Numa altura em que o Sindicato dos Enfermeiros – SE comemora 110 anos, é imperativo lançar um grito de alerta à população e ao Governo sobre a crise que assola a saúde em Portugal. Mais uma vez, tal como esperado, porque nada foi feito para o evitar, o sistema de saúde português está a entrar em colapso total com a falta, em particular, de enfermeiros nos diferentes serviços dos hospitais, a que se junta uma crescente multidão de doentes à espera nos corredores das urgências e uma motivação em declínio entre os profissionais de saúde. Infelizmente, mais uma vez, não foi preparado e divulgado atempadamente o plano de contingência do inverno e como os hospitais vão suportar a crescente procura por parte dos doentes.

O cenário que se desenha nos hospitais portugueses é desolador. As urgências começam a ficar sobrelotadas e os doentes enfrentam tempos de espera intermináveis. Esta situação não é apenas uma questão de comodidade, mas sim uma ameaça à vida de muitos dos que procuram cuidados de saúde.

A falta de recursos humanos, e a sobrecarga de trabalho aos que diariamente se apresentam ao serviço, estão a colocar em risco a qualidade dos cuidados de saúde prestados no nosso País.

Uma das questões mais alarmantes é a escassez de profissionais de saúde, que compromete não apenas a capacidade de resposta no Serviço de Urgência, mas também a capacidade de resposta dos internamentos e nas diferentes tipologias de unidades de saúde. Os enfermeiros estão a trabalhar sob condições exaustivas, muitas vezes ultrapassando os seus limites físicos e emocionais. O que põe em causa a saúde dos doentes, mas também a dos próprios enfermeiros, que enfrentam um risco crescente de esgotamento e exaustão.

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A ausência de um plano de contingência eficaz para o inverno agrava ainda mais a situação. A cada ano, a temporada de gripes e infeções respiratórias coloca uma pressão adicional sobre os hospitais, e é imperativo que o sistema de saúde esteja preparado para enfrentar esse desafio, mais uma vez os cuidados de saúde primários estão envoltos numa resposta que não serve os portugueses. A falta de planeamento e de recursos adequados tem sido uma constante, deixando os hospitais a braços com uma crise recorrente, apresentando-os como a única resposta em cuidados de saúde 24 horas por dia, 365 dias por ano. E a verdade é que, ano após ano, repetem-se os mesmos problemas e os mesmos erros. “Sempre assim foi”, diz o Ministro da Saúde, num incompreensível sacudir de água do capote.

Em vez de enveredar pelo diálogo com as estruturas sindicais, e o Sindicato dos Enfermeiros sempre esteve disponível para negociar, o Ministério da Saúde prefere adotar a postura de Mizaru, Kikazaru e Iwazaru: não vê, não ouve e não fala.

É crucial que o governo assuma a responsabilidade por esta crise e tome medidas imediatas para resolver os problemas que afetam o sistema de saúde em Portugal. Não basta fechar serviços de urgência e blocos de parto em escalas rotativas, lançando o caos nos serviços de socorro e emergência, que têm de andar constantemente a perguntar qual a porta que está aberta, em vez de levarem os doentes para a porta mais próxima.

É necessário investir em recursos humanos, contratar, em particular, enfermeiros, melhorar as condições de trabalho para garantir que os profissionais de saúde possam desempenhar as suas funções de forma eficaz e segura. Além disso, é essencial implementar um plano de contingência robusto que antecipe as necessidades sazonais e garanta uma resposta adequada a emergências e urgências, não colocando em causa toda a cadeia de cuidados de saúde, onde se incluem cirurgias, consultas, tratamentos, meios de complementares de diagnóstico, no fundo, a tal resposta integrada em saúde que os portugueses procuram.

A população também desempenha um papel importante nesta equação. É fundamental que os cidadãos compreendam a gravidade da situação e exijam ações concretas por parte do Governo. A saúde é um direito fundamental, e todos têm o direito a cuidados de saúde acessíveis e de qualidade.

A crise na saúde em Portugal não pode ser ignorada. O sistema de saúde está a entrar no caos absoluto, e a falta de ação pode ter consequências devastadoras para a população portuguesa.

É hora de lançar um grito de alerta e exigir que o Governo tome medidas imediatas para resolver esta crise e garantir que todos os cidadãos tenham acesso a cuidados de saúde dignos e seguros. O futuro da saúde em Portugal depende das ações que tomarmos hoje. Os enfermeiros estão disponíveis para ser esse agente de mudança. E o Ministério da Saúde?