Este ano, um estudo realizado pela Web Summit revelou que 49,5% das mulheres que trabalham no setor tech já sentiram discriminação de género e que mais de metade considera que recebe um salário injusto. Na Europa, apenas 18% a 30% de especialistas em IT são do sexo feminino e há uma diferença salarial significativa entre homens e mulheres. Infelizmente, este não é um cenário novo. A questão é como podemos ainda ter números tão significativos em 2022? Como podemos contribuir para a mudança?
A mudança começa em cada um(a) de nós. Começa também em cada empresa que pode escolher fazer/ser diferente, até o diferente se tornar o normal.
Uma estratégia de igualdade de género origina resultados muito palpáveis e benéficos para as mulheres da empresa. Inspirada por esta realidade, e confiante que cada empresa/pessoa pode adotar ações concretas que farão a diferença, partilho os passos e dicas de como criar uma comunidade de mulheres numa empresa tecnológica.
Cinco passos para a criação de uma women’s community
1 – Identificar os problemas existentes. Como em qualquer projeto ou plano de negócios, o primeiro passo é sempre olhar à nossa volta, mas desta vez com olhos de ver. Os problemas existem e são reais. Alguns exemplos: diferença salarial, engagement, segurança e diferença cultural.
2 – Definir objetivos claros. Depois de se ter aferido o cenário atual, há que definir objetivos claros da comunidade, como por exemplo: implementar uma abordagem sensível ao género em todos os processos da empresa; promover igualdade de género na empresa e comunidade; criar locais de trabalho livres de discriminação.
3 – Criar um grupo de trabalho interdepartamental. Esta não é uma missão apenas de um departamento ou da área de RSO da empresa. O trabalho interdepartamental irá promover novas ideias e tornar esta numa causa comum e transversal a toda a empresa.
4 – Desenvolver um plano de ações. Após ter sido montada a equipa, há que começar a desenhar um plano de ações que pode envolver diversas atividades, tais como: lançar uma plataforma de comunicação para especialistas do sexo feminino para impulsionar o seu crescimento pessoal e profissional (um espaço seguro no Teams ou Slack de partilha de conhecimentos, ideias e apoio); organizar eventos e dar oportunidades às mulheres para se tornarem speakers ou mentoras; promover reuniões e conversas sobre tech lideradas por mulheres; cooperar com comunidades e associações externas à empresa com objetivos comuns; criar políticas relevantes para proteger os direitos das mulheres, promover a igualdade de género e agir contra a violência.
5 – Medir os resultados. Após a implementação das atividades, há que medir o seu retorno. O primeiro passo é sempre conversar com as mulheres da empresa e ouvir o que estas pensam/sentem. Depois é importante perceber:
- Como está a ser o crescimento da comunidade e quantas mulheres já aderiram?
- A percentagem de especialistas do sexo feminino aumentou?
- A percentagem de mulheres em cargos de liderança está a crescer?
- O gap salarial está a diminuir?
- Quantos eventos foram criados pela comunidade?
- Quantas mulheres foram convidadas para conferências externas?
- Quantas parcerias foram estabelecidas com associações externas?
Como podemos ver, muitas vezes a mudança começa por gestos simples que estão ao alcance de todas(os).
Conselhos para uma women’s community eficaz
1 – Escutar, falar e envolver as mulheres no projeto de uma forma muito pessoal e próxima.
2 – Suportar o projeto com um plano de comunicação intensivo e com campanhas diferenciadoras (internas e externas).
3 – Tornar a comunidade aberta a todas(os) que querem partilhar novas ideias e atividades.
4 – Estabelecer parcerias e envolver a empresa em atividades externas de igualdade de género.
5 – Ser consistente.
Conclusão: As women’s communities são uma excelente oportunidade para as empresas tech se tornarem num empregador de oportunidades iguais e prepararem o terreno para que as mulheres atinjam seu potencial por meio de um trabalho empolgante e decente na área tecnológica.
A Bianca trabalha na área de employer branding há cerca de 7 anos, tendo agora o desafio de conduzir campanhas de branding e comunicação no mundo tech, de forma a ativar a Intellias no mercado nacional e espanhol. Para além da paixão pelas marcas e pelas pessoas que as constroem todos os dias, a Bianca está a tirar o PhD em Ciências Empresariais.