I Contexto da comunicação da fase de normalização

Estava escrito que viria o dia do confronto com a realidade. Como ultrapassar a fase do pânico induzido pela central de propaganda: “fique em casa”. Como se passa para o “é seguro sair à rua” da dupla PM/PR. Não bastará, certamente, colocar o editorial do Expresso a debitar “a hora de perder o medo”, sem antes ter de explicar porque foi induzido. Mesmo que a maioria possa nunca vir a ter condições para se questionar, entendemos ninguém gostará de vir a descobrir, no futuro, que foi tratado como um vulgar carneiro de Panúrgio.

Uma questão prévia a considerar prende-se agora com o impasse a que a comunicação não verbal inevitavelmente conduziria. Com máscara, sinal de que o perigo existe e que está em todo o lado, até (oh cúmulo do ridículo!) nas praias? Ou sem máscara, sinal de que o perigo já está para trás? Mas se os comportamentos das pessoas não forem conformes (a quê?) não se hesitará em voltar atrás, disse o PM e repete, dia após dia a ministra da Saúde. Mas então em ficamos: é seguro ou perigoso “desconfinar”? Ficarmos todos a “desconfiar” não augura nada de bom para o futuro.

[Efetivamente, o governo (ou parte dele) pode estar confortável com a sua estratégia de desconfinamento. Mas, nesse caso, porque é que continua a confessar que segue a OMS, quando esta continua a alertar o mundo para os cuidados a ter: “o pior está para vir”, foi a frase repetida à exaustão. Tal alerta voltaria a ser martelado quando, nos finais de abril, a mesma OMS observava horrorizada o gradual levantamento de restrições, antes tão zelosamente impostas. Efetivamente, se agora estávamos em presença de números equivalentes aos de março, altura inadiável para impor a queda abrupta da economia, porque desconfinar? Algo está muito confuso em tudo isto! Como esperar que o povo adira, sem perplexidade, a uma tal estratégia comunicacional? Ou será que já alguém, nas instâncias do poder, deu conta de que algo não deveria ter sido feito de maneira amadorística como foi? Colocar o doente em coma induzido implica saber como irá ele retomar a vida nas suas mãos.]

O mais certo, pois, é que iremos continuar todos de barrete enfiado. Porventura, em alternativa ao barrete, a máscara deveria passar para a cabeça, pois o perigo estará, a partir de agora, no retorno do pensamento crítico.
Que tragicomédia é esta sem fim à vista? Para quando um balanço sério das estratégias nacionais de combate ao SARS-CoV-2 e, sobretudo, da “estratégia de comunicação” que a Academia portuguesa se absteve, inconscientemente por certo, de criticar, confinando-se, na sua quase totalidade, a um silêncio ensurdecedor, na sequência do “ralhete” feito ao Prof. Jorge Torgal. Foi gerada, nestes meses de março, abril e maio de 2020, uma calamidade multidimensional a qual se irá abatendo, sem dó nem piedade, sobre o nosso povo ainda aterrorizado, nestes dias da terceira semana de maio.

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II Formulação do problema da curva descendente da doença

Desde meados de março, o confinamento ajudou a dar-nos tempo para uma pesquisa mais aprofundada sobre o que se passava no mundo da dita “pandemia”. Ficámos sem palavras. Uma interrogação nos inquietava: será que a Covid-19 não passava de uma oportunidade soberana para se proceder ao ensaio geral de uma estratégia de comunicação orquestrada? Mas ao serviço de quem? Parecia estar ao serviço de uma reorientação estratégica “definitiva” dos oligopólios farmacêutico-financeiros globalizados.

Se assim era, propusemo-nos, com urgência, a tarefa da passagem da fase de ventilação à fase de autópsia deste nado-morto, a Covid-19. Em face das evidências questionámo-nos, vezes sem conta, sobre que modelos científicos temos ensinado nas escolas superiores e como foi possível que a quase totalidade da Academia portuguesa se deixasse arrastar num alinhamento acéfalo, sem atender aos dados disruptivos que estavam em face dos nossos olhos? O problema complexifica-se tanto mais quanto ele já dura há meses, deixando que o povo ficasse submetido a modelizações matemáticas, adaptadas a uma realidade física estável, mas completamente inadaptadas a uma realidade sistémico-dinâmica como a do contágio pelo SARS-CoV-2?

III Questões pertinentes

Escrevemos, desde o primeiro texto, que se exigia à ciência que estivesse muito particularmente atenta a todos os factos disruptivos. Procurámos alertar para que nunca se deixassem embarcar em pseudoexplicações que propugnavam explicitamente pelo “atentismo”, vendo-se atacar, a todas as horas, todas as soluções terapêuticas disponíveis com base nas moléculas conhecidas (mais de 30.000). Que estratégia de comunicação era esta que recomendava prudentemente que se esperasse por um remédio milagroso ou por uma vacina, que a Big Pharma, tão “generosamente” e tão “colaborativamente” nos haveria de oferecer, lá para meados de 2021?

