O embondeiro é uma árvore de grande porte que pode viver por muitos e muitos anos. Infelizmente, e por motivos que ainda são em grande medida desconhecidos, há vários embondeiros que estão a morrer em África mantendo-se na paisagem, sem que seja fácil retirá-los. Em Angola, como em outras geografias, a remoção de árvores de grande porte é uma tarefa que exige perícia e inteligência: começa-se cortando os ramos, depois o tronco e, no final, é ainda desejável retirar as raízes que se encontram dispersas debaixo da terra. Não é incomum ser necessário enfraquecer as raízes, troncos e ramos, mesmo quando a árvore já morta, mantém a solidez da sua estrutura. Uma árvore de grande porte é mais perigosa porque já depois de morta, pode destruir casas, estradas, viaturas, pondo em perigo, até, vidas humanas.
Na minha infância assisti à remoção de um grande embondeiro moribundo que, já desfalecido, se traduzia num grande perigo para as famílias que viviam nas suas imediações. Recordo as palavras sábias do mais velho que, liderando a operação de remoção, dizia aos mais novos: “temos de saber ouvir a natureza, pois se é ela que nos alimenta, se não a respeitarmos, ela também nos pode matar”. Com mestria, a árvore foi retirada sem consequências de maior, deixando um espaço vago para que ali se construísse um Futuro.
Apesar de continuar a pairar na paisagem, a atual governação está a secar e a esgotar toda a água da nascente em que se alimenta. Foi derrotada pela sua própria atuação, e castigada nas urnas pelo Povo. A democracia, mesmo quando fragilizada por uma árvore que se deixou envenenar até às raízes, precisa ser defendida. Para construir o Futuro, com fundações democráticas, precisamos de salvar a nascente e colocá-la ao dispor do espaço público, que é de todos. Nos últimos dias recebi de vários quadrantes recomendações várias sobre a forma de remover esta árvore que finge estar viva e ter o apoio de um Povo que a despreza. A todos, o que vos tenho para dizer é que desmontar um regime que se instalou há décadas obriga-nos à mesma paciência e a inteligência que se exigem ao abatimento e remoção de árvores que perderam as suas raízes.
O partido Estado que há 46 anos domina a governação teima em não aceitar a sua derrota e a vontade de todo um Povo. A sua morte eleitoral torna-os ainda mais perigosos, não olhando a meios para se perpetuarem na paisagem. O caminho que fizemos até hoje tem sido exemplar. Resistimos à falta de liberdade de imprensa, a perseguições e prisões arbitrárias, à manipulação do poder legislativo e judicial, à não publicação dos registos eleitorais, à viciação da lei das sondagens, ao uso indevido dos dinheiros públicos em benefício do partido-Estado. O governo e o Estado partidário fizeram uma campanha vergonhosamente faustosa num país pobre e cheio de dificuldades. Resistimos às provocações de um Governo que nas últimas semanas desfila nas ruas um poderio militar desproporcionado, com tanques, carros blindados, lança mísseis, como se estivesse em guerra contra o seu próprio Povo. A recusa da contagem dos votos por confrontação das atas síntese disponíveis, foi o corolário de um processo que só serviu para que hoje seja claro para todos os angolanos – mas não apenas –, que o roubo do voto ocorreu, e que nem mesmo dentro das regras que o próprio regime definiu, a UNITA deixou de ganhar.
O que está em causa, porém, não é sequer a UNITA ou o seu presidente, é algo bem maior. A expressão da vontade de mudança é enorme. Sei que uma expressiva maioria da sociedade, de todos os extratos, de todas as idades, olhou para mim como a corporização da Esperança. Essa forte expressão de mudança manifestou-se em todas as províncias, dos que concordam comigo, dos que nem sempre subscrevem as minhas opções, dos que estudam, dos que gostariam de estudar mas não podem, dos que vendem nos mercados, dos que lavram a terra, dos que pescam nos mares e nos rios, dos que se esforçam nas minas, dos que nos seus escritórios organizam os seus serviços, dos que rezam, dos que choram, dos que contêm a sua raiva porque amam a Paz, dos que têm medo, dos que dormem nas ruas, dos que não tiveram força ou poucos kwanzas para irem votar, dos que passam fome e até dos que são obrigados a desfilar nas ruas o poderio militar com que João Lourenço quer intimidar o seu próprio Povo. Todos no seu íntimo desejam uma Mudança, e sofrem no seu ânimo com a perpetuação do roubo.
Vivi todo esse apoio com uma enorme humildade, serenidade, alegria e sentido de esperança. Sei que muitos gostariam que nos precipitássemos nesta nossa caminhada, desde logo, muitos dos que nos apoiam, que anseiam legitimamente que o Futuro já tivesse ocorrido, mas não ignoremos, tudo o que o regime deseja é poder ter motivos para praticar massivamente a violência e espalhar o medo. O desfile de armamento que temos visto nas ruas da capital nas últimas semanas não é inocente, e é nossa responsabilidade prosseguir, firmes, serenos, inteligentes, no processo de desmantelamento do roubo dos votos. A busca do diálogo deve ser uma constante, mesmo que esbarre na tradicional arrogância.
Nesta caminhada, tudo tem o seu momento. Este sábado chegou a hora de enchermos a rua com a nossa alegria, com as nossas músicas e orações, velhos e novos, em família, com os amigos, vamos celebrar a soberania do Povo e honrar a democracia. Uma vigília pela paz e pela democracia, vestidos de branco, com lenços brancos e de outras cores também, dizendo NÃO à violência, todos seremos poucos para mostrar ao Mundo não ser possível adiar aquilo que é a vontade massiva dos angolanos. Por Angola continuaremos a lutar.
É na força da Democracia que iremos abrir o espaço do Futuro. Cortando os ramos, o tronco, até às raízes, metódica e serenamente. Confiem em nós. Confiem em mim.