus homens e atiradores em locais desimpedidos e favoráveis aos disparos de tal forma que estes puderam atingir, certeira e intensamente, a carga da cavalaria pesada castelhana.
Surgem aqui os primeiros sinais do extraordinário estratega militar que, mais tarde, se viria a revelar na sua plenitude. Da genialidade da táctica militar e da coragem dos soldados portugueses, alicerçada na confiança depositada em Nuno Álvares Pereira, seguro e tranquilo, resultou a vitória dos portugueses.
No dia seguinte à batalha, o Condestável foi em romagem, descalço e a pé, à Igreja de Nossa Senhora dos Milagres, em Assumar, para agradecer a vitória.
Esta batalha, representou no Reino de Portugal uma verdadeira luta pela sobrevivência nacional face à constante ameaça de Castela. A vitória em Atoleiros contribuiu também para a reconstrução de uma ideologia de caracter nacional entre os portugueses, onde o Mestre de Avis e Nuno Álvares Pereira ganharam uma dimensão política de forma irreversível em todo o Reino.
O êxito alcançado nesta Batalha, marcou o tipo de estratégia que o exército português viria a adoptar nos 27 anos seguintes, na Guerra da Independência com Castela. De acordo com o tipo de actuação preferido de Nuno Álvares Pereira, o seu exército deixou de se limitar a defender os seus castelos, passando a ter uma movimentação constante, tanto em Portugal como em Castela, onde o Condestável realizará nesse período seis incursões distintas.
A Batalha dos Atoleiros preparou o caminho para Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), que concluiu este ciclo de batalhas, pondo termo às pretensões expansionistas de Castela e consolidando a independência de Portugal.
Junto à vila de Fronteira (perto de Estremoz), temos o Centro de Interpretação da Batalha dos Atoleiros, construído em 2012, tendo na altura tido uma enorme colaboração de Alexandre Patrício Gouveia que veio a ser também Presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota até à sua morte em 2023. Prestamos-lhe aqui a nossa justa homenagem.