O Alberto deixou-nos. Era uma personalidade fascinante. Uma conversa com ele era um motivo de luminosidade e de sabedoria. Conheci-o desde sempre, primeiro como jovem advogado brilhante que colaborou com o meu avô, mas depois, e com uma intensidade crescente, como um cultor da melhor amizade, como da melhor literatura e da melhor arte.
Ao lado de João Bénard da Costa, de Pedro Tamen, de Nuno Bragança e de António Alçada Baptista foi um dos grandes protagonistas de «O Tempo e o Modo». Como foi, mais tarde, de «Raiz e Utopia». Na crítica literária tornou-se uma referência de critério e de qualidade. Não é possível compreender a importância de Agustina Bessa Luís ou de Sophia de Mello Breyner sem ler o que Alberto escreveu. E, para tanto, teve de romper com conformismos, dos vários lados do espetro político.
Ao lado de Helena Vaz da Silva, foi uma peça-chave nos diversos projetos em que esteve envolvida. Admirava profundamente a inteligência de sua mulher, sabendo na antecâmara articular a imaginação e a racionalidade, a audácia e o senso comum.
Um dia disse que usava as palavras que estavam na sua alma. E José Tolentino Mendonça, há pouco, no Expresso comparou-o com Cristina Campo, a propósito de «Os Imperdoáveis». «Isto é, aqueles que possuem e definem um estilo, os habituados por uma força profunda, por um caráter próprio, por uma sabedoria irremovível, aqueles que desenham com as suas vidas um mapa de tal modo original que se torna necessário à viagem dos outros». E assim citava a frase de Saint-Martin: «Houve certos seres através dos quais Deus nos amou».
Era assim a sua fé, feita de afeto e espontaneidade. O seu conhecimento enciclopédico permitia-lhe fazer compreender tudo para além do imediato e do simples. A poesia, a literatura, as artes, o diálogo das culturas e das civilizações – tudo se somava à paixão pela astronomia e à experiência da grafologia. Psicólogo experimentado, conseguia na decifração da escrita entender a complexidade das personalidades humanas. E assim cultivou a psicologia das profundidades. Roseline Crepy abriu-lhe os horizontes.
A sua generosidade permitiu-lhe, entretanto, dedicar-se àquilo que lhe dava verdadeiro prazer: a descoberta da diversidade e a procura da luz. Oiçamo-lo sempre: «É com sorridente beatitude e uma ponta de inveja que hoje lemos os livros de viagens que foram moda no final do século passado. Já no século XVIII fazia parte da educação de qualquer jovem bem nascido correr mundo, isto é, percorrer longamente a Itália num Grand Tour que, depois de completado, lhe permitiria estabelecer-se com segurança no lugar que a Providência lhe designara».
Ah! O Alberto continua a despertar o gosto pela vida!
Presidente do Centro Nacional de Cultura