Há uns meses atrás vieram à praça pública as mais recentes reuniões de trabalho entre a Ordem dos Enfermeiros e a Liga de Bombeiros Portugueses, estando atualmente em cima da mesa o desenvolvimento e implementação nos Corpos de Bombeiros, o modelo de Suporte Imediato de Vida.
Em Portugal, o modelo Suporte Imediato de Vida surge em 2007, integrado no Processo de Requalificação das Urgências, promovido pelo Ministério de Saúde, que visava a criação de um novo meio diferenciado de emergência pré-hospitalar, a ambulância de Suporte Imediato de Vida, tripuladas por um Enfermeiro e por um Técnico de Emergência Pré-Hospitalar.
Atualmente, em Portugal Continental, existem já 44 destes meios distribuídos por todo o território, que têm por missão a prestação de cuidados de saúde diferenciados, até estar disponível uma equipa com capacidade de prestação de suporte avançado de vida, os equipamentos e a formação da equipa permite a execução de intervenções diferenciadas através de protocolos médicos de atuação. Estas ambulâncias estão na dependência do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).
Mas será que são suficientes?
Portugal tem atualmente dos melhores Sistemas de Emergência Médica do Mundo, no que concerne à resposta em termos de diferenciação clínica. O racional das Viaturas Médicas de Emergência Médica (VMER), viaturas com Médicos e Enfermeiros, dos Helicópteros de Emergência Médica, com Médicos e Enfermeiros, e das Ambulâncias de Suporte Imediato de Vida, é precisamente possibilitar à população que necessita de cuidados emergentes acesso a cuidados de saúde prestados por profissionais de saúde altamente qualificados, com experiência hospitalar.
No fundo possibilitar a entrada no sistema de saúde logo na comunidade, junto da população.
Quando observamos o número de ativações de meios diferenciados por ano, constatamos que nos últimos 10 meses de 2022, de um total de 1.162.780 acionamentos de emergência pelo INEM, cerca de 118.580 (10%), foram classificadas como Prioridade 1 (P1), a prioridade máxima que visa o acionamento de um meio diferenciado.
Nos últimos 6 anos (excluindo os anos da Pandemia) o número total de acionamentos tem vindo a aumentar praticamente 10% ano após ano.
Se por um lado podemos (e devemos) olhar para este fenómeno a montante, com a vigente falência dos cuidados de saúde primários, se podemos igualmente observar para a triagem telefónica em si, hoje peço-vos para olharmos apenas para a resposta.
São diversas as notícias que relatam as falhas de socorro em termos de resposta de cuidados diferenciados e é claro para todos que em pleno século XXI ainda temos regiões onde existe uma verdadeira lacuna de meios em determinados horários, existindo inclusive descrições de ocorrências nos media onde a vítima aguardou mais de 1 hora por um meio de emergência.
E a resposta na resposta está mais uma vez na base do socorro em Portugal: os Corpos de Bombeiros.
É fundamental perceber que de acordo com dados do INEM, mais de 90% das ambulâncias que respondem aos seus acionamentos são meios dos Corpos de Bombeiros.
Não estará então aqui parte da solução?
O reforço de competências técnicas dos Corpos de Bombeiros, com recurso a Enfermeiros, que em larga medida já pertencem a estes Corpos de Bombeiros, através da implementação de um modelo de formação de Suporte Imediato de Vida (da responsabilidade do INEM), sustentado num verdadeiro sistema de regulação médica e num modelo remuneratório justo para os Corpos de Bombeiros, parece ser uma solução imediata e acima de tudo emergente.
O Ministério da Saúde tem agora a oportunidade de em conjunto com os Corpos de Bombeiros e INEM desenvolver um novo quadro operacional, de expansão desta rede a nível nacional, empoderando assim os Corpos de Bombeiros, centralizado e regulado pelo INEM.
As sinergias são mais que evidentes, a capacidade imediata de expansão existe, faltando apenas algo tão necessário como a decisão e a coragem política.
A recente pandemia ensinou-nos que a resposta à larga maioria dos problemas de Saúde está na comunidade, na proximidade ao cidadão. Sejamos capazes de aprender, romper com os lóbis e os interesses instalados, e capacitar a nossa atual estrutura de socorro com mais e melhores competências.
Por um melhor cuidado, por um melhor socorro.