Muito se tem discutido sobre as vantagens e as desvantagens do ensino online comparativamente ao ensino presencial nas universidades portuguesas. A pandemia Covid-19 teve a virtude de mostrar que o ensino online pode ser um instrumento estratégico nas políticas educativas das universidades. Mas pouco se fala da investigação online, talvez porque entrou de mansinho nas atividades diárias dos investigadores.

Em Portugal, o acesso a bibliotecas online de revistas especializadas em praticamente todas as áreas científicas é tão normal e rotineiro que deixou há muito de ser notícia. A digitalização dos principais instrumentos de investigação, nomeadamente o acesso digital a artigos científicos e livros, bem como a submissão eletrónica de projetos de investigação a entidades nacionais e internacionais, teve um efeito acelerador na produção científica portuguesa e no mundo.

Olhamos para os finais da década de 1980 e podemos ficar orgulhosos da evolução e da internacionalização das universidades portuguesas. Hoje, podemos constatar que cinco universidades portuguesas fazem parte da elite das 500 melhores universidades do mundo, segundo a bitola do índice AWRU (vulgo índice de Shangai), que é o índice utilizado pela União Europeia para conferir a excelência na investigação.

Como é que se chega a este patamar de excelência? Com visão estratégica, o que obriga a elaborar um plano de desenvolvimento de cada área científica, incluindo uma criteriosa política de contratação de professores, investigadores, gestores de ciência e pessoal de suporte técnico. Só assim, a Universidade, incluindo a minha UBI (Universidade da Beira Interior), poderá ter um papel relevante em qualquer geografia. É isto que interessa, é este o legado pelo qual vale a pena lutar. O melhor legado que podemos deixar às gerações futuras de professores, investigadores, alunos e funcionários é o de colocar a nossa universidade no grupo de elite das universidades a nível mundial.

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Ora, para entrar no grupo de elite das universidades, há que igual e mutuamente alavancar a investigação e o ensino. O ensino online é mais polémico do que o ensino presencial. A discussão centra-se normalmente numa bipolaridade entre ensino presencial e ensino online. É uma discussão inconsequente que não acrescenta valor, porque não se trata de escolher entre um e o outro. Trata-se outrossim de utilizar todos os meios ao nosso dispor (que, de momento, são as plataformas digitais) para ensinar e aprender. Por isso, os dois modelos de ensino deverão coexistir nas circunstâncias que a seguir se descrevem. O ensino presencial é a matriz magna da Universidade e assim continuará nas próximas décadas. O ensino online ganhou força com a primeira revolução digital. As grandes universidades internacionais perceberam cedo o potencial do ensino online e têm investido fortemente não só nas plataformas digitais, mas também em modelos pedagógicos adequados ao online e na respetiva formação de professores.

Este investimento não é porque o ensino online gere menos despesa, mas acima de tudo porque gera mais receita, já que a Universidade se tornará geograficamente global. Hoje, prestigiadas universidades europeias e norte-americanas têm parte da sua oferta formativa em plataformas digitais, sendo disso exemplo Oxford, Stanford, Columbia e até a Harvard Medical School. Ter um curso de medicina online já não é uma miragem a nível global, desde que a formação clínica e hospitalar de futuros médicos seja assegurada através de, por exemplo, protocolos com universidades locais espalhadas pelo mundo. Estes exemplos levam-nos a admitir que, nalguns casos, o ensino online poderá ser mais do que um instrumento complementar do ensino presencial. Esta é uma realidade que as universidades portuguesas não podem de todo ignorar, sob pena de perderem oportunidades de vária ordem, nomeadamente maior autonomia financeira. Como se viu com o estado de emergência, o ensino presencial desapareceu e o ensino online ocupou pela primeira vez, se a memória não me falha, o lugar da matriz magna na universidade, ainda que temporariamente. Imagine-se o que teria acontecido ao ensino-aprendizagem se a universidade não dispusesse de plataformas digitais quando se iniciou o estado de emergência! Portanto, desconsiderar o ensino online é olhar para o passado em vez de se olhar para o presente e para o futuro.

A bem da verdade, o ensino online, no modelo que foi possível implementar, permitiu à Universidade sobreviver às contingências da pandemia Covid-19. Acrescem os notáveis contributos dos professores, dos estudantes e dos funcionários que permitiram que o ensino na Universidade continuasse a funcionar mesmo nas condições adversas colocadas pela pandemia. No futuro, teremos de ir mais longe e investir fortemente nas estratégias de formação pedagógica e nas tecnologias digitais de suporte a novos modelos de ensino-aprendizagem.