Os resultados destas eleições Europeias são claros: foi positiva a descentralização das assembleias de voto, mas o aumento de 5,7% na afluência não é suficiente e é preciso mais. A realidade é que, infelizmente, os problemas europeus ainda são demasiado distantes para a maioria dos eleitores. Para estes, as decisões de Bruxelas têm menos impacto do que as do Governo, e estas, têm menos impacto do que as da Câmara Municipal. É por isso que, por regra, as eleições autárquicas têm a maior participação eleitoral e as Europeias a menor. A somar a isto, também era previsível a saída dos eleitores para fora das suas zonas de residência para aproveitar os feriados. Em maio, no Algarve, a taxa de ocupação dos hotéis já era de 74,4%.
Em Portugal, é mais difícil votar do que fazer um levantamento bancário ou pagar um imposto. Aquela que é a decisão mais relevante para o país requer um procedimento idêntico ao de há mais de 200 anos, com um papel e uma urna. Como muitas das coisas em Portugal, também o processo eleitoral não está planeado para facilitar a participação das pessoas, muito menos para aumentar a diversidade de candidatos.
O facto de se poder votar em qualquer mesa de voto no país foi um passo em frente. No entanto, ficou provado que não basta. Quem vai para a praia ou de férias para o campo até pode querer votar, mas provavelmente não terá disponibilidade para enfrentar as filas provocadas pelo aumento de pessoas no Algarve, ou paciência para decifrar a comunicação eleitoral da CNE e encontrar a assembleia de voto mais próxima.
Os partidos que tanto falam em desburocratizar e em digitalizar processos no Estado nada referem sobre a desmaterialização do voto, o que à partida seria óbvio.
O voto deve estar à distância de um clique, deve ser um ato fácil e intuitivo. Agora, após a digitalização dos cadernos eleitorais e a descentralização das assembleias de voto, é preciso continuar e dar o passo seguinte: desmaterializar o voto e permitir que mais pessoas votem. Não é concebível que uma democracia, que se quer madura, tenha uma participação tão baixa de jovens. O processo eleitoral deve adaptar-se aos novos tempos e acompanhar as melhores práticas internacionais de participação cívica.