No seu mais recente livro – The Narrow Corridor: States, Societies and the Fate of Liberty(1) – Daron Acemoglu e James A. Robinson argumentam que uma vida em sociedade, ordeira, pacífica, inclusiva e em liberdade assenta num equilíbrio periclitante entre o poder do Estado e da Sociedade.

Recorrendo à figura do monstro bíblico, Leviatã, como representativo do poder do Estado e, numa atualização da tese de Thomas Hobbes (2), definem diferentes tipos de Leviatã.

Se o Estado fraco ou inexistente, característico de um Leviatã ausente, gera a anarquia ou uma Sociedade presa a normas arcaicas que limitam a sua liberdade e prosperidade, um Estado forte e sem mecanismos de controlo, denotando um Leviatã despótico, torna-se autoritário e antidemocrático.

Em última instância, o objetivo é ter um Leviatã agrilhoado, em que o poder de um Estado forte é contrabalançado por uma Sociedade robusta, informada e interventiva, o que não é fácil, pois decorre de uma luta constante entre ambos.

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Expostas de forma sucinta algumas das ideias deste livro, proponho-me a defender a tese que os Fundos de Capital de Risco (“FCR”), pelas suas características, podem contribuir para o fortalecimento da Sociedade e suas instituições.

Por FCR, refiro-me a fundos especializados de capitais públicos ou privados que através de uma sociedade gestora, composta por profissionais de reconhecida experiência, investem em participações minoritárias ou maioritárias em empresas, que cumprindo determinados critérios pré-definidos com os investidores de capital dos FCR, se afiguram como tendo potencial de alto crescimento.

Se por um lado os FCR têm um objetivo claro de obtenção de rentabilidade elevada para os seus investidores, num horizonte de tempo definido, a verdade é que os meios que normalmente permitem atingir estes objetivos originam um conjunto de externalidades que acabam por se refletir positivamente na Sociedade.

O FCR necessita de atuar sobre a Empresa adquirida, e transformá-la, de modo que após uns anos, quando a for alienar, esta seja percecionada pelo mercado, e potenciais compradores, como uma empresa mais robusta e valiosa.

Esta criação de valor normalmente assenta em elevados níveis de crescimento, investimento em capital fixo e humano e no desenvolvimento de uma cultura de rigor e exigência, de responsabilidade e melhoria contínua, de ambição e formação dos seus recursos humanos.

Ora, se as empresas são “feitas” de pessoas, então é expetável que esta cultura e forma de estar seja absorvida e adotada pelos seus colaboradores, seja dada a conhecer aos seus fornecedores e parceiros, e acabe, em algumas instâncias, por ser transposta para as suas Famílias. Isto porque, a vivência profissional, quando positiva, é uma experiência formativa que acresce à da Família e da Escola.

É assim que, de forma indireta, os FCR podem contribuir para o fortalecimento de uma Sociedade. E isto sem considerar os impactos positivos associados ao desenvolvimento económico inerente ao sucesso da Empresa adquirida.

Atualmente existem FCR Portugueses com os mais variados focos de investimento, seja numa perspetiva setorial ou por tipologia (crescimento, consolidação, reestruturação, financiamento, start up…) e detendo capital disponível para investir de muitas centenas de milhões de euros. A estes acrescem um número relevante de FCR estrangeiros já com investimentos em Portugal ou que no seu perfil de investimento, incluem Portugal.

De acordo com a TTR – Transaction Track Record (3) em 2021 o investimento de FCR em Portugal atingiu os 3.876 milhões de euros em 170 empresas, sendo que a setembro de 2022 o investimento totalizava os 2.895 milhões de euros em 92 empresas.

Resta-nos assim esperar que os FCR continuem a encontrar empresas em Portugal com as características certas e num ambiente económico propício ao investimento, contribuindo para uma economia saudável e vibrante, que permita manter uma Sociedade forte e interventiva na eterna luta de equilíbrio com o Leviatã.

(1) Edição portuguesa – O Equilíbrio do Poder: Estados, Sociedades e o Futuro da Liberdade – Temas e Debates
(2) Edição portuguesa – Leviatã – INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda
(3) Relatório TTR – Iberian Market 3T 2022 Portugal