A Bruno Bobone sempre ficaremos a dever tanto a angariação do investimento necessário à realização do estudo «O Hypercluster da Economia do Mar», publicado pela SaeR, em 2009, sob a coordenação de Ernâni Lopes, e que viria a alterar radicalmente a percepção que os Portugueses tinham da importância do Mar para Portugal, quanto o não menos crucial Fórum Empresarial da Economia do Mar, infelizmente, porém, entretanto desaparecido, como comentado já a propósito da realização do mais recente Seminário do Jornal da Economia do Mar, exactamente dedicado ao tema, «… e 10 Anos Depois da Publicação do Hypercluster da Economia do Mar…».
Empresário, Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e, actualmente, Presidente da Assembleia Geral da Fórum Oceano (onde, infelizmente, se subsumiu o Fórum Empresarial da Economia do Mar), entre outros relevantes cargos, a partir de agora diríamos ficar a dever-lhe também, em princípio, o seu livro, acabado de lançar, de reflexão sobre a vida, a Economia, o mundo empresarial e o futuro de Portugal, a que junta ainda algumas memórias, genericamente intitulado, «do medo ao sucesso».
Porém, como dizer?… – afigura-se uma obra estranhamente inquietante.
De facto, tendo em atenção todas as mais notáveis iniciativas inicialmente referidas, como explicar a colocação do Mar apenas como um dos três pilares do futuro da Economia Portuguesa, ainda que, talvez, o mais importante, a par do Turismo e da Reindustrialização?…
Como explicar que se continue a falar da grande importância do Mar, em 2019, de forma tão genérica e abstracta, como se absolutamente extáticos, ainda, simplesmente, em 2009?
Como explicar que se continue a falar, em 2019, numa obra que se pretende também de reflexão estratégica, da importância do Mar para Portugal, quase exclusivamente, sob um ponto de vista económico, praticamente sem mais?
Estranhamente inquietante…
Tão mais estranho e inquietante quanto, se Bruno Bobone é Bruno Bobone, principal responsável pelo financiamento do estudo «O Hypercluster da Economia do Mar» coordenado por Ernâni Lopes, ex-Presidente do determinante Fórum Empresarial da Economia do Mar, ainda Presidente da Assembleia Geral da Fórum Oceano, Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e Presidente do Conselho da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, tem a visão do Mar que expõe neste seu livro, o que esperar de quem não é Bruno Bobone?…
A questão, hoje, Abril de 2019, ainda é tão só a de pugnar pelo reconhecimento da importância do Mar para Portugal ou a de insistir e fazer, de uma vez por todas, porque, distraídos, não fazendo quanto se impõe fazer em defesa do nosso Mar, acabaremos a mergulhar, literalmente, com o Senhor Presidente da República, simplesmente em Mar já Europeu e não Português?…
Não é a questão, hoje, Abril de 2019, tão simples quanto esta: no dia em que acordarmos de madrugada para nos irmos banhar com Sua Excelência o Senhor Presidente da República, muito literal e cosmopolitamente, na frescura do Mar Europeu, nesse mesmo momento, Portugal, quer de um ponto de vista Político, Geopolítico ou Geoestratégico, já não será mais senão o que Bruxelas, ou quem em Bruxelas por Bruxelas decida, determine quanto Portugal deva ou não ser?…
Não é, hoje, em Abril de 2019, já evidente que, não sabendo darmos a devida atenção à crucial e decisiva importância ao Mar que o Mar tem para Portugal, bem podemos começar a despedirmo-nos de toda a verdadeira Independência, de toda a verdadeira Autonomia, de toda a verdadeira Soberania, para mais não continuarmos a ser senão os representantes, em calão, dos principais interesses das mais poderosas nações da Europa – como, desde há muito vai já, de algum modo, infelizmente, sucedendo?…
Como colocar assim, ainda hoje, Abril de 2019, em equivalente plano a importância do Mar para Portugal da sempre meramente conjuntural importância do Turismo?…
