O conturbado presente em que nos é dado viver mostra que a sociedade está doente. E uma doença tenebrosa. O diagnóstico, esse, há muito que está feito: loucura. Uma forte dose de loucura.

Vejamos os casos mais recentes da loucura.

Nos últimos dias, disseram-nos que a escultura de Miguel Ângelo tem a pilinha à mostra. Levantou-se um ruído medonho. Pior: foi um escândalo e horror. Amanhã vão querer colocar ceroulas no David renascentista.

Mas a loucura não se ficou por aqui. Até as obras de literatura mundial, verdadeiros tesouros da Humanidade, são alvo desta perseguição doentia da linguagem e dos costumes.

Os livros de Agatha Christie, por exemplo, e segundo esses doentes, têm de ser reescritos, porque os arautos do wokismo os acham politicamente incorrectos e anti-inclusivos. Estes livros juntam-se à lista de obras que vão ser reescritas para excluir descrições físicas, referências étnicas e eventuais termos que possam parecer insultuosos aos polícias dos costumes: os agentes wokistas. Repare-se que o mesmo já tinha acontecido com outros autores.

Há poucas semanas, várias publicações antigas foram revistas de forma a não terem linguagem ou descrições que possam ser consideradas por alguns leitores ofensivas. É o caso da saga dos livros «007» e das obras infantis de Roald Dahl.

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A saga literária de «007», escrita por Ian Fleming entre 1955 e 1963, foi revista para remover referências racistas e «ofensivas».

Relativamente à obra infantil de Roald Dahl, consta-se que as alterações serão com descrições físicas: em vez de «gordo», «enorme»; em vez de «feia e burra», apenas «burra». Ao todo, trata-se de centenas de palavras substituídas por outras que a editora assume serem mais inclusivas.

Essa elite pseudo-intelectual de pacotilha entende que pode alterar o texto dos autores a seu bel-prazer, para satisfazer as agendas dos costumes, esquecendo que há uma obra literária que importa respeitar na pessoa do seu autor e época em que surgiu. Já não se trata de uma mera doença, mas temo que tudo isto se torne um crime de adulteração dos trabalhos literários.

Já agora, para a semana vão reescrever os livros infantis da Anita, com versões «inclusivas» da moda do «arco-íris»?

Segundo esta malta, há aqui uma campanha de profilaxia e de «higienização inclusiva». Estamos perante gente perigosa, muito perigosa, que não está preocupada em proceder a uma campanha de revisionismo estético, protecção de pessoas sensíveis ou crianças a conteúdos chocantes. Isto é censura pura e dura e uma campanha pela estupidificação geral. Uma estupidificação através da loucura. E uma loucura que arrasta todos.

Esta cegueira da narrativa wookista é, fundamentalmente, de esquerda. E isto deve ser escrito com toda a clareza. Afinal, a direita, ou as «não-esquerdas», normalmente, têm coisas mais importantes para discutir para o país do que a imbecilidade de «alterar» obras literárias, casas de banho sem género, de defender uma linguagem neutra, defender a explosão de monumentos históricos, a destruição de pinturas e de obras de arte de outros tempos.

Outro assunto a que esta malta gosta de dedicar-se, normalmente, é a condenar o passado e os nossos homens de antanho. O tema da escravatura, como sabemos, é recorrente, para essa condenação colectiva a que tentam sujeitar os portugueses, em geral, e os ocidentais, em particular. É o famoso processo de estupidificação global em curso. Continuará assim, pelo menos enquanto deixarmos. Sobre esta matéria, querem fazer memoriais aos escravos. Querem dar indemnizações aos descendentes de escravos.

Mas será que vão obrigar os romanos a indemnizar Portugal pelas invasões levadas a cabo pelo império romano e pelo processo da romanização?

No caso dos árabes, vão exigir uma indemnização pela invasão da Península Ibérica? Ou será que a arabização da Europa foi boa?

Pelo que se percebe, a islamização foi uma maravilha. Foi e é. A ocidentalização africana é que foi má. Esta gente anda doente. E é tão selectiva na sua agenda, que não percebe o ridículo das suas posições. A não ser que conte com o sonambulismo do Ocidente que teima em não reagir de modo organizado e disciplinado.

