As eleições europeias trouxeram paz a Portugal.
Numas eleições que se caracterizaram essencialmente por empates diversos, o resultado mais relevante foi a promoção da tranquilidade para o nosso país.
Em primeiro lugar, o PS conseguiu uma vitória pouco relevante sobre a Aliança Democrática, que deu ao seu líder a sensação de ter finalmente ganho umas eleições e permitiu que afirmasse o seu partido como o maior em Portugal, o que não se pode naturalmente concluir de umas eleições com 63% de abstenção.
Contudo, esta possibilidade de se fingir vencedor permite-lhe, ao mesmo tempo, a assunção de que não vai querer eleições antecipadas pois facilmente as perderia e, aí sim, corria o risco enorme de ter tido uma muito curta carreira de líder do PS, sem sequer ter tido a capacidade de ser uma verdadeira alternativa a primeiro-ministro.
É bem sabido que derrotar Sebastião Bugalho, o jovem candidato com pouca experiência e alguns anticorpos, não é o mesmo que enfrentar o atual primeiro-ministro, que tem ganho sustentadamente uma fama de solidez e consistência, sério e trabalhador – o que já o colocou nas sondagens como um dos melhores primeiros-ministros de Portugal.
Por outro lado, a derrota por um valor tão reduzido pouca mossa terá feito na aliança governativa e no espírito vitorioso, ao contrário dos resultados de outros, que deverão provocar mudança na forma de atuação na Assembleia da República.
A perda de peso eleitoral por parte do Chega, muito associada à sua associação ao PS e à guerra que o seu líder promoveu contra a AD, trouxe um novo alento a esta bancada, que espera uma mudança clara de comportamento do Chega, caso não pretenda alienar todos os ganhos que tinha conseguido nas últimas eleições legislativas.
Também o resultado da IL, muito por mérito da qualidade do seu candidato que, há que dizê-lo, se distinguia de todas as restantes propostas pela sua preparação e experiência de vida na sociedade real, acabou por reforçar a ideia de que Portugal tem um eleitorado essencialmente moderado e que não é militantemente extremista.
Já nos outros empates que se registaram, representam a tendência de que esses partidos da extrema-esquerda estão a perder o seu eleitorado e que, com uma postura de esquerda do PS, pouco ou quase nenhum espaço lhes quedará no futuro.
Vale, contudo, ainda a pena fazer uma análise para além daquela que ouvimos durante a noite europeia e que reflete na sua essência aquilo que atrás escrevi.
Em termos de posicionamento relativo na política portuguesa, e daquilo que acredito que seja o seu desenvolvimento a partir deste resultado eleitoral, tudo indica que vamos assistir a uma tentativa muito complicada do PS se chegar à sua direita e aos mais jovens e aos mais letrados, uma vez que são estes os segmentos em que o seu eleitorado é mais fraco — é e também a única forma de voltar a vencer eleições.
Este caminho será difícil e penoso para o seu líder, que tem dificuldade em comunicar com estes setores da população, e que estão ainda muito marcados pela governação anterior.
A AD estará focada em governar com a seriedade com que o fez nestes primeiros meses e estará, a partir de agora, muito mais bem preparada para uma governação mais consensualizada com outros partidos na Assembleia da República.
O Chega estará mais condicionado a continuar a se associar ao OS, pois essa postura deixou-o sem apoio de muitos eleitores e tentará encontrar outra forma de fazer a sua afirmação contra a Aliança Democrática, que nunca deixará de ser o seu maior adversário, uma vez que para ultrapassar o máximo que conseguiu nas eleições legislativas já não tem outro “mercado” que não o da AD.
A IL terá de lutar para substituir a relevância do seu candidato europeu e terá que se afirmar alternativa de um governo, que estará a atuar mais em linha com as exigências de uma economia liberal o que lhe dificultará a sua caminhada.
A extrema-esquerda vai entrar numa guerra fratricida de manutenção e conquista de eleitorado, com o Livre a ser um grande candidato a sobreviver em relação ao Bloco e ao PC, essencialmente pela forma inteligente da sua abordagem menos belicista e mais consensual que dá a ideia de estar sempre disponível para encontrar soluções de esquerda que nunca serão destruidoras do Bem Comum.
Falta saber se a sua atitude de intolerância, tão típica nos dirigentes de esquerda e que marcou a falta de participação do líder na campanha, prejudicando o seu próprio partido, terá ou não impacto na sua massa eleitoral.
Por tudo isto, é muito importante reconhecer que estás a eleições foram muito importantes para Portugal, pela paz e tranquilidade que nos permitem antever para os próximos anos de vida política do nosso país.