Que valor Político, Geopolítico ou Geoestratégico tem, ou pode alguma vez ter, o Turismo para Portugal?…
E se importa a reindustrialização, há, hoje, Abril de 2019, outro qualquer sector passível de proporcionar as mesmas oportunidades de desenvolvimento científico, tecnológico e de negócio, em tão variados, diferentes e distintos sectores económicos, desde os mais tradicionais aos mais avançadas, complexos e inovadores, como o Mar?…
Quem é que, ainda hoje, em Abril de 2019, não percebeu que, mesmo uma indústria já tão vulgar e aparentemente simples quanto a aquacultura, tende sempre a congregar um conjunto de tão diversas e distintas áreas onde sempre fervilha, ou deve fervilhar, a mais avançada capacidade de inovação, desde a metalomecânica aos mais avançados sistemas de comunicação, os mais variados tipos de sensores, robótica, novos sistemas de produção de energia renovável, biotecnologia ou, até mesmo, eventualmente, construção naval, para nos reportarmos apenas ao mais óbvio?…
E se assim é numa actividade já tão vulgar e aparentemente simples como a aquacultura, o que dizer em relação a actividades bem mais complexas como a futura e inevitável indústria de mineração em mar profundo, a vigilância, controlo e defesa dos futuros 3,8 milhões de Km2 de área marítima sob jurisdição nacional, a crucial biotecnologia e correspondentes áreas de aplicação dos respectivos produtos, como a farmacêutica, nutracêutica, cosmética ou desenvolvimento de novos materiais, para nos ficarmos, uma vez mais, pelo mais elementar?…
Como defender, ainda hoje, em Abril de 2019, o investimento, a sério, «numa Universidade do Mar, envolvendo todas as ciências que com ele possam ter ligação»?…
Afinal, qual a ciência que ainda não tem, hoje, em Abril de 2019, ligação ao Mar?…
Quanto realmente importa não é que, hoje, em Abril de 2019, todas as Universidades, todas as Faculdades, sendo Portuguesas, tenham plena consciência da importância do Mar para Portugal, orientando e adequando os respectivos curricula em acordo com a mesma importância do Mar para Portugal, do Direito às mais variadas Engenharias, como da Biologia à Economia e tudo quanto mais que nunca deixará de ter sempre uma ligação ao mar, incluindo desde a História a essa tão abstrusa e incerta ciência a que chamam Sociologia, independentemente de alguns específicos cursos de especialização que possam surgir ou ser criados?…
Como afirmar ainda hoje, em Abril de 2019, estar o Mar «longe de uma prioridade porque a opinião de que tem uma relevância fundamental para o futuro de Portugal não é ainda unânime»?…
Que necessidade de «unanimidade» é ainda essa, hoje, Abril de 2019?…
Quanto mais importa, hoje, em Abril de 2019, como desde há muito, não é que, acima de tudo e antes de mais, as nossas ditas, ou supostas, elites, tanto políticas como da igualmente designada Sociedade Civil, tenham essa mesma séria e plena consciência?…
Como é possível aceitar não terem já as mesmas ditas elites, políticas e da Sociedade Civil, hoje, em Abril de 2019, essa necessária plena consciência de quanto mais importa para Portugal, anos depois da realização da primeira Blue Business Week, posteriormente transposta em Ocean Business Week e da qual se prepara já a quarta edição, da realização de duas Conferências da Biomarine no Estoril, das Conferências e Exposição organizadas pelo próprio Fórum Empresarial da Economia do Mar, como das Conferências e Exposição organizadas pela Associação Oceano XXI, congregando-se mais tarde ambas as organizações no actual Fórum Oceano, bem assim como a organização de uma primeira Shipping Week em Lisboa, ainda recentemente realizada, ou dos cinco anos de intensa actividade do Jornal da Economia do Mar e da realização das suas quatro Grandes Conferências anuais, para não referir já inúmeras outras iniciativas igualmente levadas a efeito pelas mais diversas entidades ao longo dos últimos anos, do Minho ao Algarve, sem esquecer as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira?…
