O fenómeno da desigualdade económica, e suas consequências sociais, é uma preocupação premente, que tem ganho cada vez mais destaque no panorama político e económico.

Segundo o professor de História económica e social Walter Scheidel, ao longo da história apenas quatro fenómenos produziram uma redução acentuada da desigualdade económica: Guerra total, Revolução transformacional, Colapso do Estado e Pandemia, e assim o defende no seu livro – The Great Leveler: Violence and the History of inequality from the Stone Age to the twenty-first century.

Há que reconhecer que estas se afiguram como soluções a evitar, pelo sofrimento e dor que causam e porque o efeito nivelador se produz através de uma destruição de riqueza e não pela sua multiplicação e distribuição mais equitativa.

Dúvidas houvesse, nos últimos anos tivemos uma Pandemia Global e agora uma Guerra na Europa com contornos cada vez mais sombrios, e se em termos de nivelamento os resultados são contraditórios, em termos de destruição de valor para a sociedade são indiscutíveis.

Sem querer apresentar receitas miraculosas ou discutir medidas macroeconómicas complexas, acredito que o caminho alternativo para atingir este desígnio é apostar antes em fenómenos que promovem a criação de valor na sociedade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Neste capítulo concreto, os processos de fusões e aquisições de empresas liderados por Fundos de Capital de Risco (“FCR”) representam um contributo importante, até pelas externalidades positivas que geram.

Estas beneficiam de forma cumulativa as empresas envolvidas, os seus trabalhadores, a comunidade e o País, para além dos benefícios económicos que comummente se atribuem aos investidores diretos.

É que quando uma empresa é adquirida por um FCR, não são apenas os seus acionistas que mudam, mas também a mentalidade e ambição para a fazer crescer.

Fruto de um processo rigoroso de análise (o chamado “due diligence”) a nível financeiro, fiscal, comercial e legal são identificadas um conjunto de forças, fraquezas e oportunidades, sobre as quais são tomadas ações rigorosas que culminam na tão fundamental criação de valor.

Estamos a falar de uma racionalização de processos e práticas, que levam a uma sofisticação da forma de operar no mercado, sustentada em níveis mais elevados de formação e remuneração dos trabalhadores, investigação e desenvolvimento e investimento no aumento da capacidade produtiva.

A profissionalização da gestão, aliada a uma ambição de crescimento e músculo financeiro não só sustenta uma procura de novos mercados, além do mercado interno, como um aumento do nível de exigência aos seus fornecedores, gerando um ciclo virtuoso de desenvolvimento e maior competitividade nacional.

Esta não é uma solução global. Trata-se antes de uma constatação do efeito positivo de muitas e diversas decisões, não controláveis, por um variado conjunto de atores. Contudo é aí que se encontra o seu segredo: decisões tomadas com base num racional económico concreto e resultados definidos pelo mercado têm um impacto mais certeiro que medidas impostas administrativamente, devendo assim o Estado focar-se em criar condições propícias para um ambiente de inovação e crescimento.

Isto porque uma economia mais forte, com empresas dinâmicas e recursos humanos mais bem preparados, permite gerar condições mais adequadas para trabalhar sobre o nivelamento de eventuais desigualdades económicas que subsistam, a partir de uma base de crescimento e valorização, ao invés dos mecanismos de destruição de valor identificados, mas não recomendados, pelo professor Walter Scheidel.