[A nossa posição parece não ter em conta os milhares de investigadores que em centenas de universidades de todo o mundo. A questão relevante que se coloca, porém, é a de quem controla os meios de produção, as marcas e os procedimentos de aprovação ou de controlo de segurança das mesmas futuras vacinas. Mas, acima de tudo, quem controla a legislação que poderá vir a impor a obrigatoriedade da toma da vacina a quem se queira dirigir aos EUA, ou mesmo a queira andar de avião. Delírio? Insistimos em que fique registado, não sem antes levantarmos, enfim, a questão de qual o melhor líder que nos EUA estará disponível para promulgar uma tal legislação. É que poderemos ter uma surpresa!]

Analisemos os factos disponíveis desde o dia 13 de março, o nosso verdadeiro momento zero em termos de pesquisa, e que infirmavam a “inevitabilidade” da “estratégia” recomendada pelos “conselheiros” enfeudados à Big Pharma. Quais os factos, insistimos, de dispúnhamos? Sabíamos, efetivamente:

  1. Que o “estudo” de Niel Ferguson [o único aspeto que reputamos relevante do modelo, mas que passava despercebido aos repetidores de “informações”, era de que a pandemia desenhava uma curva de Gauss quase perfeita, sem espaço para uma “temida” 2ª vaga] era prova de uma total irresponsabilidade, pois sendo particularmente alarmista, não fornecia as bases de uma réplica séria, facto que não passaria despercebido à Agência Governamental da Saúde na Suécia, país para o qual o dito modelo previa 70 mil mortos sem confinamento (morreram até agora, 3.674);
  2. Que este coronavírus não era novo (no sentido de desconhecido), ou seja, já era suficientemente conhecido quanto à gravidade, à natureza sazonal (em curva de Gauss) e quanto ao tratamento ele já estava disponível, como adiante se mostrará a partir de novos dados relativamente aos expostos no primeiro trabalho;
  3. Que o SARSCoV2 apenas atacava, com muita gravidade, as pessoas fragilizadas (portadoras de co-morbilidades) e os idosos, os quais deviam ser devidamente protegidos (em confinamento voluntário, após informação cuidada), pelo que toda as pessoas em idade ativa poderiam manter as suas ocupações normais, desde as creches às escolas, desde os serviços às fábricas;
  4. Que não havendo vacina no horizonte, havia que criar uma barreira de proteção, pelo recurso ao princípio da imunização ancestral, devendo para tal ser preparada uma linguagem baseada na informação científica contrastada e não num alinhamento baseado unicamente no medo do contágio;
  5. Que não havendo tempo para uma cuidada preparação, era necessário inspirar-se no que se sabia e, logicamente, corrigir o que correra mal nos casos precedentes de Wuhan, na China e da Itália do Norte, de Paris e de Madrid;
    6. Que imitando a estratégia francesa, espanhola e italiana, o governo português desprezava, efetivamente, as estratégias do centro e norte da Europa, sem confinamento (Islândia, Suécia e Países Baixos), ou com confinamento moderado, com hipótese de retoma económica muito mais facilitada;
  6. Que dois dos institutos de virologia do mundo (Lovaina e Marselha) apontavam a molécula da Cloroquina (caída há muito no domínio público), com resultados eficazes desde a primeira hora no Hospital Universitário de Marselha; 8. Que a eficácia da estratégia do confinamento recebeu uma poderosa objeção por parte de um grande estudo (divulgado em 14/5) pela Universidade de Carlos III e pelo próprio Ministério da Saúde, envolvendo mais de 60.000 casos, e que conclui que foram contagiadas, em percentagem mais elevada, as pessoas em regime de teletrabalho do que em atividades fora de casa;
  7. Que a OMS, mesmo com as suas orientações no mínimo erráticas, ainda nunca recomendou o confinamento como estratégia (este seria impraticável em África ou na América Latina, por exemplo).
    Quanto à eficácia da estratégia do confinamento, baseada no medo, poderíamos concluir com uma frase lapidar: “estamos conversados”. Há, entretanto, outras notas a acrescentar, ainda.

IV Novos dados relativos a diversos casos que infirmam a estratégia de confinamento obrigatório, seguido nos países latinos.