E se não há ainda hoje, em Abril de 2019, essa mesma séria e plena consciência – sem dúvida, uma das mais importantes, mais nobres e críticas missões e objectivo do Fórum Empresarial da Economia do Mar -, tudo se deve apenas ao facto de se ter deixado entretanto morrer o mesmo Fórum Empresarial da Economia do Mar ou haverá outra explicação para que ninguém, ou quase ninguém, assuma, séria e plenamente, essa mesma consciência?…
Se não se assume hoje, plenamente, em Abril de 2019, a responsabilidade séria e plena dessa mesma consciência, quando tudo quanto ficou dito é já de tão simples quanto elementar evidência, será então que está certa a tese de Bruno Bobone ao defender encontrar-se Portugal «viciado no medo» e, por isso mesmo, não arriscar nem inovar, como se impõe que suceda?…
É indício de «medo» termos assistido, como assistimos, à partida de centenas de milhares de jovens, e não tão jovens, para paragens, não raras vezes, inóspitas, ou mesmo hostis, em busca de um sustento que as gerações que nos Governam há dezenas de anos não lhes souberam proporcionar, transformando Portugal numa nação onde os nossos filhos já não têm lugar?…
É indício de «medo» termos assistido, como assistimos, à partida de centenas de pequenos empresários para paragens, não raras vezes, longínquas, inóspitas, ou mesmo hostis, em busca de novos mercados, por vezes mal sabendo falar línguas estrangeiras e com fracos ou mesmo sem quaisquer apoios institucionais, permitindo que, de uma situação de pré-bancarrota em 2011, Portugal, com todas as dificuldades conhecidas, tivesse sido capaz de recuperar como veio, pouco a pouco a recuperar?…
É indício de «medo» termos assistido, como assistimos, aos estóicos sacrifícios dos Portugueses ao longo dos últimos anos, em razão dessa mesma terrível situação de pré-bancarrota verificada em 2011, sem lamento, drama ou pieguice, tal como sucedeu?…
Não, não se afigura que Portugal seja uma nação «viciada no medo», ainda que seja impossível não concordar com Bruno Bobone quando defende que, tendo Portugal todas as condições para ser uma das nações mais avançadas do Mundo, o excessivo controlo exercido pelo Estado sobre toda a actividade económica, assim como sobre a toda a iniciativa particular, tem conduzido Portugal a transformar-se numa nação paralisada, incapaz de evoluir, inovar e afirmar-se como seria suposto e teria plena capacidade para evoluir, inovar e afirmar-se.
O que Bruno Bobone designa por «medo», se bem analisado, não passa, afinal, de inteligência prática, sentido de oportunidade ou, como agora também se diz, «inteligência emocional», ou seja, os Portugueses, vendo Portugal ocupado por uma suposta elite, volteando, contínua e vertiginosamente fechada sobre si mesma, constituindo-se como uma pura oligarquia, sem traço ou memória já de uma qualquer mais antiga aristocracia, no mais verdadeiro sentido da expressão, a que se junta agora a mais pura e ignara plutocracia, os Portugueses, dizia-se, desistiram, pura e simplesmente, de serem Portugueses, de Portugal, resignando-se, por uma questão de sobrevivência, a entrarem nos jogos de interesse dessa mesma suposta elite, agora confundida também no e com o próprio Estado, cada vez mais omnipotente, omnipresente, totalitário.
Não, Portugal não é uma «nação viciada no medo» — mas devia realmente ter «medo», muito «medo», do terrível condicionamento mental a que se encontra sujeito e que tudo vai devastadoramente degradando.
Condicionamento mental que é a única explicação possível, de resto, para que, hoje, em Abril de 2019, mesmo numa obra que tanto incita à assunção do «risco», se proceda, em simultâneo e tão paradoxalmente, ao mais rasgado elogio da actuação do actual Presidente da República pelos «consensos» criados quando se sabe, e é bem patente, ser exactamente devido a esses mesmos pseudo-consensos que nos encontramos, em grande medida, na actual situação de «apagada e vil tristeza» em que nos encontramos.
