Portugal é um país com uma beleza ímpar, um clima ameno, paisagens deslumbrantes e uma cultura única. No entanto, atrás da sua fachada pitoresca, encontra-se uma realidade sombria quanto à eficiência energética e à qualidade de construção das habitações e infraestruturas.

Entre os 28 países da União Europeia, Portugal situa-se em 4º lugar(1) dos piores classificados, com um nível de pobreza energética muito alto. Este indicador revela a urgência de atenção a este problema, que tem consequências diretas na saúde, com especial incidência nas crianças, ao nível das alergias, problemas respiratórios, asma e níveis de stress e ansiedade mais elevados.

Trata-se de uma adversidade multidimensional que afeta as famílias portuguesas -estima-se que, em Portugal, 75% (2) das residências não apresentem condições adequadas de isolamento, traduzindo-se na grande dificuldade em manter o conforto térmico nas habitações, bem como a qualidade do ar interior. A má  construção, a falta de isolamento térmico adequado, caixilharias ineficientes, os elevados teores de humidade e equipamentos de climatização pouco eficientes estão na base deste desconforto.

Esta ineficiência é sentida todo o ano. Contudo, é durante os meses mais frios que a vulnerabilidade atinge o seu auge, com quase 20%(3) da população nacional a enfrentar dificuldades para aquecer as suas casas. É uma realidade preocupante num país conhecido por invernos amenos, quando comparado com nações europeias de climas mais rigorosos.

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Mas porque existe este paradoxo? Porque além da falta de um isolamento térmico adequado, existe também uma ausência de uma cultura de climatização doméstica. Dou um exemplo muito simples: nesta estação do ano, recorremos a várias camadas de roupa, mantas e sacos de água quente. Isto não é apenas inconveniente, mas também ineficiente, contribuindo para a perpetuação deste ciclo de desconforto.

É necessário recorrer a equipamentos tecnológicos, mas não só. As janelas também desempenham um papel crucial – optar-se por umas eficientes ajuda a manter a temperatura interior, reduzindo as perdas térmicas.

Existe uma grande falta de literacia nesta área, pelo que é urgente uma ação imediata para reverter esta realidade e mudar mentalidades. Investir em programas de eficiência energética – como o Fundo Ambiental Europeu -, promover a educação sobre a climatização doméstica e incentivar a adoção de práticas simples são passos cruciais. Além disso, devem ainda ser implementadas políticas públicas que estimulem a construção – ou a reabilitação – de habitações mais sustentáveis e energeticamente eficientes.

Portugal não pode continuar a ocupar uma posição tão desfavorável no contexto europeu. A superação destes desafios energéticos não é apenas uma questão de conforto, mas também representa uma necessidade para garantir uma qualidade de vida digna para todos os cidadãos. É hora de agir para que o conforto nas habitações seja uma realidade acessível a todos.

1 – Open Exp, 2019
2 — “Pobreza Energética em Portugal”, realizado pelo ISEG a pedido da EDP
3 — Dados do Eurostat