Hoje, 27 de Abril, assinalamos os 500 anos da morte de Fernão de Magalhães, o responsável inicial da primeira viagem à volta do mundo. Umas vezes repudiado por se ter colocado ao serviço de Castela, outras recuperado para a glória nacional por ter sido um dos maiores expoentes do nosso escol de navegadores, a verdade é que pelos seus feitos da lei da morte se foi libertando. Foi um Português que é hoje uma referência global, mas, ainda assim, esta data será oficialmente esquecida.

Durante séculos, por não termos outros ativos, este país viveu a crédito das glórias passadas. Contudo, agora que somos varridos por uma vaga de apedeutismo vândalo, rumamos em sentido contrário: querem-nos fazer sentir vergonha da nossa história. E os nossos bravos responsáveis nacionais, temerosos… calam.

Citemos Camões, antes que a onda revisionista nos obrigue a queimar Os Lusíadas na fogueira da moderna Inquisição:

 “Que assim vai alternando o tempo iroso / O bem co’o mal, o gosto coa tristeza. / Quem viu sempre um estado deleitoso? / Ou quem viu em fortuna haver firmeza?…”

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Retomando Magalhães:

Ele é uma figura fundamental na História da humanidade. Foi o primeiro navegador a perfazer fisicamente a circum-navegação do planeta. Vejamos: ao serviço do rei de Portugal, já servira nas partes das Índias, tendo combatido ao lado de Afonso de Albuquerque na conquista de Malaca, em 1511, e – segundo alguns documentos da época – terá seguido com o amigo Francisco Serrão até às ilhas de Maluco, no mesmo meridiano das Filipinas. Depois chegará de novo à Ásia, por ocidente, ao serviço de Castela, completando o círculo. Mas o que lhe daria a fama foi a viagem de circum-navegação, a primeira a dar uma volta ao mundo de uma só vez. Foi ele que criou as condições para esse feito, tendo tomado a seu cargo o planeamento e a execução da mais custosa e longa viagem marítima até então, que descobriria a rota atlântica para o Pacífico.

Ousado e destemido, foi ele o visionário e estratega dessa famosa jornada que, ao serviço do jovem rei de Castela, Carlos I – superando todas as limitações físicas, humanas e anímicas – avançou para o extremo Sul do continente americano, e navegando sob condições climatéricas inóspitas, como nenhum outro no seu tempo, alcançou pela primeira vez a Terra do Fogo. Após ter descoberto o estreito que hoje leva o seu nome, “Magalhães”, atravessou-o para o mar do Sul, que ele batizou como “Oceano Pacífico”, chegando à Ásia pelo ocidente e concretizando aquilo que Colombo apenas sonhara. Um feito notável. Após a sua morte, a frota regressaria pelo mar português, Timor, Índias, costa africana.

Que a Terra fosse redonda era já sabido dos Gregos, mas extrair as consequências práticas desse conhecimento estava ainda por fazer, assim como a determinação precisa do perímetro do planeta.

Podemos dizer que ele concluiu o grande ciclo da expansão marítima, iniciada no século XV. Tal foi possível pela sua personalidade intrépida e audaz, e pelos conhecimentos e experiência que acumulou numa vida dedicada ao seu país. O ter emigrado para Castela, onde casou e onde lhe reconheceram credenciais, não lhe retira qualquer valor, pois Magalhães seria grande em qualquer reino e junto de qualquer príncipe. Depois da sua viagem, Portugal teve de pagar um considerável preço monetário a Espanha para poder conservar o comércio das especiarias na região. Uma lembrança dos custos que para um país tem a fuga de “cérebros”, ou o preço do desinvestimento naqueles que Portugal forma e são depois abandonados pelos poderes.

A importância do feito global magalhânico levou a que o seu nome fosse associado à “Grande Nebulosa de Magalhães” – uma galáxia anã satélite que orbita a Via Láctea – e às crateras de Magalhães na Lua e em Marte. Uma sonda espacial da NASA recebeu o nome de Magellan.

A 27 de Abril de 1521, Fernão de Magalhães foi morto em combate na ilha de Cebu, nas Filipinas. 500 anos depois, o seu esquecimento oficial é uma segunda morte.