Primeiro foram os ardinas… e as peixeiras… e todos os pregões que se costumavam ouvir em Lisboa.

Mais tarde os amoladores, que ainda muito raramente se fazem ouvir nas vésperas de dia de chuva, com a sua gaita de assobio a anunciar que o mau tempo aí vem.

Mas agora, ao longo dos últimos dez anos, quem desapareceu foi a polícia.

Não há um polícia nas ruas de Lisboa!

Aquela figura de respeito de que me lembro ainda de cumprimentar, a quem nos dirigíamos quando precisávamos de alguma informação, que nos impunha o seu respeito de autoridade para que não invertêssemos a marcha onde não era permitido, enfim, a imagem de que alguém estava sempre perto para garantir que tudo vai correr bem.

E tudo isto acontecia quando éramos só nós, os portugueses, sossegados, gente que faz revoluções sem guerra, educados e, ainda que algo tristes, também felizes com o nosso país.

Mas, exactamente no momento em que tudo isto mudou, com a chegada massiva dos turistas, com a acelerada recepção de imigrantes que vieram conduzir esses turistas e os portugueses pelas cidades de Portugal, quando as cidades se encheram de gente que precisa de ajuda, que não conhece as nossas normas e que não fala a nossa língua… quando eu pensei que a polícia seria muito mais necessária ao nosso dia a dia, foi exactamente o tempo em que deixámos de ver os agentes salpicando a paisagem citadina.

Pouco a pouco, tudo passa a ser possível.

A inversão de marcha em todo o lado, os carros e as carrinhas estacionadas no meio da rua, os turistas sem terem a quem pedir ajuda, os carteiristas entusiasmados com a facilidade de fazer o seu trabalho, as obras a entupirem o trânsito, e ninguém a representar a dignidade desta terra e a servir de referência para que continuemos a ser o país em que todos querem viver ou vir visitar.

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O senhor agente da polícia é alguém que dá confiança ao cidadão, que inibe aqueles que querem furar as normas da sociedade, que nos tentam vender drogas a toda a hora quando passeamos no Chiado, que inibe os carteiristas, que ajuda as crianças que se perderam dos seus pais, que proíbe que um condutor possa estragar a vida a todos os que circulam à sua volta.

A tranquilidade que caracterizou a nossa sociedade nas últimas décadas advém de um respeito que temos à autoridade, que é benevolente, que é compreensiva, e que era presente.

A falta de presença nas ruas das nossas cidades tem como resultado uma perda enorme destas características e pode destruir o ambiente que tão bem criámos e que tanto sucesso nos trouxe como destino ambicionado.

Hoje, vemos a polícia quando os próprios se manifestam – e pouco mais.

Reconheço a importância de conseguir as condições mínimas de dignidade que os agentes policiais devem ter e considero uma urgência que as obtenham assim que possível, mas não gosto de os ver apenas quando se juntam nessas reclamações.

Precisamos que a polícia volte a ser parte do nosso dia a dia e que não se venha a tornar apenas uma estátua, como o ardina por quem passamos no largo da Misericórdia.

Precisamos de garantir que a sua presença nos volta a trazer a segurança de viver em Portugal, a garantia de que Portugal continuará a ser o país que todos construímos e o país que é seguro, que respeita as pessoas e que acolhe todos os que chegam.

Mas também o país que não permite que o maltratem nem que o destruam.

Por favor, devolvam-nos a polícia ao nosso dia a dia.