Muitos dos alunos do ensino básico têm sido sujeitos a provas de aferição. Em breve, outros tantos serão sujeitos a exames nacionais.

Os portugueses foram surpreendidos pelo conteúdo das provas de aferição. A prova de aferição de Educação Artística, por exemplo, pedia a alunos do segundo ano (antiga segunda classe) que imitassem o som e o movimento de uma minhoca ou de um sapo cego. Isto não se inventa. Está no enunciado da prova.

Mas há mais. O actual Ministério da Educação, que tem na sua agenda a intenção clara de, por vontade ideológica, exterminar os exames (ainda não acabou com eles por falta de coragem política), vai mantendo os alunos e os professores entretidos com «provas de aferição» e com as belas palavras da «digitalização» e «inclusão». Tem sido assim há vários anos, especialmente desde 2008. Tem-se acentuado nos últimos.

O «programa» maior do socialismo para a área do Ensino assenta, fundamentalmente, nestes dois belos termos da «modernidade»: «digitalização» e «inclusão». Duas palavras bonitas que ficam bem em todos os discursos públicos e nos documentos oficiais, mas que, na prática, não significam coisa nenhuma para as escolas ou para os alunos. Nada que seja para admirar. Afinal, para o socialismo, o que importa é o efeito propaganda. Não interessa que os alunos aprendam. Interessa que sejam «digitais». Não importa que os alunos saibam. Basta que haja «inclusão» e se fale, à saciedade, da «escola inclusiva». Ainda que isto, na prática, signifique pouco, na hora da propaganda mediática representa tudo. E isto basta ao socialismo reinante. Afinal, quem é que não é a favor da «digitalização» e da «inclusão»?

Aqui chegados, e como nos aproximamos do final de mais um ano lectivo, devemos perguntar se é este o nível de «aferição» e de «avaliação» que se pretende para os alunos que estão a terminar a antiga segunda classe. E se os alunos que estão a terminar o segundo ano devem preocupar-se em imitar minhocas e sapos cegos.

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Devemos perguntar, também, como sociedade, se é esta «escola pública» e este «futuro» que pretendemos para o ensino.

Apetece perguntar se as famílias, lá em casa, ao terem conhecimento do teor destas provas e de tudo quanto se passou nas escolas públicas ao longo deste ano lectivo, ainda olham para a escola como um espaço de aprendizagem ou se a escola se limita a ser um lugar de mero lazer. Pior, ainda, se a escola se limita a mero espaço de doutrinação, estupidificação e imbecilização.

Para os mais distraídos, a escola deve ser o espaço por excelência para a aprendizagem e para a aquisição de competências: leitura, escrita, cálculo mental, interpretação, espírito crítico, reflexão, etc, mas também, naturalmente, socialização. A chatice dos diabos, como sabemos, é que a escola, nos últimos anos, tem servido, fundamentalmente de veículo de «doutrinação ideológica» e de imbecilização constante. Há bons exemplos de escolas públicas, com toda a certeza; mas na sua maioria, infelizmente, a indisciplina gritante e a imbecilização constante têm feito caminho de domínio (quase) absoluto.

Entretanto, e uma vez que estamos a terminar mais um ano lectivo particularmente agitado, com professores descontentes e milhares de alunos sem docentes às mais variadas disciplinas, além de uma crescente doutrinação ideológica, apetece perguntar se é este panorama que pretendemos ver replicado para o próximo ano lectivo, que se iniciará em Setembro, mas que se começa a preparar estas semanas.

Os milhares de pais que contam retirar os seus filhos do ensino público e os transferirão para o ensino privado, já a partir de Setembro, mostra-nos o óbvio: o socialismo enche a boca com a «defesa do ensino público», a chatice dos diabos é que tudo faz para o destruir. Parece haver aqui uma intenção clara: matar o ensino público de qualidade, transformando as escolas em meros depósitos de crianças. Não se tratam os alunos como alunos, mas como crianças em depósito. Isto, sim, é o socialismo! Afinal, o sistema público é bom para os filhos dos outros. Os filhos dos «socialistas», esses, enchem as vagas do ensino privado.

O grande problema são as famílias que não têm a possibilidade de escolher. E todos nós, por conivência ou silêncio cúmplice, de uma maneira ou de outra, estamos, e a passos largos, a contribuir para matar a escola. Mas chegará um dia, certamente, em que teremos de colocar a magna instituição Escola e o «ensino público» no centro do debate mediático e político nacionais.

Finalmente, para que se perceba, digitalização geral, sim, mas sem alinhamento na estupidificação global ou na doutrinação obstinada em que alguns estão a colocar as escolas. Além do mais, as escolas não podem tornar-se em espaços de mero activismo ideológico doentio.

Eu (ainda) acredito que é possível restaurar o ensino em Portugal! E tenho a certeza que muitos portugueses apoiam este desafio de acreditar e restaurar o ensino público. Um ensino de qualidade, cumprindo a sua missão primordial: ensinar e preparar as futuras gerações para os exigentes dias de amanhã.