É, para os mais distraídos, a liberdade que está em causa.

Quando se abordam estes assuntos, parece que há sempre uns «catedráticos em ideologia woke», mas sem qualquer qualificação científica para falar do que quer que seja. Quando escrevem nas páginas dos jornais, nas redes sociais ou falam nos estúdios de televisão, sobra-lhes em ódio à História e aos portugueses, o que lhes falta em honestidade intelectual.

Nesta doentia campanha, todos os dias anunciam um «cancelamento».

Amanhã será o Gil Vicente, Camões ou o Eça. E o Bocage, claro. Há aqui uma acção concertada de vil ataque à História, à memória e à civilização.

Nesta senda, já quiseram dinamitar o padrão dos descobrimentos, destruir os monumentos antigos, mudar o nome das ruas, como mudaram os nomes das pontes, praças e avenidas. Amanhã vão abolir os nomes dos hospitais de Santo António, São João, Santa Maria, etc. porque invocam nomes religiosos e vão exigir nomes neutros. O mesmo critério para os nomes das terras, cidades e distritos.

Esta malta, se deixarmos, paulatinamente, destruirá a nossa secular identidade.

O que é típico desta rapaziada é inventar problemas onde eles não existem, só para fazer de conta que resolvem alguma coisa. Tem sido assim há décadas. Inventaram o problema do aborto, inventaram o problema da eutanásia, do pseudo-casamento gay, etc. Agora inventaram este problema dos ataques à nossa memória e à cultura. Inventam problemas onde eles não existem, fazendo de conta que resolvem alguma coisa.

Voltando à «cultura do cancelamento», há aqui uma intenção clara de, sob o pretexto da tolerância e de andarem sempre com a boca cheia dessa bonita palavra, vomitarem intolerância e ódio a quem pensa de modo diferente. Quando confrontados: mostram que não querem debate livre de ideias, basta-lhes lançarem meia dúzia de palavras ofensivas e o debate está terminado. O uso de termos como «fanáticos», «intolerantes», «fascistas», «radicais» costuma ser suficiente para a conversa ficar terminada.

No meio desta loucura medonha, há piadas que já não se podem contar. Há coisas que já não se podem dizer. Há roupas que já não se podem vestir. Há livros que já não se podem ler. Há palavras que já não se podem usar.

Grave, no meio disto tudo, não é que alguns sejam arautos da «cultura do cancelamento», chocante é que a maioria das pessoas considere tudo isto uma disparate e aceite, de forma complacente, que tudo isto seja assim e sem que uma verdadeira revolução se faça pela defesa da liberdade. Sim, é de liberdade que falamos quando nos referimos a este assunto. Ao contrário do que nos dizem, que tudo se trata de uma campanha pela tolerância, o que aqui está em causa é a intolerância no seu mais alto nível, perpetrada pelos pretensos tolerantes e pela «inclusão», mas que são da maior intolerância e exclusão para quem pensa de modo diferente.

Finalmente, parece haver aqui uma espécie de hipnose em massa, em que todos aceitam estas posições anti-liberdade e (quase) ninguém reage. E se alguém reage, publicamente, é considerado um «fascista» e «radical». Ou seja, eles é que querem proibir, os outros, os que defendem a liberdade, a decência e o bom senso, são os «radicais», «ditadores» e «fascistas».

Voltando à hipnose em massa, como alguém escreveu, ela acontece quando as pessoas, parecendo que vivem em total liberdade, não passam de manipuladas por potentes máquinas de propaganda.

Regressando à História e aos vergonhosos ataques a que esta está a ser sujeita, alguns preferem esquecê-la, outros querem adaptá-la aos seus delírios politicamente correctos, eu espero que outros escolham estudá-la, honrá-la e prestar homenagem àqueles que vieram antes de nós. É assim que espero que seja combatida a doença mental que, se não houver cuidado, destruirá o Ocidente e a nossa Civilização Cristã Ocidental.