  1. Num primeiro apontamento, sublinhe-se que o presidente Macron decretou o confinamento depois de ter consultado Niel Ferguson, apoiado por dez conselheiros científicos (todos ligados à Big Pharma). Temeu, confessa, os 500.000 mortos no seu país que o “cientista” britânico avançava. Note-se que, entretanto, o presidente francês nunca viria a corrigir a atitude de atentismo face à expectativa dos novos medicamentos e das vacinas prometidos pela Big Pharma, tendo chegado ao extremo do zelo de proibir os médicos de prescreverem a Cloroquina ou seus derivados. Sabe-se, agora, que houve mais mortos em Paris do que em Wuhan (cidade com população equivalente à da capital francesa e que sofreu a primeira vaga da pandemia, quando nada se sabia dela). Ainda na França, a região cuja capital é Marselha (Provença-Alpes-Costa Azul) teve cinco vezes menos mortos do que a região de Paris, sendo os óbitos, de entre os doentes tratados no Hospital Universitário de Marselha, de apenas 0,5%.
  2. Em segundo lugar, é possível, desde já, proceder, igualmente, a uma comparação entre resultados de estratégias de combate à Covid-19 de três países com população equivalente: Suécia, sem confinamento (cerca de 3.674 mortos), Portugal (1.277) e Bélgica (8.380), com confinamento. Alguém consegue ver a lógica da eficácia da estratégia seguida? Não seria de alguém se interrogar, enfim, sobre a forma como é que os respetivos serviços de saúde lidaram com as patologias não-Covid-19, como a Suécia desafia a clarificar (esta explicação é relevante e urgente dado que as doenças oncológicas e cardiovasculares, as duas que mais pessoas matam, não respeitam as “férias” da Covid-19)?
  3. Comparem-se, ainda, os dados relativos a dois países de população equivalente (16/17 milhões) e com graus de desenvolvimento diametralmente opostos e ambos sem confinamento: Senegal5 (com um total de 26 mortos) e Países Baixos (com um total de cerca de 5.000 mortos). Perguntamos, uma vez mais, onde está a lógica de causalidade entre confinamento e eficácia de combate à Covid-19? [Para toda a África (cerca de 2 mil milhões de habitantes em 54 países) contabilizam-se cerca de 2.500 mortes por Covid-19. Recorde-se que as mortes por malária, em África, para o ano de 2018, foram de cerca de 350.000, número bastante inferior ao das mortes por Covid-19 no mundo inteiro (cerca de 320.000). As doenças dos pobres não parecem ser notícia de primeira página ou de abertura de telejornais.]
  4. Os números (reportados) de contágio da Covid-19, ao dia, em todo o mundo, de acordo com uma universidade de Singapura (a Singapore University of Technology and Design), descrevem uma curva de Gauss praticamente perfeita, independentemente das estratégias de confinamento (ou da sua ausência).

Como é que alguém de bom senso consente na evocação de um pretenso “milagre” português? Acaso querem convencer-se de que o governo português foi mais eficaz na estratégia de confinamento do que os países congéneres, como a Bélgica, a Espanha, a França ou a Itália? Ou será que a diferença dos números (e aqui envolvemos a questão da África, que com os seus números verdadeiramente impressionantes, teria beneficiado não só da generalização da BCG como da Cloroquina, tomada em doses elevadas para o combate à malária, como temos vindo a admitir em anteriores artigos) se deverá antes ao facto de a BCG ter sido obrigatória em Portugal, entre 1965 e 2017, ao invés dos outros quatro países mencionados?

V Conclusão

Os dados iniciais e reportados até agora permitem retirar no mínimo três conclusões da máxima relevância: que o governo português devia pedir desculpa pela estratégia de destruição da economia e por ela se responsabilizar integralmente perante as empresas em ruína e pelo desemprego criado; que a estratégia da Big Pharma é perigosíssima e que esta estrutura tem poder (como demonstrou) para confinar o mundo inteiro e colocá-lo de joelhos perante os seus “deuses”, se as forças conjugadas da defesa da liberdade dos cidadãos lhe não conseguirem fazer frente; que as forças que pugnam pela estatização da economia já não metem qualquer medo aos poderosos interesses deste novo mundo.

Quem, de bom senso, diria há uns meses atrás, que os atuais inimigos dos novos senhores do mundo (designadamente a Big Pharma), seriam, não já os defensores da economia estatizante, mas antes homens e países como a América de Trump, o Brasil de Bolsonaro, a Índia (da fabricação em larga escala da hidroxicloroquina e dos medicamentos genéricos) ou alguns poucos cientistas defensores da qualidade ou da reutilização das moléculas caídas no domínio público, como o Prof. Didier Raoult ou os virologistas da Universidade Católica de Lovaina. Restarão algumas franjas de cientistas não alinhados com a “ciência” médico-farmacêutica obediente e agradecida, mas é em torno deles que a resistência vai ter de se organizar, como afirma Shiva Ayydurai, do MIT. Não sabemos que futuro estamos a ver construir, mas a informação livre (infelizmente, agora, mais as redes sociais do que os media tradicionais) e a ciência baseada no espírito crítico serão certamente os seus melhores esteios.

Lisboa, 21/5/2020