Passaram apenas 6 meses desde que foi identificado o primeiro ser humano infetado com o novo coronavírus. Seis meses que parecem anos, tendo em conta a quantidade de informação a que temos sido expostos diariamente por todas as vias de comunicação possíveis. Sabemos quantos foram infetados e quantos morreram em cada canto de Portugal, cada país europeu, na Índia, ou no Brasil, ou nos Estados Unidos e temos formas de saber o que se passa em tempo real em quase todos os países do mundo. Não há distâncias que diluam a informação. Pela primeira vez, estamos a viver uma pandemia em tempo real. Pelo menos assim é nos países democráticos e onde impera o acesso livre às fontes de informação como é, felizmente, o nosso caso. Há muitos países, cujos cidadãos não têm livre acesso à informação sobre a Covid-19, como não têm a muitas outras áreas e que foi recentemente causa de preocupação demonstrada pelo Secretário-Geral da ONU.

No nosso caso, o problema é a exposição diária a quantidade excessiva de informação que cresce constantemente de forma desmesurada desde que a doença foi conhecida até aos dias de hoje. Temos que desinfetar as compras quando se chega a casa e depois, afinal, já não. Não precisamos de usar máscara devido à falsa sensação de segurança e, de um dia para o outro, todos temos que usar máscara e quem não usar está a aumentar o risco de contágio dos outros. Os meios de transporte cheios são, compreensivelmente, um ambiente propício ao contágio, mas parece que a regra não se aplica aos aviões, nem aos comboios da linha de Sintra. A hidroxicloroquina ajuda a tratar a Covid-19, ou já não, porque não só não faz bem, como pode fazer pior. Temos a vacina para o mês que vem, ou será para o ano de 2021, na melhor das hipóteses? Temos um Rt superior a um num dia, inferior a um no dia seguinte (e já agora o que é o Rt?). Temos experiências científicas, que são vendidas como um passo extraordinário para o tratamento da Covid-19, mas que nunca saíram da fase de tubo de ensaio de uma qualquer equipa de investigação. A OMS, que parece contradizer-se dia sim, dia não. E tudo isto, e muito mais, tem aparecido nas redes sociais, nos telejornais e nos jornais numa mesma semana, senão num mesmo dia.

Não me parece difícil concluir, que toda esta informação (a que já se chama infodemia) confunde a mente mais preparada e não ajuda, antes pelo contrário, a baixar a ansiedade e o medo associados a uma situação que tem um risco associado para a saúde e mesmo para a vida das pessoas. Paradoxalmente, e ao mesmo tempo, há notícias que dão a sensação de que o pior já passou e que podemos aliviar comportamentos como o uso da máscara ou o distanciamento social.

É fundamental que os órgãos de informação mais responsáveis não sejam uma caixa de ressonância de todo e qualquer tema que tenha a ver com a Covid—19 e, tal como fazem noutras situações, confirmem as fontes e a correção das notícias. Nem tudo o que parece ter valor científico o tem e há informação que resulta de necessidade de protagonismo de grupos científicos, de companhias farmacêuticas, ou mesmo de Estados, ou de governos. Vale mais dar notícias corretas com algumas horas de atraso, e outras nunca dar, do que despejar toda a informação que vai chegando pelas mais diversas vias.

As autoridades de saúde devem também cultivar uma comunicação com maior transparência, veiculando através dos meios de comunicação a informação relevante em cada momento, o fundamento das decisões e, muito importante, as razões que levam a mudar de posição sobre determinado aspeto da gestão da pandemia. A atitute paternalista de outros tempos, típica das autoridades, já não resulta. Os cidadãos precisam de perceber o que está por detrás da decisão em cada momento. Explicar que numa fase inicial não havia máscaras disponíveis para todos e, baseada no risco, foi tomada a decisão de dar prioridade aos grupos com maior risco e, conforme a quantidade de máscaras disponíveis fosse aumentando, se iria alargando o acesso a todos (o que refletia a realidade), teria sido a opção adequada. Ao invés, foi usada uma explicação que um pingo de bom senso desaconselharia. A falta de transparência e de racionalidade provoca desconfiança nos cidadãos. Os membros do Governo e as autoridades de saúde pública devem trabalhar com os meios de comunicação no sentido de prestar informação que crie confiança nas pessoas.

O fortalecimento da capacidade de comunicação dos riscos, de forma credível, é um componente essencial para melhorar a sensação de segurança e a adesão racional às medidas de controlo da pandemia na sociedade. Desta forma conseguiremos combater o maior efeito adverso desta pandemia: sociedades amedrontadas.

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