Que «consensos» são esses merecedores de tão destacados encómios?…
Quando se afirma ser o procedimento do Presidente um bom exemplo porque, não obstante estarem ambos os lados da barricada, «infelizmente», a «cavarem trincheiras cada vez mais fundas», apesar disso, «reconhecem-no como um dos seus», revendo-se «a direita nas suas convicções económicas e nos valores que defende», e a esquerda «nas suas preocupações humanistas e sociais, a defesa da cultura e a fácil convivência, até porque faz parte dela, com uma comunicação social livre e democrática», constituir-se a figura do Senhor Presidente da Republica o Alfa e o Ómega de toda a vida nacional, de onde promana todo o verdadeiro ser da Política Nacional?…
Que importa que o Senhor Presidente da República reúna em si, personifique, esse mesmo suposto «consenso» em que a Direita se reverá «nas suas convicções económicas e nos valores que defende», e a Esquerda «nas suas preocupações humanistas e sociais, a defesa da cultura e a fácil convivência, até porque faz parte dela, com uma comunicação social livre e democrática», quando, na realidade, a aparência de um certo apaziguamento, em que vivemos, da dita «decrispação», não é, afinal, tão só única e exclusivamente, porque, com a complacência e beneplácito do mesmo Senhor Presidente da República, Portugal se encontra já completamente subsumido, dominado e constrangido às «convicções económicas», cultura e valores da Esquerda, não por qualquer verdadeiro «consenso» com a mesma dita ou suposta Direita (tudo quanto não se diz Esquerda), que, perante a circunstância e os factos, muito pragmaticamente, se limitou também a desistir e a resignar-se, aguardando, quem sabe, melhores dias.
Não se sabe e são bem conhecidos todos os mais nefastos efeitos e respectivas consequências que toda essa complacência e beneplácito sempre têm em termos económicos, para além da vida da nação em geral?…
Libertarmo-nos do «medo», assumirmos o «risco», não significará enfrentarmos, como Nação, com desassombro, a necessidade de um perfeito e definitivo esclarecimento de posições, mesmo com a eventual necessidade de «os dois lados da barricada» «cavarem trincheiras ainda mais fundas», ou devemos aceitar, de facto, como de primordial importância a criação de «consensos», porquanto, como também algo paradoxalmente escrito, uma «sociedade democrática não reconhece maior valor à direita ou à esquerda», mais não representando, uma e outra, senão «duas opções ideológicas (igualmente, por certo) válidas e defensáveis»?…
Mas se assim é, se tudo é o mesmo e não mais do que uma mera questão de «opinião», «gosto» ou «convicção», para quê a maçada de pensar, o incómodo de votar?…
Com certeza, numa «sociedade» que se pretende pluralista e democrática, ambas as visões devem ser aceites como legítimas, mas isso não significa, está mesmo muito longe de significar, que se tenha de conceder e atribuir a uma e outra «o mesmo valor», que uma e outra sejam o mesmo _ a menos que entendam as diferentes doutrinas económicas, assim como as respectivas práticas dos diferentes Governos, meras questões de «gosto», diferentes maneiras de ser, simples questão de «opinião», sem mais…
O maior drama de Portugal é que os Portugueses, seja pela prática política dos sucessivos Governos desde há dois séculos e meio, como pelo actual condicionamento mental mais recentemente exercido pela Esquerda, já compreenderam perfeitamente a completa inutilidade de toda a afirmação individual, sempre implacavelmente castigada desde os primeiros dias da mais supostamente aberta Escola Primária aos últimos dias da supostamente mais avançada Universidade, assim como a mais completa ausência de real e necessário nexo entre esforço pessoal e resultado alcançado _ acabando, por isso mesmo, por uma questão de sobrevivência, por simplesmente desistirem.
A célebre frase de Jorge Coelho, «quem se mete com o PS leva», nunca foi apenas mera figura de estilo _ e quando o PS está no Governo, a regra não se perde…
Infelizmente, porém, a regra não é exclusiva do PS e, pelo conúbio sempre existente entre o Poder Político e a suposta elite, seguindo sempre equivalentes práticas, seja de forma mais aberta e desabrida ou mais recatada e comedidamente, o certo é que os Portugueses também perceberam que tanto melhor quanto mais longe de uns e outros _mesmo que esse afastamento e independência sempre tenha os custos que todos sabem que sempre têm.
Isso é que é terrível e devastador, não é o «medo», como tampouco se poderá afirmar serem os Portugueses, por definição, um povo de «invejosos», como é moda dizer e «do medo ao sucesso» não deixa de dar igualmene eco.
