O outono de 2021 ficará marcado pela COP 26, a Conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas que decorre de 31 de outubro a 12 de novembro em Glasgow. O setor da pecuária e os agentes a montante, como é o caso da Alimentação Animal, estão especialmente atentos a este acontecimento. E, deve dizer-se, com alguma expectativa positiva. Apesar do ruído que estas Cimeiras sempre suscitam, parece haver uma nota de pragmatismo e humildade na abordagem a esta questão.

A União Europeia e os Estados Unidos da América acordaram um compromisso comum de reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, focando-se na necessidade de investir em novas tecnologias, reduzindo as emissões resultantes da atividade pecuária e combatendo o desperdício alimentar.

Este objetivo de redução de 30% é ligeiramente inferior à meta de 35-37% referida na comunicação da estratégia da UE sobre o metano, publicada em 2020. A boa notícia é a de que esta lógica de atuação não incide na necessidade de alteração dos padrões alimentares, como a redução do consumo de produtos animais, o que, a concretizar-se, significaria antes de mais dois problemas em vez de um. De facto, não só não resolveria o problema ambiental, nomeadamente em Portugal, onde apenas 10,7 % do total de Gases de Efeito de Estufa são atribuíveis à agricultura, como causaria outros, a saber o abate de efetivos, desinvestimento empresarial, desemprego e redução de pastagens que são sumidouros de carbono. A atividade pecuária tem um impacto positivo no equilíbrio do território e na prestação de serviços agroambientais. A UE e os EUA reconhecem, como estratégia, a necessidade de implementação de soluções tecnológicas. E o setor agropecuário vê com bons olhos este eixo de atuação.

O compromisso de apontar publicamente estratégias de alimentação inovadoras, formulações de alimentos para animais e ingredientes para a alimentação, que podem reduzir significativamente as emissões de metano da fermentação entérica (libertação de gases associada à digestão de materiais orgânicos pelos ruminantes), é certamente uma excelente notícia.

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Os líderes políticos dos EUA e da UE procuram agora o apoio ativo das 17 maiores economias mundiais para subscreverem a promessa global sobre as emissões de metano durante a COP 26.

Um dado relevante é o de que o Conselho Ambiental da UE também apoiou esta visão conjunta. A Itália é o primeiro Estado-membro da UE a assinar o compromisso, aguardando-se que outros o possam subscrever. Era bom que Portugal também avançasse nesta linha. Fica o apelo aos nossos decisores políticos. Desde logo aos da Agricultura e do Ambiente. Não é preciso ser-se fundamentalista, basta assumir maior humildade, pragmatismo e bom-senso.

Há que ter a consciência de que a Europa não pode caminhar sozinha neste processo, devendo aliar-se com os principais blocos para ter uma influência efetiva no panorama mundial. Talvez isso implique alguns recuos, mas há que ter a noção da realidade. Sobretudo se queremos ser eficazes nas decisões e não meros vendedores de ilusões.

No que à alimentação animal diz respeito, a participação da IACA (Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais) na criação do laboratório colaborativo FeedInov, cujo grande propósito é o desenvolvimento de uma alimentação animal sustentável, tal como o seu envolvimento em várias agendas mobilizadoras focadas na economia circular, na alimentação de precisão e na procura de fontes proteicas inovadoras, é a prova de que o setor não só está comprometido com o desígnio de ter um mundo ambientalmente mais saudável como coloca o desenvolvimento científico e tecnológico no centro da resposta a este objetivo.

Em conjunto com outras estratégias de mitigação, como a melhoria das técnicas de agricultura e pastoreio, a genética animal e as práticas de produção, podemos chegar à redução do impacto ambiental da atividade agropecuária, deixando a cada cidadão, devidamente informado, a decisão consciente sobre a sua dieta alimentar.