Como disse Jean-Claude Juncker, “todos sabemos o que fazer, apenas não sabemos como ser reeleitos depois de o fazer”. Esta declaração, além de confirmar a necessidade europeia – não só portuguesa – de mudança estrutural, reforça uma outra ideia-chave: o eleitorado tem, por norma, memória curta dos resultados finais do reformismo, mas não se esquece do período transitório em que estas reformas são aplicadas.

É exatamente esta a razão pela qual, em 2015, Pedro Passos Coelho perde a maioria absoluta conquistada em 2011, depois de o antigo Primeiro-Ministro ter liderado um Governo que muitos consideram ser o mais reformista da história da democracia portuguesa. A necessidade extrema de reformas depois de um Governo socialista que deixou o país na penúria e na boca do lobo que era a Troika, paradoxalmente, trouxe o culpado de volta à inocência e colocou o inocente no banco dos réus.

Não era isto que tinha de acontecer e, aliás, isto não podia ter acontecido. António Costa utilizou um argumento de “ou nós ou eles” para se perpetuar no poder, tanto em 2015, com a Geringonça, como nas últimas eleições de 2022, e ao fazê-lo perpetuou também a estagnação de uma situação económica pós-resgate e pós-Troika francamente positiva.

Existem alguns fatores que afetam a opinião pública (que, ultimamente, é a opinião do eleitorado) sobre o reformismo, nomeadamente uma economia em crescimento que acelere o ritmo das reformas (sendo necessárias), além de um governo que seja robusto o suficiente para estabilizar (não eliminar) as flutuações naturais do ciclo económico.

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Assim, a conjuntura que António Costa recebeu teria sido ideal para aplicar reformas ao país, mas o Primeiro-Ministro escolheu não o fazer. Aplicou medidas e não reformas, numa altura em que era absolutamente imperativo continuar. Ao invés disso, optou por medidas de índole eleitoralista com benefícios de curto e médio-prazo, contribuindo assim para um descontrolo do aumento da despesa pública e, consequentemente, dos impostos e da nossa dependência do Estado e do PS – porque um Governo grande não é o grande Governo que Portugal necessita, e a sua robustez não é apenas relacionada com a quantidade de competências, mas sim da sua qualidade em áreas estratégicas.

E assim o é, na verdade, porque há muito que o crescimento económico do país não é derivado de políticas nesse sentido, mas sim de conjunturas internacionais favoráveis que, em retrospetiva, deveriam ter sido um impulsionador para algo maior e não apenas para um crescimento reduzido e pontual, mascarado de políticas públicas, parte de um plano a longo prazo.

Se o Partido Socialista se refugia nos “problemas estruturais” para desculpar a sua falta de ideias, que não se esqueça que ostracizou as mesmas pessoas que os tentaram reparar. Prefiro um governo hipócrita que admita os seus erros estratégicos, a um governo calado; prefiro um governo pragmático e adaptável, a um governo com cegueira ideológica e sem rumo. O idealismo é louvável, mas apenas quando o pragmatismo já foi opção. Pensar com o coração quando não se tem cabeça é explorar o desconhecido sem mapa.

Ícaro não pôde voar demasiado perto do sol, mas também não o podia fazer demasiado perto do solo; “nem demasiado alto, nem demasiado baixo”. Nem progresso desmedido, nem estagnação. Demasiada ambição queima-nos as asas, e demasiada inércia torna-as inúteis. Se, historicamente, a esquerda controla o acelerador do progresso social, a direita controla o travão, o volante e a caixa de mudanças. Reformismo é saber o que mudar e, mais importante, quando o fazer. Neste momento, reformismo é reconhecer que as políticas do Partido Socialista não são a escolha certa para o país.