2022 foi designado pela União Europeia como o Ano Europeu da Juventude. Estas celebrações têm, entre outros, o objetivo de “promover oportunidades ao alcance dos jovens”. No entanto, em Portugal insistimos em que a “juventude” seja relegada para 2º ou até 3º plano.
Têm sido cada vez mais comuns depoimentos de jovens que, como eu, não vêm um futuro que seja minimamente do seu agrado em Portugal. A solução, segundo tais relatos, passará, regra geral, pela emigração. Isto porque sucessivos governos se recusam a perceber que estão a colocar em causa, não só o nosso futuro, como o do país.
Esta semana obtivemos o exemplo mais recente: os salários das pessoas com diploma de Licenciatura caíram 11% em apenas 10 anos. Todavia, em sentido inverso estão os salários das pessoas com apenas o Ensino Básico completo, aumento este que se deve, especialmente, aos sucessivos aumentos do Salário Mínimo Nacional. Em resposta, alguns dirão que o governo está a tomar medidas que beneficiam diretamente os jovens, tais como o IRS Jovem, o Programa Regressar ou até o Programa Garantia Jovem, acrescentando que somos mimados e ingratos.
Vejamos então: os jovens emigram porque o desemprego jovem está entre os piores da Zona Euro. Os jovens emigram porque 72% deles recebe menos de 950 Euros. Os jovens emigram porque, com sorte, desses 950 Euros, 600 são para um apartamento, sendo que o que sobra tem de ser muito bem dividido para cobrir despesas do quotidiano. Os jovens emigram porque as redes de transporte público que são obrigados a usar (devido aos níveis absurdos dos preços dos combustíveis) são escassas, inconsistentes e com elevada degradação.
Estes são apenas alguns dos muitos exemplos dos motivos que forçam os jovens a procurar oportunidades lá fora e, se eu os consigo identificar, qualquer governante também o conseguirá fazer. Então, porquê esta inação para resolver realmente estes problemas? Porque é que continuamos a desperdiçar o que de bom produzimos em vez de fazermos o necessário para o manter? Porque é que o governo insiste em ignorar os verdadeiros problemas que levam a que “a geração mais bem qualificada de sempre” se veja obrigada a sair do seu país à procura de um futuro?
No entanto, também não desculpabilizo os meus pares, a minha geração. Não posso deixar passar em branco o facto de sermos a geração mais desinteressada da vida política e da cidadania ativa, batendo recordes de abstenção em sucessivos atos eleitorais. Não posso, especialmente quando é o nosso futuro que está em jogo, tornando tudo isto numa bola de neve que, caso tudo se mantenha igual, acabará desastrosamente. Percebo que se sintam impotentes, eu próprio me sinto, mas se nada fizermos, nada mudará. Não podemos manter a narrativa de que “todos os políticos são iguais”, não podemos passar carta branca a quem nos força a sair do nosso lar à procura de um futuro melhor. Não podemos deixar que este sentimento de impunidade reine no mundo político.
Está na altura de sermos ouvidos, mas para isso temos de nos fazer ouvir. Não imagino um futuro para mim neste país, pelo menos não um futuro razoável. Mas também não me agrada minimamente a ideia de ser obrigado a sair deste país porque não tenho oportunidades cá. Está na altura de sermos ouvidos, está na altura de os jovens portugueses se fazerem ouvir e, sobretudo, está na altura de construir um futuro para todos nós e para os que hão de vir!