Nos dias de hoje podemos afirmar, sem qualquer tipo de dúvida, que vivemos num período de incerteza, que está a impactar a economia global. Sabemos que a pandemia acelerou o processo de transformação digital da economia e da sociedade, mas a instabilidade do contexto geopolítico derivado da guerra entre a Rússia e a Ucrânia veio alterar tanto as perspetivas económicas e de negócio e como todas as previsões de evolução para os próximos anos. No entanto, e apesar de todas as incertezas, os próximos anos serão caracterizados por um mundo digital-first, assente numa cultura que tem como princípio priorizar o uso de serviços digitais em vez dos tradicionais, e numa sociedade em que as pessoas utilizam o digital e a tecnologia para se conectarem, encontrar soluções inovadoras para dia a dia, criar valor e desenvolver vantagens competitivas.

Segundo os dados divulgadas pelo Conselho de Finanças Públicas (CFP) para o período 2022-2026, a economia portuguesa irá registar uma enorme desaceleração nos próximos anos: até 2026 o melhor resultado em perspetiva é um crescimento de 2% em 2024 e em 2023 a economia apenas crescerá 1,2%. Já as projeções do FMI divulgadas em outubro 2022 apontam para travagem a fundo na Europa, sendo que a previsão para a economia portuguesa é um crescimento de apenas 0,7% em 2023.

No entanto, no caso específico da indústria tecnológica, a situação perspetiva-se um pouco diferente. Até ao final 2022, o mercado de Tecnologias de Informação (TI) em Portugal irá ultrapassar, pela primeira vez, os 5 mil milhões de euros, um crescimento de 3,9% face a 2021. Segundo a IDC, grande parte do investimento em tecnologia e no digital será canalizado para novos use cases de transformação digital. Os investimentos diretos em transformação digital vão acelerar para um crescimento anual médio de 16,5%, no período de 2022 a 2025. O investimento em Inteligência Artificial e Realidade Aumentada/Realidade Virtual (AR/VR) irá aumentar 24,3% e 56,6%, respetivamente, até 2025. Uma das áreas de maior crescimento é a de Blockchain (34,6%). Como consequência deste crescimento, a transformação digital vai representar 50% de todo o investimento nacional em TIC até o final de 2025.

Por outro lado, de acordo com estudo “Total Compensation 2022”, realizado pela Mercer, espera-se também um aumento no que diz respeito aos salários dos colaboradores das organizações multinacionais, embora insuficiente para acompanhar a escalada da inflação, bem como uma dificuldade cada vez maior em contratar novos talentos.

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No que à atração de novos talentos diz respeito, o estudo apresenta também um cenário em que cerca de 43% das empresas pretendem aumentar o seu número de colaboradores ainda este ano, mas apenas 31% assumem manter esse crescimento para 2023.

Atualmente, vivemos num contexto de escassez de talento e de pleno emprego no setor das TIC. De acordo com os dados do “Global Tech Trends 2022” da Equinix, 62% dos decisores de IT reconhecem que a escassez de profissionais qualificados neste mercado hipercompetitivo, é um dos maiores desafios com que as organizações de todo o mundo se deparam, e Portugal não é exceção.  No mercado português deparamo-nos com uma dificuldade adicional: a oferta de emprego não se limita apenas a território nacional, sendo cada vez mais comum os profissionais portugueses prestarem serviços para empresas estrangeiras que oferecem pacotes salariais e de benefícios muito competitivos, um fenómeno que prejudica a atração de talento e provoca uma redução drástica na taxa de retenção.

Hoje já não são as empresas que escolhem os candidatos para integrar as funções que pretendem, são sim os candidatos que escolhem as organizações onde querem trabalhar. E para essa escolha contribuem fatores que vão cada vez mais para além do salário: benefícios flexíveis, alinhamento entre os valores pessoais e a visão e valores da empresa, oportunidades de desenvolvimento pessoal e a evolução na carreira, um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e um ambiente inclusivo, tendem a assumir um papel fundamental na tomada de decisão dos candidatos.

Em resumo, é possível compreender que, apesar das projeções positivas para as organizações e todos os intervenientes do setor das Tecnologias de Informação, a economia portuguesa encontra-se numa posição pouco favorável para atacar os difíceis desafios dos próximos anos.

Assim, a questão que se impõe é: Como é que nos devemos preparar para o futuro?