Um povo que tem o sentido da caritas que o povo Português tem, como ficou bem demonstrado nos mais trágicos incêndios de Pedrógão e de Outubro de 2017, como ainda tão actualmente no caso de Moçambique, entre múltiplos outros exemplos, não pode ser, como não é, um povo invejoso.
Os Portugueses não têm dificuldade alguma em celebrar o sucesso e o êxito alheio mas, povo velho, desconfiam, desconfiam muito, sabendo que muito do sucesso e êxito que se quer fazer passar por genuíno, só muito raramente o é.
Sim, como Bruno Bobone também reconhece, os Portugueses têm virtudes absolutamente singulares e extraordinárias. Saibamo-las aproveitar e sigamo-lo quando afirma: «Só vejo uma maneira de alterar este estado de coisas: Portugal tem de reencontrar a sua razão de existir – a sua missão -, definir qual o seu lugar no mundo. Concluída esta tarefa, é tempo de delimitar objectivos para cumprir essa missão e elaborar um plano, um caminho para chegar a esses objectivos».
Não é difícil: basta sermos Portugueses, pensarmos em Português, ler, meditarmos quem, sendo Português, soube pensar Portugal em Português, e traçar o correspondente plano, assumindo também, de uma vez por todas, a primordial e crucial importância do Mar para Portugal, sabendo ser Portugal a verdadeira Nação Marítima que é para ser.
Não temos igualmente dúvida da respectiva sinceridade quando escreve: «…este meu livro tem, também, o objectivo de fomentar este tão necessário debate nacional. Não me arrogo de ser o dono da verdade ou de ter opiniões indiscutíveis. Mas não abro mão da minha responsabilidade em criar perguntas que necessitam de respostas e de apontar caminhos que podem ser trilhados. E de usar a minha experiência, conhecimentos e força para defender aquilo que considero melhor pra Portugal e, sobretudo para os portugueses».
Por isso mesmo, o que se nos afigura crítico, indispensável, é que, mais do que voltarmos a tudo pensar e discutir, como se nada houvesse sido alguma vez pensado e discutido, com a já plenamente demonstrada e provada capacidade de congregar esforços, de motivar almas e tudo conduzir à mais efectiva realização, Bruno Bobone, assumindo, igual e plenamente, a primordial e crucial importância do Mar para Portugal, pense, seriamente, na primordial, crucial e imperiosa necessidade de voltarmos a ter um verdadeiro Fórum Empresarial da Economia do Mar _ actualizando, naturalmente, o que houver a actualizar, mas partindo daí sem que seja imposta regressarmos há dez atrás, passe o pleonasmo, para tudo começarmos de novo.
Se assim for, se soubermos dar esse decisivo passo, o mais começará a vir por acréscimo… _ e talvez não tenhamos de voltar também a passar pelo constrangimento de ouvirmos o Senhor Primeiro-Ministro, numa cerimónia como a do baptismo do notável Paquete MS World Explorer do Grupo Mystic Invest de Mário Ferreira, nos estaleiros da West-Sea, em Viana do Castelo, onde não se vislumbrou a presença da Senhora Ministra do Mar, muito elogiar, com fundo e visível orgulho, a mais avançada indústria de «têxteis», «mobiliário» e tecnologia de «cutelaria» que o novo navio irá agora mostrar por esse mundo fora…
Director do Jornal da Economia do Mar
Post Scriptum:
Embora não sejamos especialistas em São Tomás de Aquino, não se afigura crível ter alguma vez definido a «Justiça» como «dar a cada um segundo as suas necessidades».
São Tomás, discípulo de Santo Alberto Magno e leitor atento de Aristóteles, a quem, como vulgarmente se diz, «cristianizou», terá, muito provavelmente, definido Justiça como «dar a cada um o que lhe é próprio».
Poderá parecer um pormenor, ou mera questão de pseudo-erudição, mas, no fundo, o que sucede é que, ««Dar a cada um segundo as suas necessidades», soa muito a «De cada de acordo com a suas capacidades, a cada um de acordo com as suas necessidades», que o Senhor Primeiro-Ministro também gosta muito de citar e se nos afigura uma definição igualmente tão estranha quanto inquietante… _ e sabemos o desastre que seria aceitarmos a aplicação de tão disparatado preceito ao «nosso Mar»…