Qualquer provinciano como eu quando viaja pode inventar um top de destinos. Vou partilhar o meu pódio: a minha cidade preferida é, naturalmente, Lisboa. Quanto mais conheço outras, mais gosto da nossa. É pequena, ainda é pouco moderna, é luminosa e linda. Nasci em Lisboa e nunca vivi em Lisboa. Acho que foram muito poucas as noites que dormi nesta cidade… mas é a minha e é a mais bonita que conheço, sinceramente.

No segundo lugar vem Nova Iorque. É curioso que muitas vezes as pessoas que mais dificilmente compreendem o amor de muitos europeus por Nova Iorque são os americanos. Ao contrário do que muitos na Europa pensam, a maior parte dos americanos não se identifica com Nova Iorque. Pelo contrário. A história da “small town USA” é mesmo verdade. Apesar de a grande maioria da população dos Estados Unidos viver em cidades, a urbanidade não é uma sensibilidade consensual no modo de ser americano.

Já estive em Nova Iorque várias vezes. As primeiras duas foram como “A Rosa Púrpura do Cairo” do Woody Allen, em que a pessoa se sente a entrar no filme. Chega-se pela primeira vez mas parece que sempre lá estivemos. Provavelmente nenhuma outra cidade permite essa experiência porque provavelmente nenhuma outra cidade ocupa tanto espaço na nossa imaginação, à custa dos filmes que nos educaram.

As outras ocasiões em que estive em Nova Iorque já ofereceram um pouco da sua rotina, o dia-a-dia de circular por ela como quem tem tarefas para cumprir. Nunca trabalhei em Nova Iorque mas sinto que, se tivesse de o fazer, já me orientava. O segredo para realmente conhecer uma cidade é vaguear por ela. Visitar ou turistar uma cidade pode ter as suas virtudes mas o conhecimento não é uma delas. Não posso dizer que já me perdi em Nova Iorque porque o facto de ser uma cidade moderna dificulta-nos a tarefa de nos perdermos lá, mas já deambulei bastante por ela.

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O terceiro lugar do pódio das minhas cidades preferidas era ocupado por Roma. Só fui a Roma uma vez mas o impacto foi grande. Avassalou-me e concordei que, sim, é uma cidade eterna. Vi o que os turistas tristes vêem e pensei que nunca terei camioneta para tanta areia. Para quem cresceu na Bíblia, como eu, não dá para resistir a uma cidade que deu chão aos nossos heróis da infância. Tirei uma fotografia junto à prisão marmetina, onde Pedro e Paulo terão estado presos, e senti-me meio indigno. Regressei a Portugal preservando-me como protestante mas confesso que fui abananado pelo berço do Catolicismo.

Até que fui a Atenas. Atenas deu cabo de Roma. Atenas subiu ao pódio e Roma saiu. Claro que nada disto precisa de ser uma competição mas uma competição também pode tornar tudo mais emocionante. Não esperava isso da Grécia até porque, de certo modo, a reputação clássica dos gregos sempre me irritou um pouco. Explico: ser a suposta maternidade da sabedoria é uma reputação que facilmente se enfia pelos nossos nervos. Não gosto de me sentir ignorante mas ao mesmo tempo cultivo a liberdade meio bronca de fazer pouco dos que se acham inteligentes. Nesse sentido, Atenas era armada em boa.

Isto durou até chegar a Atenas. Sim, tinha a minha ideia acerca da Acrópole. O nome Acrópole existe desde cedo na minha vida porque a minha mãe deu aulas num colégio em Lisboa chamado “Acrópole”, no Chiado, e cresci a ouvir a minha mãe dizer que ia dar aulas para a Acrópole. Também por isso tinha as minhas ideias pré-concebidas acerca da Acrópole. Mas, caramba, a Acrópole real é muito mas muito melhor do que as ideias que tinha acerca dela: é mais alta, entroniza toda a cidade, é uma verdadeira coroa para Atenas. Ainda por cima, eu e a Rute visitámo-la às sete da tarde de um Domingo, quase a fechar, já sem as hordas zombies turísticas habituais. Um verdadeiro prodígio, a Acrópole.

O sopé da Acrópole corresponde àquela paisagem plácida de templos clássicos, muitas oliveiras e sol quente que a banda desenhada do Alix, por exemplo, sugere. E depois há os gregos, tão seguros de si como os italianos (por alguma razão esperava que ninguém superasse os italianos), as mulheres com uma beleza estranhamente feita de linhas mais rectas do que as portuguesas, e conseguirem juntar classe ao mau feitio. Classe e mau feitio numa relação consistente, acho que é isto. Nunca vi povo assim. Desapontamento, que não foi bem desapontamento, vá, foi só um: o Areópago onde Paulo pregou é, como dizemos agora em inglês, algo underwhelming. Esperava algum arrebatamento. Como não se paga para lá ir, há a verdade da confusão: turistas nórdicos em tentativas de bronzeamento frustrado contrastam com muitos turcos sob o aroma de ganza. Desculpa, Apóstolo Paulo, apeteceu-me dizer.

Portanto: Lisboa, Nova Iorque e Atenas. Fico de pé e aplaudo.