A Igreja Católica terá, em 2025, no Beato Carlo Acutis um Santo “influencer”, um “puto com 15 anos” que partiu cedo demais, com uma leucemia.
Ser Santo é ser tudo menos perfeito, pois é nessa imperfeição que se consegue marcar a diferença. Carlo Acutis é o melhor exemplo disso. Conta a sua história que nem sempre foi um brilhante aluno, coisa que grande parte dos pais espera dos seus filhos. Como todo o rapaz, brincava e fazia os seus disparates, gostava de videojogos e futebol. Um rapaz que se distinguiu dos demais pela forma como encontrou a fé, como com a sua docilidade, simpatia e bom humor viveu o seu tempo, usando o gosto pela informática como meio de fazer o seu apostolado. A forma como enfrentou a doença que lhe tirou a vida, tornou-se um exemplo de esperança, levando à sua beatificação.
Apesar da sua juventude Carlo Acutis, deixou-nos 2 frases que são grandes lições para as empresas, famílias e políticos, e que devem servir para tornar o nosso Natal melhor.
“Todos nascemos originais, mas muitos de nós morrem como fotocópias.”
Nas Empresas
No início, cada empresa nasce com uma identidade e visão única, uma missão inovadora e uma cultura própria que a distingue das demais. No entanto, à medida que as empresas crescem e enfrentam desafios do mercado, muitas vezes começam a conformar-se com as normas e práticas já estabelecidas. A pressão para competir muitas vezes leva as empresas a adoptar estratégias e modelos de negócios já testados e aprovados por outras. Esse processo de adaptação pode ser necessário para a sobrevivência, mas também pode resultar na perda daquilo que a tornou original.
A lição é simples, as empresas devem esforçar-se para manter sua originalidade e autenticidade ao longo da sua existência. A verdadeira inovação e sucesso surge quando abraçam a própria identidade e não possuem medo de ser e fazer diferente, mesmo quando o caminho mais fácil, parece ser o de seguir e fazer o que já foi feito antes.
Nas Famílias
A frase de Carlo Acutis serve também para as famílias, que também nascem com uma identidade única. Cada família tem suas próprias tradições, valores e maneiras de se relacionar. No início, essas características são autênticas e reflectem a individualidade de cada um dos seus membros. No entanto, à medida que as famílias crescem e enfrentam as pressões sociais e culturais, muitas vezes começam a conformar-se com as expectativas externas. Um dos elementos anula-se em detrimento do outro. A busca por aceitação e a pressão para se encaixar, muitas vezes leva as famílias a adoptarem comportamentos e valores que não são originalmente seus. São as famílias que preferem a aceitação social num contexto onde o ser igual torna tudo banal, abdicando do sorriso sincero em detrimento da pose para a fotografia. Esse processo resulta na perda da autenticidade e da originalidade que torna a família única.
Aprendemos, que tal como os indivíduos, também as famílias, devem esforçar-se para manter sua originalidade e autenticidade. A verdadeira conexão e felicidade familiar advém de abraçar a própria identidade e de não ter medo de ser diferente, mesmo quando o caminho mais fácil parece ser seguir o que já foi feito antes.
Nos Políticos
A frase de Carlo Acutis é uma bonita lição, também para os políticos que iniciam as suas carreiras com ideias e visões únicas. Quando começam, cada político tem uma missão e uma paixão que os distingue, com propostas inovadoras e um desejo genuíno de fazer a diferença. No entanto, à medida que avançam nas suas carreiras, muitos políticos enfrentam pressões para se conformar com as normas e práticas estabelecidas. A necessidade de ganhar apoio, formar alianças e navegar pelo complexo cenário político leva muitos a adoptar posturas e políticas que já foram testadas e aprovadas por outros.
Como muitas pessoas acabam por se tornarem “fotocópias” ao seguir caminhos já trilhados por outros, muitos políticos perdem a sua essência original ao conformarem-se com o status quo. Deixam, pois, de inovar e de buscar novas maneiras de resolver problemas, tornando-se apenas mais um, no meio de tantos outros.
“Por que os homens se importam tanto com a beleza do seu corpo e não se preocupam com a beleza da sua alma?”
Nas Empresas
Esta frase é uma metáfora para as empresas que investem significativamente na sua imagem externa e corporativa, mas que depois negligenciam a importância de prácticas internas que chocam com aquilo que apregoam. Um exemplo disso foi publicado num artigo do Observador em 2019. Alguns gigantes mundiais, com uma imagem enquadrada em empresas “sexy e sustentáveis” usavam na construção dos seus produtos matéria prima oriunda de cadeias de produção assentes em trabalho infantil.
Aplicar essa frase às empresas é um convite para que estas olhem além da sua superficialidade e invistam também em valores internos, e que enquadrem esses mesmos valores nas suas cadeias de produção, criando deste modo uma base sólida e respeitável que sustente uma boa imagem genuína e duradoura, aliada a um compromisso genuíno com a responsabilidade social.
Nas Famílias
Nas famílias, esta frase obriga-nos a reflectir sobre a importância de nutrir o interior, acima de uma fachada de mera aparência. A frase indica-nos que o foco dos casais muitas vezes está apenas no aspecto exterior que transmitem, deixando de lado a verdadeira essência das famílias, aquilo a que alguém brilhantemente designou de conexão. Existem as famílias perfeitas nas fotos, cuja sala está sempre arrumada, cujo os casais procuram com a ordem preencher o vazio que encontram naquilo que (não) sentem, são as famílias dos “to dos”, que têm agendas preenchidas com viagens em modo de excursão, com idas às compras, ou com a constante agenda ocupada entre a recolha dos miúdos na escola, ou o levar ao treino do futebol, no caso dos rapazes ou do vólei no caso das raparigas, as idas ao fim de semana para a casa de praia ou do campo, são as tarefas que ocupam o tempo na esperança de não pensarem no vazio que muitas vezes é preenchido com o tempo ocupado.
As famílias podem encontrar nessa frase, uma lição de que a desarrumação da sala, a fotografia mal tirada, a visita a um jardim ou a surpresa de um simples piquenique, conecta muito mais os casais, permitindo-os ser uma família, onde os “to dos” são simplesmente afazeres que não ocupam o sentir, pois o tempo é e será sempre deles. Esta lição ensina-nos a diferença entre o ter uma família e o ser uma família.
Nos Políticos
Nos políticos, na busca pela popularidade, muitos políticos são tentados a propor medidas e a tomar decisões baseadas no que é popular ou no que pode garantir sua (re)eleição, ao invés do que é moralmente correto ou benéfico a longo prazo para a sociedade. Essa busca pela “beleza do corpo” reflecte-se em ações superficiais destinadas a agradar os eleitores temporariamente.
A verdadeira “beleza da alma” para um político deve residir no seu compromisso com o bem comum, agindo com integridade e visando o bem-estar de todos os cidadãos, mesmo que isso signifique tomar decisões impopulares.
Neste Natal, tenhamos no Beato Carlo Acutis um bom exemplo. Olhemos uns para os outros como únicos, troquemos prendas que se tornem presentes, não pelo que custam, mas pelo que representam, seja um simples boneco de plástico que apesar de usado tem um grande significado para quem o dá, ou seja um cachecol que simboliza o calor de uma avó, que conforta o coração do neto que o recebe. Sintamos o Natal como celebração do melhor que somos e não do que temos. Sigamos o exemplo de Santos que não foram perfeitos, mas que viveram com perfeição o cuidado com o próximo.