A época Natalícia é reconhecida pela presença de celebrações, encontros familiares e de amigos. No polo oposto existem também os momentos de solidão, vulnerabilidade e fragilidade. Estes emergem de forma avassaladora para quem necessita de cuidados de saúde.

O Inverno deu o ar da sua graça e, de forma repentina, aumenta a procura das pessoas pelos serviços de urgência devido às doenças sazonais, prolongando os tempos de espera e levando a um aumento do número de pessoas internadas. Este é um cenário frequentemente evidenciado em declarações públicas e reportagens, que destacam os desafios enfrentados pelos profissionais dos serviços de saúde.

É neste quadro que os enfermeiros se afiguram como peças fundamentais, oferecendo não apenas cuidado técnico, mas também conforto humano, dedicação e compaixão.

Não será o Natal um convite a um momento de reflexão sobre a importância da compaixão nas relações humanas?

A palavra “compaixão” tem na sua origem etimológica “sofrimento comum, comunhão, participação, simpatia” (Primeran, 2024), sendo reconhecida como uma virtude, que nos permite desenvolver atitudes, hábitos considerados essenciais para o bem-estar individual e coletivo, guiando simultaneamente as nossas ações e decisões alinhadas com o bem maior.

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É através da compaixão que os Enfermeiros desenvolvem a capacidade de reconhecer e sentir a dor ou o sofrimento de outra pessoa, acompanhados de um profundo desejo de aliviar ou amenizar esse sofrimento, refletindo bondade, cuidado e solidariedade, frequentemente associada à conexão humana e à vontade de fazer o bem, especialmente em situações difíceis.

A Enfermagem, ao equilibrar o conhecimento técnico e os valores humanistas, contribui significativamente para uma prática que respeita a integridade do ser humano. Ao atribuir relevância à compaixão e à empatia, traduzindo-os em pilares para a qualidade dos cuidados, estamos a trazer valor aos cuidados de Enfermagem.

Enquanto muitos comemoram junto das suas famílias, os Enfermeiros estão ao lado daqueles que enfrentam a fragilidade da doença. A sua compaixão manifesta-se nos pequenos detalhes: um sorriso encorajador, um toque reconfortante, palavras de conforto, gestos de carinho ou mesmo na disposição de ouvir histórias de vida e sonhos de quem está em recuperação. Estas simples ações têm o poder de transformar a experiência com os cuidados de saúde em algo menos solitário e mais humano, promovendo o vínculo mais profundo entre o Enfermeiro e a pessoa doente, reforçando a confiança, o conforto e um ambiente de cuidado mais acolhedor, garantindo assim uma melhor qualidade dos cuidados prestados.

Contudo, a apesar da dedicação destes profissionais de saúde, o cuidado durante as festividades é um lembrete poderoso de que a humanidade deve estender-se também a todos os que trabalham nesta época festiva. Esta é, muitas vezes, um período exigente, marcado pelo cansaço físico e emocional, pelo compromisso com as pessoas doentes, pela submissão a pressões adicionais, como as elevadas cargas de trabalho, mas também por limitação dos recursos humanos disponíveis.

A sociedade desempenha um contributo fundamental na utilização responsável dos serviços prestados nas instituições de saúde e no reconhecimento do trabalho dos profissionais de saúde em momentos críticos. Este envolvimento contribui para uma gestão eficiente do sistema de saúde e para a união da comunidade em prol de soluções coletivas, refletindo o compromisso com os apelos transmitidos pelos canais de comunicação formais e informais à população.

Para que esta dinâmica funcione de forma eficaz, é indispensável que a utilização dos serviços de urgência seja feita com responsabilidade, evitando a sobrecarga das unidades de saúde. Paralelamente, é essencial que os profissionais de saúde orientem as pessoas doentes quanto às alternativas disponíveis, promovendo um atendimento mais eficiente e equilibrado.

Outro especto relevante é a sensibilização da população para o respeito do esforço e da dedicação dos profissionais de saúde, incluindo os Enfermeiros, o que envolve evitar agressões verbais ou físicas, bem como colaborar com as medidas adotadas pelas unidades de saúde, reconhecendo o seu valor e contribuindo para um ambiente mais harmonioso e produtivo.

Os Enfermeiros, frequentemente reconhecidos como os guardiões silenciosos do espírito natalício, ocupam uma posição privilegiada no cuidado às pessoas que mais necessitam em momentos especiais, como as festividades. Contudo, não deveria essa dedicação ser acompanhada de maior reconhecimento e valorização?

Reconhecer as exigências e desafios enfrentados nestas épocas é essencial, especialmente por parte dos líderes. Isso inclui a adoção de medidas que melhorem as condições de trabalho, ofereçam suporte à saúde mental e ao bem-estar dos profissionais, garantindo que seu esforço seja não apenas reconhecido, mas também apoiado e operacionalizado de forma concreta.

Um sistema de saúde humanizado não nasce apenas do esforço dos seus profissionais, mas do compromisso coletivo de cada um de nós em construir uma sociedade mais justa, compassiva e atenta às necessidades dos outros. Que este espírito nos guie, não apenas nesta época festiva, mas ao longo de todo o ano, para que a compaixão continue a ser o alicerce das nossas relações humanas.