O programa «Mais Habitação», apresentado pelo PS, num regresso ao PREC dos anos 70 do século passado, exibido com toda a pompa e aclamado pela comunicação social, está morto e enterrado. Todos o percebem, incluindo o Governo e as suas esquerdas de estimação, sempre ansiosas pela «reforma urbana», como já haviam defendido a «reforma agrária», há perto de cinquenta anos e que tantas feridas abriu nas nossas muitas e boas gentes.
As oposições à direita, essas, há muito que tinham dado o mote ao programa da Habitação: Chumbar! E como estas «oposições», com vista a livrar Portugal e os portugueses do socialismo reinante, têm de se entender, na questão da habitação já há (mais) um ponto de convergência. Não é muito, para quem quer ser alternativa, limitar-se a dizer o que «não quer». Mas é alguma coisa. Além disso, é um bom e auspicioso começo. Ao longo dos próximos meses, seguramente que haverá mais pontos em comum, e nas mais variadas áreas, para a construção da verdadeira alternativa governativa nacional.
Posto isto, e ainda a propósito do programa «Habitação», honra lhe seja feita, o Professor Aníbal Cavaco Silva, um senador do regime, do alto dos seus oitenta anos de vida e sem qualquer ambição política momentânea, foi, se quisermos, o responsável pela machadada final no projecto socialista. O sr. Presidente da República, dr. Rebelo de Sousa, limitou-se a, fora de tempo, dizer que o melão não servia. Isto quando há dias que o assunto estava morto e o melão a apodrecer.
Voltando ao ex-PM e ex-PR, compreendemos, facilmente, que sempre que Cavaco fala incomoda o PS e as suas esquerdas. É normal! O PS não está habituado a ser confrontado com a realidade e acha-se o dono-disto-tudo. Pior: considera-se dono do regime. Além do mais, Cavaco fala com a autoridade de quem governou 10 anos, com duas maiorias absolutas e colocou o País a crescer. Foi Presidente da República outros dez anos e viu Portugal empobrecer, miseravelmente, com a bancarrota da dupla José Sócrates e António Costa.
Entretanto, para que conste, e ainda sobre Cavaco, aquilo a que se assistiu, através das câmaras de televisão, que exploraram o episódio à saciedade, foi um gesto de falta de educação e cultura democráticas. Os autarcas socialistas (Luísa Salgueiro e Ricardo Leão) abandonaram a sala quando Cavaco Silva estava a falar. Este gesto revela o respeito democrático dos socialistas.
Cavaco não é perfeito, e seguramente que se lhe podem assacar erros, mas, em democracia, foi apenas nos seus governos que se assistiu a uma convergência com a Europa e a crescimento económico. Mas há mais. Podemos associar aos seus governos obras emblemáticas como o Centro Cultural de Belém, as pontes de São João e do Freixo (Porto), a Expo’98, a Autoeuropa, a barragem do Alqueva, a Ponte Vasco da Gama, o crescimento da rede de autoestradas, os Planos de Erradicação de Barracas em Lisboa e no Porto, a defesa das aldeias históricas, a defesa do ambiente e ordenamento do território, a construção de hospitais, centros de saúde, escolas e outros edifícios de bem público, a privatização da comunicação social. Em suma, modernizou o País do pós-revolução e do descalabro das aventuras de esquerda, nomeadamente as bancarrotas no tempo dos Governos PS de Mário Soares.
Aqui chegados, apetece perguntar o que é que podemos associar, afinal, à também já longa governação do PS e de A. Costa.
Até ver, temos de o associar aos governos de António Guterres e José Sócrates. António Costa esteve em ambos. No caso do «seu» mandato, até ver, parece que apenas estamos autorizados a associar as cativações, a estagnação, a degradação dos serviços públicos e a total ausência de sentido estratégico e tantos, tantos episódios de corrupção que ensombram os seus sete anos de PM. E o mandato ainda não terminou.
Que fique a lição: se aqueles socialistas, ao invés de serem mal-educados, tivessem ficado na sala a ouvir Cavaco, talvez tivessem aprendido alguma coisa. E se não aprendessem, pelo menos passavam por educados e com sentido de Estado. Assim, mostraram ao País a sua noção de (falta de) democracia.
Cavaco Silva continua a irritar as esquerdas e o PS de modo particular. Pedro Passos Coelho está no mesmo nível de irritação e urticária. Contudo, até prova em contrário, parece que ambos, com os seus erros, as suas insuficiências e as suas imperfeições, fizeram o que puderam por Portugal e as suas intervenções, anos depois de abandonarem funções executivas, são ouvidas e respeitadas pelos portugueses.
O PS, até ver, tem M. Soares, A. Guterres, J. Sócrates e A. Costa para mostrar. Não me parece que algum destes vença um concurso de seriedade e sentido patriótico de devoção à causa pública. Contudo, aguardemos pelos próximos tempos. Após as aventuras geringonceiras, a política, em Portugal, parece que voltou a ter interesse. E os próximos tempos prometem. No meio disto tudo, concentremo-nos no essencial: o bem comum de Portugal e dos portugueses. Com ou sem Cavaco. Com ou sem Pedro Passos Coelho.