Em 2040 esperam-se cerca de 30 milhões de novos casos de cancro anualmente e 16 milhões de mortes por doença oncológica, de acordo com o Global Cancer Observatory. A exposição a fatores de risco desempenha um papel importante.
Prevenir e diagnosticar o cancro o mais cedo possível reduz a mortalidade. A presença de sintomas da doença significa um estádio avançado, o que agrava o prognóstico. De acordo com uma revisão sistemática e meta-análise publicada em 2020, um atraso de 1 mês no tratamento em muitos tipos de cancro pode traduzir um aumento no risco de morte entre 6% a 13%.
Existem duas formas de prevenir o aparecimento de cancro ou de diagnosticá-lo precocemente:
- Prevenção primária: consiste em remover os fatores de risco mais frequentes, procurando evitar o desenvolvimento do cancro. Constitui uma estratégia particularmente custo-efetiva.
- Prevenção secundária: consiste na vigilância regular para identificar a doença antes do aparecimento dos sintomas, por meio de programas de rastreio, cujo principal objetivo é identificar lesões pré-malignas ou diagnosticar a doença oncológica em estádios iniciais. Infelizmente para várias neoplasias não existem programas de rastreio eficazes. Em Portugal existe rastreio oncológico para os cancros de mama, colorretal e colo do útero, para os quais a União Europeia estabeleceu uma meta não vinculativa de rastrear pelo menos 90% das pessoas em risco até 2025. Acesso a exames de rastreio, com cobertura alargada ao maior número de pessoas, pode evitar mortes prematuras, minimizar disparidades e diminuir os custos de saúde. No entanto, para que o rastreio se traduza em reduções na incidência e mortalidade por cancro, os sistemas de saúde têm de ser capazes de garantir o acompanhamento oportuno e adequado, investigação complementar e simultaneamente providenciar opções de tratamento adicional. É necessário e urgente investir não só na deteção e diagnóstico precoces, mas também na prevenção.
Hábitos de vida saudáveis baixam a prevalência de cancro. Adotar uma dieta saudável e equilibrada, que consiste em ingerir pelo menos cinco porções de frutas e vegetais todos os dias e manter um equilíbrio na ingestão de hidratos de carbono, proteínas e laticínios (ou alternativas aos laticínios) são fundamentais.
O consumo de álcool, o tabagismo, o excesso de peso/obesidade e exposição à luz solar (radiação ultravioleta) são dos principais fatores de risco potencialmente modificáveis para o aparecimento e desenvolvimento de cancro. A prevalência de alguns tipos de doenças oncológicas tem aumentado em países desenvolvidos, provavelmente devido ao incremento da obesidade e do consumo de álcool que se tem verificado desde o início do século XX. O consumo de álcool é uma das causas estabelecidas de pelo menos 7 tipos de neoplasia: cancro da cavidade oral, faringe e laringe, esófago, fígado, pâncreas, colorretal e mama.
Recomenda-se uma dieta pobre em carne vermelha e açúcar refinado para a prevenção, por exemplo, do cancro colorretal, juntamente com outras mudanças no estilo de vida, nomeadamente, atividade física regular.
A vacinação é essencial para proteger todos os doentes. A vacina contra o vírus da Hepatite B ajuda a proteger contra o cancro do fígado. A vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) é uma medida preventiva eficaz contra o cancro do colo do útero, entre outros. A Organização Mundial da Saúde estabeleceu que é possível erradicar o cancro do colo do útero até 2030 se 90% das meninas forem totalmente vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade, 70% das mulheres alvo de rastreio até os 30 anos de idade e 90% das mulheres com lesões pré-malignas e cancro do colo do útero forem tratadas.
Doentes com cancro não vacinados contra a COVID-19 e que adquiriram a infeção por SARS-CoV-2 tiveram quase sete vezes mais probabilidade de morrer. Daí que se recomende que os doentes oncológicos em tratamento recebam a vacina contra a COVID-19 o mais rápido possível. O estado de imunossupressão que a quimioterapia induz justifica também a administração das vacinas contra a gripe e contra a pneumonia.
Estima-se que os custos de saúde atribuídos ao cancro sejam superiores aos das 15 principais causas de morte em todo o mundo, colocando os sistemas de saúde sob uma pressão significativa. A crescente incidência de doenças oncológicas tem impacto nas famílias e na sociedade, é devastador de múltiplas formas, afeta a qualidade de vida, o bem-estar individual e a estabilidade emocional, origina perda de produtividade devido a mortes prematuras e ao afastamento do trabalho. Defender um maior investimento na prevenção e na deteção precoce é fundamental para ajudar a salvar vidas.
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